Cozinhaterapia – Quando comer vira uma experiência de sensações e emoções
Aberta a temporada de jantares e eventos no Rio; como diz Brillat-Savarin, no livro “ A fisiologia do gosto”, a gastronomia é para paladares desapressados
Venha jantar comigo na quinta-feira… Nossos olhos vibram, e começa aí a verdadeira viagem que a gastronomia pode oferecer. Como diz Brillat-Savarin, em seu livro “ A fisiologia do gosto”, a gastronomia é para paladares delicados e desapressados. Savarin destaca, no capítulo “Meditação 1” , os sentidos : visão, audição, gosto, tato, e o genésio, como órgãos por meio dos quais o homem se põe em relação com os objetos exteriores. Não é para quem quer apenas matar a fome, mas para se deliciar. E é no “ deleite “ desse momento entre o ver, sentir e engolir que nasce a felicidade.
Com mais de vinte anos de cozinha, o chef Felipe Bronze, além de ter restaurantes ao longo desse período, realizou o quadro “ O mago da cozinha “ no programa Fantástico, da TV Globo, (quem não lembra? ). Felipe é para mim um dos primeiros chefs brasileiros a pensar nos “sentidos” da gastronomia. “ Sempre pensei em gastronomia como experiência, no sentido de transcender o ato de comer, se alimentar. Penso em restaurantes de alto nível como uma noite de festa, como um show, uma ópera, um concerto. Mas, ao mesmo tempo, lembrando que a comida tem que ser deliciosa e cada comensal tem um tipo de expectativa. Portanto, tentamos sempre customizar a experiência para que fique completa para quem assim deseja, e mais objetiva para quem quer apenas se deliciar. A experiência mais incrível que vivi foi no Alínea: inesquecível”, diz Felipe.
Seguindo essa linha de pensamento e se aprofundando no ato de comer como uma forma de cozinhaterapia, conversei com a psicóloga Luiza Camargo, formada em nutrição e especializada em Mindful Eating e Mindfulness, que me disse o quanto o Mindful Eating é um estilo de vida. “ Comer com consciência plena, ou seja, tomar consciência do que se está comendo, prestando atenção tanto em nós fisicamente como no ambiente. Percebendo os sinais do corpo. Muitas vezes a ansiedade pode dar vontade de comer, porém você não está conectado com o corpo, e acaba comendo no piloto automático, ou seja, conectado na sua emoção”.
“Fazemos tanta dieta a vida inteira que não percebemos quando o corpo está com fome e é nisso que a gastronomia se encontra, pois não é a quantidade e sim a satisfação. Se alimenta e se nutre e fica bem ao mesmo tempo”.
O Mindful Eating também se coloca como uma experiência gastronômica em que os cinco sentidos ajudam a trazer para o momento presente, e a forma que você explora isso na gastronomia ajuda a se conectar na comida, apreciando o prato, cores, cheiros, perfumes que abrem apetites de outro lugar. A meditação vai abrir um caminho para desenvolver essa conexão com você mesmo. Você não medita comendo!! Ajuda você a se conectar com seus sentidos, sensações, respiração, emoções, dar consciência do que está acontecendo naquele momento. Quando o prato de comida chega, se você já meditou, ele facilita sua atenção plena.
A audição na hora que a gastronomia usa crocância com texturas mais moles criando sons, fazendo com que entre no tato da boca, pelo paladar, explorando sensações, é que a gastronomia leva pra esse lugar, de sabores e texturas, que a gente não vai no dia a dia, quando estamos comendo.
Para quem quiser viver essa experiência, o menu está repleto de eventos e aulas.
No dia 8 de março acontece o Jantar dos Sentidos, criado por Silvia di Capucci, uma experiência imersiva que convida os participantes a colocarem a visão em segundo plano e aguçar seus sentidos. “ Pretendo despertar nas pessoas a importância de estar presente. As pessoas são convidadas, antes de mais nada, a apalpar a cadeira, a toalha de mesa, entre outros objetos. Depois tentam adivinhar o que estão levando à boca. O ponto alto é quando elas são levadas a comer com as mãos e sentir o alimento”, diz Silvia di Capucci.
Já a partir do dia 20 de março, acontece o Dinning in the Dark , uma experiência lúdica de degustação às cegas de menus exclusivos elaborados pelo restaurante Casa Milà, onde os participantes são convidados a saborear um menu completamente vendados, em um restaurante praticamente às escuras, iluminado apenas por algumas velas. Carolina Gimenes, da Fever, chama o evento de multissensorial e promete potencializar os sentidos. “ Ao chegar ao restaurante, os clientes receberão vendas para os olhos antes de entrar na área de jantar. Em seguida, começam a degustação do menu escolhido, orientados pelo chef do restaurante que dará dicas sobre características dos pratos. Na compra do jantar, os convidados podem escolher entre três menus, o Verde com pratos completamente vegetarianos, o Vermelho com pratos predominantemente feitos com carne vermelha, ou o Azul em que o peixe é a estrela principal. Todos os menus contam com entrada, prato principal e sobremesa, mas os pratos serão uma grande surpresa, revelada no final da experiência, para os participantes para assim aguçar ainda mais a imaginação e os sentidos”.
Se o assunto for a arte de cozinhar, o Cordon Bleu Rio de Janeiro oferece os cursos rápidos, de curta duração, que são uma oportunidade para quem quer começar a explorar esse universo. Eu destaco o curso de Culinária Japonesa e Sushi e Sashimi, que acontece no dia 19 de março. Lá, além de colocar a mão na “ massa “, você pode sentir as texturas e os aromas de uma culinária natural e aprender o “empratamento” das refeições mais bonitas da arte de receber.
A jornalista Maria Helena Esteban, idealizadora e curadora do projeto Compartilha.com, convida a todos a experimentar menus assinados por chefs renomados de forma diferenciada, ou seja, durante o Jantar Show numa cozinha aberta. Tudo acontece na Cozinha Gourmet A Vita Felice (Rua das Laranjeiras, 394). O jantar de estreia, em 2022, foi com Flávia Quaresma, seguido por Frédéric de Maeyer, João Paulo Frankenfekd e Mariana Vidal. “ Os pratos são feitos e montados na frente do público, permitindo saber detalhes do preparo e compartilhar experiências. Todos compartilham a mesa coletiva, proporcionado que as pessoas, mais do que ao jantar num restaurante, possam ter uma experiência de troca na mesa, conhecer o que estão comendo e ter convivência social. Elas compartilham a refeição, resgatando o sentido da mesa como compartilhamento de vivência, uma coisa que está se perdendo muito.”
Já te dei o garfo e a faca na mão, agora é só começar a comer!
Beijos,
Helen