Manual de Sobrevivência no século XXI Por Analice Gigliotti, Elizabeth Carneiro e Sabrina Presman Psiquiatria
Continua após publicidade

A “felicidade obrigatória” do fim de ano

Época de festas impõe um estado de euforia difícil de ser alcançado

Por Analice Gigliotti
Atualizado em 15 dez 2021, 13h12 - Publicado em 15 dez 2021, 09h15
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Tão logo a pandemia pareceu estar sob algum controle com a administração de vacinas, alguns velhos hábitos típicos do mês de dezembro retornaram com força: comemorações de fim de ano, amigo oculto, festas em família (ou não), shoppings cheios, planejamento de festas, o convívio forçado e invasivo. Implícito a estes rituais, está uma perturbadora obrigação de ser feliz. Como ainda conviver com essa cobrança?

    Publicidade

    Há aqueles que desistiram. Assumidamente, não estão mais fazendo questão de agradar a quem quer que seja. O longo distanciamento social valeu como salvo conduto para a partir de agora atender apenas aos próprios desejos. Porém, muita gente ainda se sente impelida a “dançar conforme a música” que transborda da metáfora – goste ou não do ritmo que está tocando.

    Publicidade

    Fim de ano não é só alegria. Também é um momento de dor e de solidão. De lamento pelos entes e amigos perdidos. De avaliação de planos não consumados e de projetos desfeitos. É quando a atenção se vira para o espelho retrovisor e faz-se uma revisão sobre os últimos meses vividos. Essa visita íntima ao próprio passado pode acabar sendo dolorosa demais: os quilos que não foram perdidos, o amor que não chegou, o emprego que não se concretizou.

    De acordo com o CVV (Centro de Valorização da Vida) as ligações de pessoas pedindo ajuda costumam aumentar 15% no mês de dezembro, principalmente durante o período de datas comemorativas, marcadas pelo convívio em família e com amigos.

    Publicidade
    Continua após a publicidade

    As dores pessoais podem ficar ainda maiores diante do excesso de exposição de “felicidade” que as redes sociais propagandeiam com frequência. A vida não é as dancinhas que mostra o TikTok, também não é a sequência de viagens deslumbrantes para paraísos exclusivos que o Instagram tenta fazer crer. Nesse jogo de ilusões, há quem não consiga se autopreservar. A verdade é que fora do Stories muita gente vai mal: a vida real é muito mais complexa e cheia de altos e baixos do que vendem as redes.

    O fundamental nesta época em que felicidade vira obrigação é não se perder de vista. Generosidade consigo mesmo é palavra de ordem. Todo mundo carrega questões familiares, dias ruins e bons, perdas e ganhos, frustrações e surpresas, alegrias inesperadas e vazios intensos. A impermanência da vida, tão valorizada pelos povos orientais, é uma das grandes lições desta pandemia. Não deu conta de cumprir tudo a que você se propôs em 2021? Não tem problema nenhum: 2022 já está logo ali, à espera de novas tentativas, acertos e erros.

    Publicidade

    Analice Gigliotti é Mestre em Psiquiatria pela Unifesp; professora da PUC-Rio; chefe do setor de Dependências Químicas e Comportamentais da Santa Casa do Rio de Janeiro e diretora do Espaço Clif de Psiquiatria e Dependência Química.

    Publicidade
    Publicidade

    Essa é uma matéria fechada para assinantes.
    Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

    Domine o fato. Confie na fonte.
    10 grandes marcas em uma única assinatura digital
    Impressa + Digital no App
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital no App

    Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.

    Assinando Veja você recebe mensalmente Veja Rio* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
    *Para assinantes da cidade de Rio de Janeiro

    a partir de R$ 39,90/mês

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.