Rio exala potencial vacina contra ameaças crônicas à saúde
Condições ambientais e socioculturais favorecem democratização esportiva como esteio à prevenção de doenças e à preservação do bem-estar físico e mental
O levantamento Carga Global de Doenças (Global Burden of Diseases, Injuries, and Risk Factors Study 2023), recém-publicado na revista científica Lancet, desperta leituras auspiciosas e apreensivas. O copo meio cheio indica um recuo progressivo da taxa de mortalidade: quase 70% nas últimas décadas. Vivemos mais, não necessariamente melhor.
O copo meio vazio alerta: continuamos assombrados por doenças crônicas não transmissíveis. Respondem por 75% das incapacitações e mortes, boa parte derivada de distúrbios cardiovasculares e diabetes.
Pelo menos a metade delas seria evitada com o controle de riscos como obesidade, hipertensão arterial, tabagismo, excesso de álcool, alta concentração de açúcar no sangue. Assim reiteram os médicos.
A recomendação envolve cuidados como alimentar-se com equilíbrio, exercitar-se sistematicamente, dormir bem e conter o estresse. Eis o alicerce comezinho de uma política de Saúde centrada na prevenção, para a qual também são fundamentais consultas e exames periódicos.
Tal política, multisetorial, reduziria hospitalizações e gastos terapêuticos. Alívio aos cidadãos e aos cofres públicos. Efetivá-la deveria configurar-se uma prioridade tão urgente e inegociável quanto a erradicação da fome e a preservação das florestas.
Nela a prática esportiva haveria de ser protagonista. Seus benefícios físicos, mentais e sociais – correspondentes à quantidade, à frequência e à intensidade adotadas – lhe assegurariam importância equivalente à das refeições cotidianas (incertas para os 24% da população sob insegurança alimentar, segundo o IBGE).
Meia hora por dia de atividade moderada já ajuda a prevenir as principais ameaças à saúde. O hábito favorece a imunidade, a vitalidade, a cognição, o sono, atesta a Organização Mundial da Saúde.
Uma mera caminhada revela-se bem melhor do que a inatividade. Melhor ainda é combinar atividades aeróbias (correr, nadar, pedalar, por exemplo), de força, de equilíbrio e de mobilidade: aptidões decisivas à longevidade com bem-estar, autonomia, dignidade.
Não menos estratégico é o ajuste dos exercícios a características, necessidades, preferências individuais. Isso resguarda a segurança, a confiança e a gratificação sem quais não se ativa um ingrediente primordial ao sucesso da receita: regularidade.
Playground a céu aberto, ninho de duas Copas e uma Olimpíada, o Rio reúne facilidades ambientais e cultuais à democratização esportiva. Das manobras suburbanas de breaking e skate às peladas no Aterro, das corridinhas na Quinta, na Lagoa, na orla às trilhas pela Mata Atlântica, do queimado na praça às rodas de altinha, vicejam opções para mexer o esqueleto e oxigenar a alma.
Tamanho repertório representa uma potencial vacina à escalada de doenças crônicas e transtornos psicológicos apontada no estudo. Não seria politicamente complicado, tampouco financeiramente exorbitante, tornar a cidade matriz de uma cruzada para melhorar os estímulos, o acesso e as condições do hábito esportivo, em especial aos pobres e vulneráveis.
O desafio implica desde popularização de modalidades adaptadas – a pessoas com deficiência, crianças, idosos – até expansão e incremento de programas como Rio em Forma, parceria federal e municipal que presta aulas gratuitas de atividades físicas em praças e parques.
Grana não parece grande empecilho. Uma parcela viria supostamente das bets e loterias: 29,5% da tributação destinam-se ao Ministério e ao Sistema Nacional do Esporte, fora o tasco de 0,7% às secretarias estaduais. Somaram R$ 1,4 bilhão no primeiro semestre.
O hábito esportivo é um investimento simples, certeiro, transformador. Garante dividendos preciosos à saúde pessoal e coletiva, em curto, médio e longo prazos. Acompanhado das belezas cariocas, beira o irresistível.
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Festival Paralímpico
Inspiração à responsabilidade conjunta de democratizar o esporte, o segundo Festival Paralímpico ganha a Vila Olímpica do Sampaio (Rua Antunes Garcia, 12) no próximo dia 29. Crianças e jovens vivenciam, a partir das 10h, rugby e futebol em cadeira de rodas; capoeira inclusiva; judô, atletismo, bocha, natação e tênis de mesa adaptados.
Promovido pela Suderj, aberto ao público, o encontro reforça a integração entre esporte, inclusão, formação de talentos e, portanto, transformação de vida. Os organizadores esperam superar os 300 participantes da edição anterior. Incluem competidores, famílias do bairro, integrantes de escolas e instituições de apoio ao paradesporto.
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Alexandre Carauta é jornalista e professor da PUC-Rio, integrante do corpo docente da pós em Direito Desportivo da PUC-Rio. Doutor em Comunicação, mestre em Gestão Empresarial, pós-graduado em Administração Esportiva, formado também em Educação Física. Organizador do livro “Comunicação estratégica no esporte”.
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