Bordeaux sob nova direção
Por Marcelo Copello Quando Bernard Farges assumiu o comando do Conselho Interprofissional de Vinhos de Bordeaux (CIVB) ano passado, entrevistei-o com exclusividade. Leiam como foi nosso papo. O Comitê Interprofissional de Vinhos de Bordeaux (CIVB) tem novo presidente, Bernard Fages, eleito para suceder Georges Haushalter, que ocupava o cargo desde 2010. Com 50 anos, o novo […]
Por Marcelo Copello
Quando Bernard Farges assumiu o comando do Conselho Interprofissional de Vinhos de Bordeaux (CIVB) ano passado, entrevistei-o com exclusividade. Leiam como foi nosso papo.
O Comitê Interprofissional de Vinhos de Bordeaux (CIVB) tem novo presidente, Bernard Fages, eleito para suceder Georges Haushalter, que ocupava o cargo desde 2010. Com 50 anos, o novo presidente do CIVB é produtor e enólogo, enquanto Allan Sichel, seu vice-presidente (assim como o antecessor, Georges Haushalter) é um negociante. Permance, então, a tradição da entidade, de alternar em sua presidência produtores e negociantes. Farges já dirigiu a associação de produtores da AOC Bordeaux e Bordeaux Supérieur e, em paralelo, mantém-se em outros cargos político- administrativos, como presidente da Federação Francesa de Denominação de Origem para Vinhos e Destilados (CNAOC) e vice-presidente da Federação Europeia de Denominações de Origem (EFOW).
Marcelo Copello: Bordeaux tem cerca de sete mil produtores, 300 negociantes e, sozinho, produz cerca de 600 milhões de litros de vinho ao ano, volume maior que o de muitos países. Qual o papel do CIVB nesta que é a região vinícola mais importante do mundo?
Bernard Farges: Temos três principais missões. A primeira, em pesquisa e qualidade. Estamos permanentemente investindo em pesquisas de todos os tipos, das técnicas às estratégias mercadológicas. Nossa segunda missão é econômica. Estamos constantemente coletando e compilando dados da produção e do mercado, volumes e valores, que servem de guia estratégico para a indústria do vinho de Bordeaux. Finalmente, nossa missão mais importante, que consome cerca de 60% de nosso orçamento, é o marketing e a promoção de Bordeaux, como uma região de vinhos em todo o mundo.
MC: Quais são os planos e desafios do CIVB sob sua direção, até 2016?
BF: Em linhas gerais, continuaremos a investir nos nossos principais mercados, que em valor, por ordem decrescente são: Reino Unido, China, Hong Kong, Estados Unidos, Suíça, Bélgica, Alemanha e Japão. Queremos também atuar em regulamentação, na cooperação com outras instituições europeias e na regulação do mercado, ajustando a oferta de vinho correspondente com a demanda.
MC: Como o Brasil está posicionado enquanto mercado para os vinhos de Bordeaux? Algum plano especial para o Brasil no momento?
BF: Temos investido bastante em educação, com professores certificados formando público e profissionais, no Brasil. No mais, temos muitas ações individuais de produtores e negociantes indo constantemente ao Brasil, para feiras e eventos. O Brasil é um mercado cada vez mais importante e tenho certeza de que teremos cada vez mais ações e presença aí.
MC: O senhor já provou vinhos brasileiros?
BF: Infelizmente, ainda não provei nenhum vinho brasileiro, mas tenho muita curiosidade e gostaria de fazê-lo na primeira oportunidade.
MC: E como está o mercado interno francês para os vinhos de Bordeaux? Foi afetado pela crise econômica europeia?
BF: O mercado interno francês é o melhor mercado para os vinhos de Bordeaux, já que representa em volume 60% de nossas vendas. A crise afetou muito pouco nossos vinhos, temos uma ligeira queda nos números de venda no off-trade, mas nada preocupante.
MC: A China é hoje o grande mercado para os vinhos de Bordeaux. É número 1 em volume e só perde para o Reino Unido em valor.
BF: Realmente, a China é, em valor, um mercado importante e crescente. Desde 2005 o volume de exportações de Bordeaux para a China cresceu 10.000%. Se levarmos em conta que o mercado europeu passa por dificuldades, a China se torna uma oportunidade espetacular. A China não é apenas um mercado que cresce, mas também se torna um mercado mais maduro.
MC: A China compra cada vez mais vinhos de Bordeaux, afetando muito os preços em todo o mundo. Chineses estão comprando não só vinhos, mas também muitos Châteaux em Bordeaux. Seria necessária uma regulamentação específica para as relações entre China e Bordeaux?
BF: Regular é uma coisa em que, de fato, já estamos pensando. Realmente, mais e mais chineses compram propriedades em Bordeaux. Mas não podemos esquecer que ainda são os belgas os estrangeiros que detêm o maior número de Châteaux. Hoje os chineses têm 60 Châteaux, menos de 1% das oito mil propriedades em Bordeaux. Ou seja, apesar de ocupar muito a mídia, o fato é de pouca relevância.
Marcelo Copello (mcopello@bacomultimidia.com.br)