Sem tabus: influenciadoras cariocas falam sobre a sexualidade feminina

Espaço crescente do tema nas redes sociais ajuda a ampliar a conscientização e atrai diferentes faixas etárias

Por Carolina Santana, Danielle Bazete e Letícia Figueiredo*
Atualizado em 20 ago 2021, 10h33 - Publicado em 18 ago 2021, 13h08
Foto mostra mulher sentada de lado com cabelos cacheados e longos
Taísa Machado: a influenciadora é a responsável pela criação do Afrofunk  (Reprodução/Instagram)
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Plataformas digitais têm impulsionado discussões sobre a saúde e a sexualidade femininas. Dinâmicas on-line ajudam a diversificar referências, oxigenar comportamentos. Despertam novos significados e consumos, como indica, por exemplo, o trabalho da influenciadora e pesquisadora Taísa Machado

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Criadora do projeto Afrofunk, a carioca postou no Facebook um panfleto para divulgar suas aulas de dança, centradas na articulação do funk com passos afro. Às 35 participantes da primeira aula, já se somam aproximadamente 43 milhões de seguidores em redes sociais como o Instagram. 

O amplo alcance do mundo digital ajudou a iniciativa de Taísa a quebrar tabus acerca da sexualidade feminina. Ao afirmar que “informação é movimento”, a escritora destaca o caráter transformador da arte, ora potencializado pelos meios digitais:

O movimento também pode ser informação. Por isso que o Afrofunk gosta de falar sobre o corpo e sobre a vida da mulher na sociedade, principalmente da mulher que produz esse tipo de dança.”

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Caroline Amanda é outra influenciadora que converte um vasto conteúdo digital para potencializar temas como sexualidade e prazer femininos. Ela criou a página Yoni das Pretas, na qual explora a temática “não de maneira convencional, mas de forma integrativa”.

“A Yoni das Pretas cumpre uma função importante: garantir que a liberdade sexual seja acompanhada pela conscientização da potência sexual. É preciso ter responsabilidade afetiva. É preciso ter responsabilidade energética, porque o sexo diz sobre muitos corpos, não só o físico”, argumenta. 

Foto mostra uma mulher negra com o rosto voltado para o sol, usando joias douradas
Caroline Amanda: a mestranda em filosofia oferece palestras, cursos e e-book sobre o tema (Divulgação/Divulgação)

Mestranda em filosofia e pós-graduanda em ginecologia natural, Caroline faz mediação de palestras, produz e-books, ministra cursos e gerencia conteúdos on-line. Todas as atividade convergem para assunto relacionados à mulher. A terapeuta aborda desde o ciclo menstrual às perspectivas sexuais. Ela ressalta a importância da internet para expandir as perspectivas do universo feminino e ampliar o interesse em torno dele:

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“Quando se tem uma conexão com conteúdo, a aprendizagem é profunda. Como a gente trabalha com intimidade, com a missão de expandir as perspectivas orgásticas, sexuais e com atravessamentos diversos, o interesse acaba sendo muito grande. As lives e os cursos atraem muita gente. Neste aspecto, a internet tem sido muito mais uma aliada do que algo que atrapalhe.”  

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Essa guinada envolve debates em torno da conscientização da saúde íntima feminina. Caroline observa que as participações virtuais constroem uma corrente que incentiva a divulgação deste tema nas redes sociais. Ainda segundo a terapeuta, o isolamento social da pandemia contribuiu para as pessoas se conectarem de forma mais aprofundada com seus próprios corpos:

“Observamos um aumento de pessoas buscando a sexualidade dentro de uma perspectiva diferente daquela instaurada pela pornografia. O fato de se estar em casa fez as pessoas olharem cada vez mais para as suas intimidades e buscar o acolhimento nesse olhar”, constata. 

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A ginecologista Nathalie Raibolt também transformou os meios on-line em vetores de discussões e desmistificações de temáticas e tabus femininos. Os conteúdos publicados no seu canal no YouTube buscam estimular reflexões que propiciem a autonomia sexual das mulheres, culturalmente abafada por uma sociedade patriarcal:

“O meu papel é ajudar as mulheres a terem autonomia e acreditarem em si mesmas, tendo mais prazer. Porque, para ter mais prazer, a gente precisa estar segura e ser autônoma.”, enfatiza

Foto mostra mulher branca com cabelo castanho na altura dos ombros sorrindo e segurando uma caneca. Ela está sentada em frente a um notebook branco. Ao fundo, há uma janela e um vaso de plantas.
Nathalie Raibolt: a ginecologista aborda a autonomia sexual das mulheres através de vídeos no YouTube (Divulgação/Divulgação)

Ao ampliar o contato com estudos científicos, inquéritos e entrevistas a respeito do comportamento sexual, Nathalie decidiu que “compartilhar toda essa descoberta” nas plataformas digitais:

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“Não consigo guardar conhecimento para mim. Quis trazer para a rede, justamente com a ideia de expandi-lo o máximo possível, de atingir o maior número de mulheres”. 

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A ginecologista percebe um avanço da quantidade de idosas interessadas nesse assunto que ganha corpo no mundo digital. Ela assinala:

“Não são só os adultos jovens que estão buscando informação. Muitas idosas, que estão na pós-menopausa, também me procuram. Essa é uma grande oportunidade que eu tenho de mostrar que elas podem viver o prazer a vida inteira, mesmo com as mudanças do envelhecimento. O prazer não tem limites”.

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Segundo Nathalie, as duas questões mais comuns, extensivas a várias faixas etárias, associam-se à busca de mais desejo e mais prazer na relação. Para a especialista, esses interesses indicam o desafio de melhorar o conhecimento sobre o próprio corpo.

Embora também considere a internet proveitosa para ampliar as discussões e orientações sobre a sexualidade e a saúde da mulher, a sexóloga reconhece informações e soluções falsas disseminadas em meios digitais, sem embasamento científico ou técnico, dificultam o autoconhecimento e o aprofundamento do debate sobre esses assuntos. 

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“Fake news trazem uma sensação de mudança transitória. Mas isso não vai mudar a raiz do problema, e a mulher vai continuar sofrendo. Vai continuar pensando de uma maneira pouco construtiva para sua sexualidade”, alerta Nathalie. 

Pesquisar, verificar e manter-se atualizado é essencial para que se obtenha dados seguros e eficazes. Ainda há um longo caminho a ser percorrido, visto que esse assunto ainda é interpretado por muitos como um tabu. Segundo Nathalie, “ainda é muito alta a taxa de mulheres que não sentem prazer sexual e acredito que isso seja uma consequência da falta de educação, liberdade e falta de informação.”

Dessa forma, a questão colocada pela doutora acentua e reforça a necessidade de um fortalecimento cada vez maior da relação do público feminino com sua própria intimidade e o alcance de novos patamares de satisfação existencial.   

*Carolina Santana, Danielle Bazete e Letícia Figueiredo, estudantes de Jornalismo da PUC-Rio, sob supervisão de professores da universidade e revisão de Veja Rio. 

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