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Vinoteca

Por Marcelo Copello, jornalista e especialista em vinhos Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Marcelo Copello dá dicas sobre vinhos
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Montanha sagrada é proibida para mulheres

Local onde é proibida a entrada de mulheres, este terroir singular guarda história, paz, oração e, claro, brancos e tintos de ótima qualidade. O mundo do vinho é mesmo vasto. Tão vasto quanto minha ignorância, que se transforma em fascinação a cada vez que descubro algo como o que vou descrever agora. O Monte Athos, […]

Por marcelo
Atualizado em 25 fev 2017, 17h48 - Publicado em 13 out 2015, 14h00
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Local onde é proibida a entrada de mulheres, este terroir singular guarda história, paz, oração e, claro, brancos e tintos de ótima qualidade.

O mundo do vinho é mesmo vasto. Tão vasto quanto minha ignorância, que se transforma em fascinação a cada vez que descubro algo como o que vou descrever agora. O Monte Athos, ou simplesmente “a montanha sagrada”, como os gregos o chamam, é uma comunidade monástica com mais mil anos de idade, que faz vinho.

Localizada na península de Halkidiki, no norte da Grécia, este é um dos solos mais sagrados do planeta, comparável à Jerusalém e à Meca. Em uma área de 350km2 concentram-se 20 monastérios cristãos ortodoxos, 12 pequenas vilas de monges e 700 micro-comunidades. Este solo sagrado é politicamente independente e está sob a jurisdição do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla. Os mosteiros são de diversas etnias, principalmente a grega mas também sérvia, búlgara e russa. Os monges vivem de vinhedos, hortas, pomares, olivais e da criação de animais.

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Esta comunidade religiosa teve seus altos e baixos ao longo da história. Em 1900, havia 5.000 monges no local, mas com a revolução russa a religião entrou em declínio e em 1970 viviam ali apenas cerca de 30 monges. Em 1971, uma coincidência (ou seria uma providência divina?) mudaria o curso dessa história.

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O barco no qual viajava Evangelo Tsantali, proprietário de uma das maiores vinícolas da Grécia, foi pego em uma tormenta e acolhido por um dos monastérios. Ao ver o potencial vitivinicola do local, com muitas vinhas velhas abandonadas, ele propôs aos monges arrendar a terra. A Tsantali desde então “adotou” e mantém o monastério de Saint Panteleimon, onde produz ótimos vinhos. A entrada da Tsantali trouxe fama internacional ao local, que hoje é cultuado por muitos políticos, vips e famosos.

Este pequeno mundo é isolado por um muro baixo e um portão simples, sem tranca, sem guardas, nada, apenas um aviso de que é proibida a entrada não autorizada. O ingresso é proibido para mulheres e até mesmo para fêmeas de animais. De acordo com as rígidas regras monásticas locais, a presença feminina tornaria o ambiente impuro, pecaminoso. Visitantes homens também têm o seu ônus: precisam pedir um visto especial, que normalmente demora um a dois meses para ser concedido.

Todos os monastérios recebem hóspedes e alimentam gratuitamente qualquer visitante. O chefe de estado russo Vladimir Putin visita regularmente o monastério (o russo, claro) em busca de apoio político. O cantor Bono e o príncipe Charles também são alguns dos habitués que recorrem ao local, à procura de paz espiritual.

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Solo sagrado

Uma das principais atividades dos monges sempre foi fazer vinho. Alguns mosteiros possuem, além de vinícola, destilaria e tanoaria. Hoje existem cerca de 240 hectares plantados na península, em 30 pequenos vinhedos. As principais variedades cultivadas são as autóctones Xinomavro, Limnio, Assyrtiko e Athiri, e as internacionais Cabernet Sauvignon, Chardonnay, Grenache Rouge, Merlot e a Sauvignon Blanc, que já são plantadas há décadas ali.

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O terroir é magnífico – um ecossistema único, isolado, rodeado pelo mar e montanhas, plácido, quieto. A vegetação selvagem, por sua vez, é repleta de aromas, de flores selvagens, lavanda, tomilho, alecrim, louro, ciprestes, pinheiros e oliveiras. O clima, tipicamente mediterrâneo, proporciona às uvas ali cultivadas poucas chuvas no verão e mais de 2.000 horas de sol ao ano. O cultivo orgânico, realizado em solos arenosos e subsolo calcário, não inclui irrigação e há a presença de muitas vinhas velhas, de baixíssimo rendimento.

O vinhedos da Tsaltali estão situados na propriedade Metóxi Chromitsa, no mosteiro de Saint Panteleimon – daí o nome dos vinhos. A vinícola é bem equipada com o que há de mais moderno, prensas, tonéis e barricas de carvalho. Veja abaixo minha avaliação sobre cada vinho.

Goles da montanha

Cinco dicas de rótulos da região de Monte Athos que são encontrados no Brasil:

Agioritiko branco 2009, Tsantali, Macedônia, Grécia (ainda não disponível no Brasil). Um PGI Monte Athos, elaborado com um terço de cada uma das castas: Assyrtiko, Athiri e Roditis. Cor quase branco papel, quase neutro no nariz e na cor, com toque de limão, pêssego, flores. Paladar muito leve, igualmente quase neutro, com 12% de álcool, sem defeitos, mas muito simples.Nota: 78 pontos.

Metoxi Chromitsa branco 2009, Tsantali, Macedônia, Grécia (R$ 60). Um PGI Monte Athos, elaborado com Assyrtiko 65% e Sauvignon Blanc 35%, sem passagem por madeira. Palha claro esverdeado e brilhante. Aroma de médio ataque, delicado e elegante, com notas de maçã, lima, aspargos, fundo mineral. Paladar de leve a médio corpo, elegante, acidez moderada, 12% de álcool, conjunto bem equilibrado. Nota: 87 pontos.

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Metoxi Chromitsa “X” branco 2009, Tsantali, Macedônia, Grécia (ainda não disponível no Brasil). Um PGI Monte Athos, elaborado com 20% Athiri, 50% Assyrtiko, 30% Sauvignon Blanc, fermentado em inox, onde amadurece 4 meses com suas borras. Palha com um pouco mais de cor. Os aromas mostram boa complexidade, com notas florais, com toques de mel, baunilha, nozes, jasmim, pêra, melão, fundo mineral. Paladar macio, acidez moderada, bom meio de boca, 12% de álcool, equilibrado e elegante, com agradável toque de amargor no final, típico da Assyrtiko. Nota: 89

Metoxi Chromitsa tinto 2008, Tsantali, Macedônia, Grécia (R$ 80). Um PGI Monte Athos, elaborado com 50% Cabernet Sauvignon e 50% Limnio. Amarurece 8 meses em barricas francesas novas. Rubi escuro violáceo. Aroma intenso de frutas negras bem definidas, toque picante de pimenta negra, tostados, chocolate. Paladar de bom corpo, taninos secos e finos, bom equilíbrio acidez-maciez, 13,5% de álcool. Um vinbho com perfil gastronômico e bom potencial de guarda. Nota: 89

Metoxi Chromitsa tinto 2008, Tsantali, Macedônia, Grécia (R$ 80). Um PGI Monte Athos, elaborado com 50% Cabernet Sauvignon e 50% Limnio. Amarurece 8 meses em barricas francesas novas. Rubi escuro violáceo. Aroma intenso de frutas negras bem definidas, toque picante de pimenta negra, tostados, chocolate. Paladar de bom corpo, taninos secos e finos, bom equilíbrio acidez-maciez, 13,5% de álcool. Um vinho com perfil gastronômico e bom potencial de guarda. Nota: 89

Metoxi Chromitsa X 2005. Tsantali, Macedônia, Grécia (R$ 120). Um PGI Monte Athos, elaborado com 20% Xinomavro, 40% Limnio e 40% Cabernet Sauvignon. Amarurece 10-12 meses em barricas francesas 45% novas. Cor vermelho granada escuro. Aroma de fruta negra limpa e elegante, com bom frescor, toque floral, muitas especiarias, pimenta, canela, toque animal de couro no final. Paladar estruturado por taninos secos, sérios, boa acidez, média persistência, com 13% de álcool. Seu perfil lembrou-me os vinhos da casta portuguesa Baga, da Bairrada. Nota: 91

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Como chegar lá?

O Monte Athos é uma península isolada por um muro e um portão. Fica a 140 km de Thessaloniki, a maior cidade do norte da Grécia. Pode-se chegar lá de ônibus ou carro, mas o carro não entra e precisa ficar em uma cidade próxima ou em um estacionamento antes do portão de entrada.

Mas atenção, pois:

– São permitidos apenas 100 visitantes homens ao mesmo tempo na península.

– Mulheres não entram, nem fêmeas de animais. Porque não? Representam a tentação e o pecado.

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– Lá o calendário é outro, é o calendário juliano que está 13 dias atrás do nosso calendário gregoriano.

– Menores de 18 anos podem visitar mas não pernoitar.

– Em uma das cidades vizinhas é possível agendar excursões de barco ao Monte Athos, naturalmente já de posse de seu visto.

– Para conseguir o visto de entrada – o “Diamonitiria” – é necessário antes conseguir uma carta de recomendação (que eu consegui através da vinícola Tsantali). Turistas normalmente recorrem às suas embaixadas e consulados. De posse desse documento e da carta, entre em contato (com antecedência de ao menos um mês) com o Ministério das Relações Exteriores; a Diretoria de Igrejas (Rua Zalokosta, em Atenas); ou o escritório Agion oros em Thessaloniki. Raramente o visto é dado para permanências maiores que 4 dias.

 

Por Marcelo Copello

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