Comer e beber na maturidade
Freud parece que brota na mesa para nos fazer encaixar em padrões. Eu rio baixinho. Zombo dele até que me dou conta que preciso sim de um meio termo
Peguei carona no prêmio de gastronomia promovido pela Veja Rio, o Comer e Beber, para refletir sobre desejos e sabores da idade madura. Oscilo entre compulsão alimentar – aquela vontade de me entupir de tudo, sem freio, sem critério, sem medida nem consequencias – até ânsias de vômito com medo de tudo que a maturidade pede para eu maneirar. Não pode isso, aquilo, aquele outro. E não me refiro apenas às comidas e bebidas. Falo de gente. De pulsão. Aquele olhar 43 que eu preciso me desviar para que não cause uma autofagia. Sinto falta de mim, do que eu era, do que eu poderia ter sido. E me imponho um regime, sem canetinhas, a fórceps mesmo, no qual eu me limito de tudo. Só o essencial basta. Sono, verdura, meditação, massagem. Que chatice. Sou de intox então abandono esse plano e me jogo nas panelas. Gosto de me melecar na abundância e bebo a vida em grandes goles. Outrora ouvi de um peguete amargurado: Tu, só fazes fezes. Eca! que falta de gentileza mas sabe que prefiro essa descarga do que a economia de sentimentos. Gosto de arder. O morno não me sacia e fazendo uma comparação com os mastigos, feijoadas valem mais do que sopas. Joelho, rapadura, frituras, suspiros – sou todinha deles. Não me contento com calorias contadas em uma balança restritiva. Meu prazer é a gula e engulo a vida como quem se vê canibal. Rasgo a carne, sugo o sangue, extirpo as tripas e depois vejo o que fazer com o banzo de tantos excessos. E nessa fase dos 60 anos, a conta chega. Há uma moldura limitante que nos faz caber em caixinhas restritivas. Melhor não comer tanto. Você está descontrolada e desconta na comida esse vazio. Está bebendo demais e vai se afogar em lágrimas depois. Freud parece que brota na mesa para nos fazer encaixar em padrões. Eu rio baixinho. Zombo dele até que me dou conta que preciso sim de um meio termo. Não sei qual a medida certa. Sempre fui boa de boca e pago o preço por essa rebeldia. Seja no tamanho da cintura ou da língua. O fato é que me gosto roliça, com parte pegáveis, com aroma de pêssego aveludado e um escárnio à la Deméter, a deusa da fertilidade e da colheita. Farejo de longe o sabor da vida. Se me tiram isso viro alface. Garçom, posso ver o cardápio?
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