Sempre começo meu banho com água quente para me livrar do mundo externo. Às vezes, acabo com água fria para me preparar de volta. Não tem jeito, o sentir passa pelo corpo. Sei que não está nada fácil sentir e para escapar deixamos a mente num lugar e o corpo em outro. Também sei que muitas vezes é um processo inconsciente. É como se na falta de imunidade ao vírus, a gente tenha se tornado imune à realidade se desconectando do corpo e suas dores, seus sonhos, seus prazeres.
Nós queremos ver o futuro, mas agora o futuro é o presente. Tudo mudou de figura, mas um corpo continua sendo um corpo. As práticas orientais nos ensinam há 5 mil anos que ele pode funcionar com muito mais eficiência, em um ritmo relaxado. Não sei se você é desses, mas vejo as pessoas caminhando na praia em um estado de tensão, que mais parece uma marcha para a batalha. Se você caminha ou corre, por que não pode fazer sua atividade com tranquilidade? Não há incompatibilidade entre estar ativo e relaxado ao mesmo tempo.
Sempre temos uma desculpa para alimentar nosso estado de alerta e defensivo. A questão é que o corpo e o cérebro se acostumam com esses sinais e tornam esse hábito tão arraigado que você não consegue abrir mão da resistência e deixar o corpo sentir um pouco menos de urgência. É claro que há muitos trabalhos que podem apresentar situações desafiadoras. Pode haver chefes desagradáveis, colegas inseguros, reuniões de emergência, prazos impossíveis, ou até você pode estar em uma zona de guerra…
Mas essas coisas não são inerentemente estressantes. É nossa reação compulsiva às situações em que somos colocados que causa o estresse. O estresse é um nível de atrito interno. Podemos lubrificar o mecanismo interno com alguma quantidade de trabalho interno e percepção. Sinto trazer essa notícia, mas é a minha, a sua, a nossa incapacidade de lidar com nosso próprio sistema que o estressa.
De alguma forma não sabemos lidar com o corpo, a mente e as emoções. Esse é o problema.
Talvez você tenha que fingir a segurança da moça que recebe as facas do atirador, e tudo bem. Só não está tudo bem quando você para de sentir a verdade da sua pele e se perde na fantasia dos personagens para “sobreviver”.