Marie Bèndelac: líderes também precisam de empatia
Há campanhas, treinamentos e até legislação para garantir ambientes menos tóxicos mas empresas, mas e a compaixão pelas dores de quem lidera?

Cada vez mais, fala-se sobre saúde mental nas empresas. Concordo plenamente que isso é urgente, necessário e bem-vindo.
Há campanhas, treinamentos, rodas de conversa e até legislação para garantir ambientes menos tóxicos e mais saudáveis. No entanto, há um ponto cego nessa conversa: quem tem compaixão pelas dores de quem lidera?
Não sei por que estou quase me sentindo mal em fazer essa pergunta — como se fosse algo absurdo, mas, no fundo, sei que não é.
Sim, líderes também sofrem; empresários também têm medo; empreendedores também choram, sozinhos, muitas vezes. Eu mesma já senti isso na pele: a dor invisível de quem carrega o peso de decisões difíceis, de quem carrega a equipe às costas, de quem precisa continuar sorrindo mesmo quando está desmoronando por dentro.
Existe uma romantização equivocada de que “o patrão” está sempre por cima, de que o dono da empresa nada em rios de dinheiro e só pensa em explorar os outros. Esse estereótipo existe? Claro! Mas essa imagem generalizada é perigosa; em grande parte, é uma fantasia. A realidade, na maioria dos casos, é bem diferente.
Muitos líderes e empresários estão à beira do colapso emocional — dormem mal, quando dormem… Carregam boletos e responsabilidades que ninguém vê. Sentem culpa por ter que demitir alguém. Sofrem com a solidão de não ter com quem desabafar. São julgados por qualquer decisão, seja por agir, seja por não agir.
E o pior: há uma exigência cruel de que sejam sempre fortes, equilibrados, exemplares, como se não tivessem o direito de falhar, nem de sentir.
Uma pesquisa da Endeavor apontou que “94% dos empreendedores já sofreram com saúde mental em suas jornadas”.
Como mentora de empresários e líderes, vejo isso todos os dias: gente incrível, comprometida, que está dando o seu melhor, mas que está no limite. Não há espaço para a vulnerabilidade porque, quando o líder adoece, o sistema entra em colapso; por isso, ele tenta resistir até o fim, mesmo em frangalhos.
Precisamos quebrar esse tabu. Liderar não significa ser invulnerável. Liderar é humano. E, como todo ser humano, líderes também precisam de escuta, acolhimento, empatia.
Falar sobre saúde mental nas empresas exige coragem, justiça, imparcialidade e equilíbrio para olhar todos os lados — inclusive o do empresário que está lutando para pagar salários e não deixar ninguém para trás, assim como o do executivo que sofre em silêncio, porque não pode demonstrar fraqueza.
Se quisermos construir ambientes verdadeiramente saudáveis, precisamos incluir os líderes nessa conversa. Não para tirar o foco dos colaboradores, e sim para lembrar que não existe empresa saudável com líderes adoecidos.
Talvez esteja na hora de pararmos de exigir super-heróis e começarmos a olhar com mais humanidade para quem carrega às costas não só um CNPJ, mas também os sonhos, as famílias e os medos de muita gente.
Por um mundo com empatia mútua!
Boa semana!
