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Vinoteca

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Marcelo Copello dá dicas sobre vinhos
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Grécia, um mar de uvas

Por Marcelo Copello de Thessaloniki Estima-se que no mundo existam hoje cerca de 8 mil variedades de uvas identificadas. Nesta conta estão incluídas todas as famílias do gênero vitis. Algumas castas “novas” continuam sendo descritas, outras são criadas artificialmente por cruzamentos, enquanto outras têm seu cultivo reduzido (geralmente por questões mercadológicas) e tendem a extinção. […]

Por marcelo
Atualizado em 25 fev 2017, 19h37 - Publicado em 4 ago 2011, 23h02
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Por Marcelo Copello de Thessaloniki

Estima-se que no mundo existam hoje cerca de 8 mil variedades de uvas identificadas. Nesta conta estão incluídas todas as famílias do gênero vitis. Algumas castas “novas” continuam sendo descritas, outras são criadas artificialmente por cruzamentos, enquanto outras têm seu cultivo reduzido (geralmente por questões mercadológicas) e tendem a extinção.

Apesar desta imensa variedade existente no planeta, no que diz respeito a uvas viníferas, infelizmente cerca de 90% de toda área plantada é ocupada com as mesmas 50 castas. Torna-se então um grande diferencial ter castas autóctones.

Alguns países detêm boas fatias desta riqueza genética, como Itália, Portugal e Grécia. No caso da Grécia, nosso tema de hoje, o número estimado fica entre 300 e 500 castas autóctones. A Grécia produz anualmente entre quase 500 milhões de litros de vinho, dos quais 60% são brancos.

As castas mais cultivadas são (em milhares de litros):

BRANCAS

Savatiano         61.150

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Roditis             57.750

Muscats           11.300

Moschofilero    4.500

Vilana               4.200

Assyrtiko          3.700

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TINTAS

Agiorgitiko       23.600

Xinomavro        8.340

Mandelaria        3.660

Kotsifali              7.960

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Teatro de Dionísio em Atenas. Grécia, berço do teatro e berço do vinho.

 

Além destas há uma crescente proporção de castas internacionais, como Cabernet Sauvignon, Syrah, Merlot, Chardonnay, Sauvignon Blanc e Viognier. Vejamos um micro-guia das castas gregas mais importantes:

Assyrtiko

Principal uva branca da Grécia em qualidade. É originária de turística de ilha Santoniri no mar Egeu (onde existem muitos vinhedos pré-filoxéricos desta cepa) e hoje está em todo o país. Tipicamente tem pouca cor, toques minerais metálicos, cítricos, com boa acidez mesmo nos terroirs mais quentes. Proporciona bons casamentos com barricas de carvalho, mas tem tendência a oxidação. As vezes nota-se um leve e agradável amargor no fim de boca. Normalmente gera vinhos secos, mas em Santorini é a alma do famoso vinsanto grego, feito com uvas passificadas.

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Ilha grega de Santorini – origem da uva Assyrtiko

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Agiorgitiko

Para muitos é a melhor casta tinta grega (eu fico com a Xinomavro). Versátil, faz desde rosés até vinhos de guarda ou mesmo vinhos doces. Reina no Peloponeso, cuja apelação mais famosa é Nemea, pois precisa de calor e longos ciclos de amadurecimento. Casa bem com carvalho e com outras castas em cortes. Os melhores exemplares podem lembrar o estilo cheio de especiarias dos bons Syrah, com fruta densa, ameixa, cereja, cor escura, taninos macios e acidez moderada.  

Xinomavro

Ao provar meu primeiro Xinomavro imediatamente me veio à mente a Baga, casta portuguesa que admiro muito. A Xinomavro é “temperamental”, muitos taninos, acidez alta, muita cor, aromas de especiarias, frutas negras e minerais terrosos. Especialistas gregos me apontaram como típico da Xinomavro aromas de tomate – confesso que eu não percebi este aroma nos exemplares que provei. Esta é o tipo de casta que necessita cuidados para não proporcionar vinhos duros e difíceis de beber, mas que nos melhores terroirs e com os melhores cuidados, pode gerar grandes vinhos de guarda. Adapta-se bem ao longo amadurecimento em madeira. Aparece muitas vezes em cortes com outras tintas com o objetivo de tornar a mistura mais fácil de agradar. É comparada também à piemontesa Nebbiolo.

Moschofilero

Uva de casca rosada, mais cultivada no Peloponeso, vinificada geralmente como branca, mas também em roses ou até espumantes, secos ou doces. Normalmente proporciona vinhos de pouca cor, leves, de baixo teor alcoólico, com perfil bastante aromático, com cítricos e florais de rosas, com boa acidez.

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Mavrodaphne

Casta tinta quase sempre usada em fortificados à moda do Porto, mas também em vinhos secos. Proporciona vinhos encorpados, escuros e ricos em aromas e sabores.

Roditis

Uvas de casca rosada geralmente vinificada como branca, gerando vinhos leves, de pouca cor, acidez moderada, com aromas cítricos, muito usada em cortes, por ser muito produtiva.

Mavroúdi

Esta não é uma casta, mas um termo genérico para indicar variedades tintas cultivadas e colhida mescladas.

Vinhos provados

Produtor Vinho Safra Tipo Importador Preço* NOTA
Boutari Naousa Grand Réserve 2001 tinto Vinci R$ 83,33 86
Antonópoulos Cabernet Nea Dris 2003 tinto Mistral US$ 84.50 87
Domaine Gerovassiliou Avaton 2003 tinto Mistral US$ 85.50 90
Gaía Thalassitis 2007 branco Mistral US$ 49.90 90
Gaía Thalassitis Oak Fermented 2006 branco Mistral US$ 57.50 91
Domaine Gerovassiliou Viognier 2005 branco Mistral US$ 49.50 87
Domaine Gerovassiliou Chardonnay 2008 branco Mistral US$ 64.50 89
T-Oinos Asyrtico 2008 branco World Wine R$ 295,00 91

*atenção, alguma preços estão em Reais e outros em Dólar

Grande Réserve Náoussa OPAP 2001, Boutari, Macedônia-Grécia (Vinci, R$ 83,33). PDO Naoussa 100% Xinomavro, amadurece 24 meses em barricas de carvalho francês. Vermelho granada claro com reflexos alaranjados. Aroma de médio ataque, com toque de evolução, frutas secas, madeira, tabaco, muitas especiarias, cravo, canela, toque vegetal de azeitonas, toque animal de brett. Paladar de médio corpo, taninos finos secos e prontos, acidez ainda boa, 13% de álcool. Estilo tradicional, amadurecido longo tempo em madeira, possivelmente usada. Dá a impressão de estar em seu auge, sem mais evolução pela frente, mas em um perfeito equilíbrio. Nota 86 pontos

Cabernet Nea Dris 2003, Antonópoulos, Peloponeso-Grécia (Mistral, US$ 84.50). Um corte de Cabernet Sauvignon (70%) e Cabernet Franc (30%). Amadurece 12 meses em barricas novas de carvalho francês. Vermelho granada quase escuro. Aroma de boa intensidade, com fruta doce aliada a madeira bem presente, cassis, tabaco, especiarias doces, baunilha, toque animal de couro. Paladar de bom corpo, taninos secos, ainda presentes, 14% de álcool, longo, estilo clássico. Nota 87 pontos

Avaton 2003, Domaine Gerovassiliou, Macedônia-Grécia (Mistral, US$ 85.50). PGI Epanomi. Elaborado com as casta Limnió, Mavrotraganó e Mavroúdi (várias uvas locais plantadas mescladas). Amadurece 20 meses em barricas novas de carvalho francês. Vermelho granada escuro. Aroma de bom ataque, denso, com frutas negras maduras, amoras, ameixas, madeira bem integrada, baunilha, ervas, violetas. Paladar de bom corpo, concentrado mas sem excessos, bons taninos, agradavelmente presentes, equilibrado com boa acidez, 13,5% de álcool, longo e equilibrado. Uma boa surpresa, estilo mais moderno, muito bem elaborado e ainda com alguns anos de vida pela frente.Nota: 90 pontos

Thalassitis 2007, Gaía, Ilhas do mar Egeu-Grécia (Mistral, US$ 49.90) PDO Santorini. Elaborado com 100% Assyrtico, sem passagem por madeira (fermentado em inox). Amarelo palha com reflexos dourados. Aroma intenso e muito elegante, com boa complexidade, floral, cítrico, com um toque mineral muito original, vulcânico, toques de mel e de cera. Paladar de leve a médio corpo, com textura macia, 13% de álcool, acidez moderada, longo e untuoso. Nota 90 pontos.

Thalassitis Oak Fermented 2006, Gaía, Ilhas do mar Egeu-Grécia (Mistral, US$ 57.50) PDO Santorini. Elaborado com 100% Assyrtico, fermentado em barricas. Amarelo dourado brilhante. Aroma intenso, complexo, lembrando caju, limão siciliano confit, baunilha, flores maceradas, mel, cera, fundo mineral bem característico. Paladar de bom corpo, meio de boca redondo, boa acidez, longo e untuoso. Delicioso e diferente. Nota 91 pontos.

Viognier 2005 Gerovassilíou, Macedônia-Grécia (Mistral, US$ 49.50). 100% Viognier, fermentado em barricas novas de carvalho francês, onde amadurece por 6 meses. Amarelo dourado brilhante. Aroma intenso, lembrando frutas doces, bem maduras, manga, abricó, laranja, baunilha, toque floral. Paladar untuoso, denso, com 13,5% de álcool, acidez moderada, média persistência. Um branco maduro e delicioso. Nota 87 pontos

Chardonnay 2008, Domaine Gerovassiliou, Macedônia-Grécia (Mistral, US$ 64.50). PGI Epanomi. Chardonnay 100%, fermentado em barricas novas francesas onde permanece 6 meses. Amarelo palha com reflexos dourados. Aroma intenso, lembrando frutas maduras, como melão, pêra, cítricos, amêndoas, baunilha, mel, amanteigados, madeira aparece bem integrada, fundo mineral. Paladar de bom corpo (sem exageros), estruturado por ótima acidez balanceada com boa maciez dos 13% de álcool. Belo Chardonnay com mineralidade elegante e distinta. Nota 89 pontos.

T-Oinos Asyrtico 2008, Tinos Vineyards, Ilhas do mar Egeu-Grécia (World Wine, R$ 295).  Elaborado com 100% Assyrtico, fermentado em inox.  Amarelo palha claro e brilhante. Aroma intenso e muito elegante, com a intensa mineralidade típica dos melhores exemplares da casta Assyrtico, emoldurado por frutas tropicais, maracujá, pêra, melão e florais de jasmim. Paladar de médio corpo, 13,5% de álcool, com ótimo equilíbrio entre textura macia e boa acidez, longo e com finesse. Nota 91 pontos.

  

CONCURSO

Participei como jurado do 11º “Thessaloniki International Wine Competition”, no norte da Grécia, com mais de 600 vinhos em competição. Lá provei não apenas vinhos gregos, mas tanbém de diversas origens pouco comuns por aqui, como Turquia, Croácia, Eslovênia e Bulgária, que mostram que o leste europeu faz ótimos vinhos. Aprendi muito, sobretudo devido ao convívio com jurados de vários países europeus. Abaixo segue um video com uma declaração do presidente do concurso.

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=-1m-7R8KYGg&w=425&h=349%5D

Uma curiosidade: tirei esta foto em Thessaloniki, um “giros”, autêntico churrasco grego, devidamente degustado

Marcelo Copello (mcopello@bacomultimidia.com.br)

 

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