Mounjaro, músculos e a pressa carioca pelo corpo ideal
O medicamento que acabou de chegar no Brasil virou o queridinho das redes sociais. Mas será que ele é tudo isso que promete?

Ser carioca é carregar no corpo o ritmo da cidade. É acordar cedo, ver o mar, se incomodar com o trânsito e, ainda assim, conseguir dar um sorriso no calçadão. É viver entre o desejo de desacelerar e a urgência de estar sempre no ponto — no ponto de ônibus, no ponto alto da vida, no ponto ideal do corpo.
Eu nasci aqui. Minha história é moldada por essa cidade que pulsa em cada esquina, que cobra presença e entrega o que tem de mais bonito quando a gente se permite parar e respirar. Sempre fui do movimento. Antes mesmo de entender que isso se tornaria minha profissão, meu caminho e minha missão, o corpo já era meu principal canal de expressão. Já fui maratonista, já corri contra o tempo, já fui radical com a alimentação, já deixei a saúde em segundo plano para seguir um padrão. Sei exatamente como é se perder tentando caber.
Por isso, quando vejo o burburinho em torno da chegada do Mounjaro ao Brasil — e mais especificamente ao Rio, onde tudo ganha uma intensidade quase afetiva —, sinto uma urgência em falar sobre o que está por trás dessa nova onda. Porque, embora o nome pareça exótico, o desejo que ele carrega é o mesmo de sempre: emagrecer rápido, sem sofrimento, de preferência sem esforço.
O Mounjaro é um medicamento injetável originalmente criado para tratar diabetes tipo 2. Mas virou queridinho das redes sociais e das clínicas mais badaladas porque promove uma perda de peso considerável em pouco tempo. A diferença é que, agora, o apelo vai além da estética: promete controlar compulsões, diminuir inflamações e até “reeducar” o corpo. Parece bom demais pra ser verdade — e talvez seja exatamente isso.
O corpo carioca, historicamente, foi construído como vitrine. A praia é um lugar de lazer, mas também de exposição. Tem algo de cruel nessa relação: quanto mais liberdade o Rio parece oferecer, mais cobrança silenciosa ele embute. Estar bem na cidade maravilhosa virou quase uma obrigação. E é aí que entram essas soluções rápidas como o Mounjaro. O problema é que, junto com o peso, muitas vezes vai embora também o músculo, a disposição, a libido, a força — tudo aquilo que realmente constrói saúde.
É difícil explicar isso para quem está cansada de tentar e falhar. Eu entendo. O sofrimento real, invisível, de se sentir em guerra com o próprio corpo leva muita gente a apostar em qualquer promessa de alívio. Mas saúde não é leveza a qualquer custo. Saúde é força, é autonomia, é energia para brincar com os filhos, andar na rua sem dor, subir uma escada sem perder o fôlego, gostar de si.
No meu trabalho, vejo todos os dias o impacto que esse tipo de atalho causa. Mulheres que perdem peso, mas não se sentem melhor. Que perdem fome, mas também o prazer de viver. Que, no fundo, continuam se achando insuficientes. Não é sobre dieta, sobre moda, sobre TikTok. É sobre autoestima, sobre pertencimento, sobre como nos ensinamos a merecer menos do que precisamos.
Não estou aqui para julgar quem usa Mounjaro. Em alguns casos clínicos, ele pode ser uma ferramenta válida. Mas precisamos falar também sobre o contexto em que ele chega: um Brasil — e um Rio de Janeiro — adoecido pelo excesso de estímulos, de cobranças e de soluções mágicas. A ilusão da resposta rápida para problemas profundos é o que mais adoece.
Tenho 53 anos, duas filhas, um marido paisagista que me lembra todos os dias como a natureza ensina sobre tempo e cuidado. E, com a maturidade, aprendi a desacelerar com consciência. Hoje, o que ensino e vivo é o caminho do fortalecimento integral: corpo e mente, músculos e emoções, suor e prazer. Porque o verdadeiro ganho não está no que se perde, mas no que se constrói.
Se você sente que está na hora de fazer diferente, te convido a me acompanhar. No meu Instagram @adrianacamargo_yoga, e também no Onix App, compartilho reflexões, treinos, práticas, ideias — sem pressa, mas com propósito. E aqui, nesta coluna na Veja Rio, começo hoje com você a abrir espaço para esse papo necessário, sem milagre, mas com muita verdade.
Vamos juntas?