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Esquinas do Esporte

Por Alexandre Carauta, jornalista e professor da PUC-Rio Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Pelos caminhos entre esporte, bem-estar e cidadania
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Por que democratizar o esporte é inadiável à Saúde

Ministra Ana Moser terá de orquestrar interesses corporativos e econômicos em torno da prioridade de expandir o hábito esportivo nos estratos da população

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Atualizado em 9 jan 2023, 11h27 - Publicado em 7 jan 2023, 18h01
Ana Moser na posse como ministra do Esporte
 (Ministério do Esporte/Divulgação)
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Ana Moser reconhece a odisseia pela frente. A democratização esportiva lhe exigirá bem mais do que a biografia vencedora.

Logo na posse, a ministra comparou “a missão recebida do presidente Lula” aos duelos épicos contra as cubanas, Fla-Flu do vôlei latino-americano nos anos 1980. Nem Tom Cruise acharia moleza.

Para cumpri-la, a primeira mulher (enfim) a comandar o Ministério do Esporte encara três desafios nevrálgicos. Encontram-se entrelaçados.

O primeiro envolve competências gerenciais. Corresponde ao ajuste dos R$ 2 bilhões orçamentários à responsabilidade constitucional de facilitar e ampliar o acesso às práticas esportivas – adequadamente prescritas e orientadas. A tarefa inclui a propagação do esporte adaptado em colégios, praças, espaços comunitários.

A calibragem não supõe atrofia de incentivos ao alto rendimento olímpico, embalado por 43 pódios nos últimos dois anos. Pelo contrário: impulsionaria a descoberta e a maturação de talentos.

O segundo desafio recruta estofo político. Disposta a potencializar os benefícios do esporte à população moída pela desigualdade, Ana terá de vencer retrancas patrimonialistas. Trabalho complexo até para quem dirige há 21 anos o Instituto Esporte e Educação, ONG que inicia milhões de crianças em atividades esportivas.

Uma política pública com ênfase nas dimensões social e educacional do esporte depende de apoio parlamentar. A convergência do Congresso cobrará da executiva habilidade e tenacidade superiores à da atacante poderosa, bronze nos Jogos de Atlanta, em 1996.

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Enquanto toma pé dos meandros nos quais mergulha, a nova ministra deve se debruçar sobre a orquestração do Plano Nacional do Esporte. Tramita há dois anos na Câmara e no Senado. Embora inerente ao xadrez legislativo, o prolongado vaivém indica a dificuldade de conciliar interesses econômicos, sociais, corporativos.

Aprovado em agosto passado pelos deputados, o PNEsporte aguarda apreciação dos senadores. Reúne diretrizes para efetivar a prática esportiva como direito social. Assim determina a Constituição.

A partitura engloba o terceiro desafio primordial de Ana Moser: articular esforços interministeriais para converter o esporte num propulsor de saúde aos diversos estratos populacionais. O objetivo alinha-se a dois compromissos no texto original do Plano, relatado por Afonso Hamm (PP-RS):

  • Garantir acesso à prática e à cultura da educação física e do esporte nas escolas de educação básica, de forma a promover o desenvolvimento integral de crianças, adolescentes e jovens e favorecer a inclusão social.

 

  • Incentivar a prática da atividade física e do esporte, de forma a promover hábitos saudáveis que contribuam para a saúde e para a qualidade de vida dos jovens, dos adultos e dos idosos.
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Atividade física regular é decisiva para prevenir doenças e preservar a saúde ao longo dos anos. Combinada com boas noites de sono e com uma alimentação harmônica, à base de legumes, verduras, grãos, carnes magras e massas integrais, a prática esportiva reduz o risco de obesidade, diabetes, problemas cardíacos, câncer, depressão.

Meia hora diária de caminhada, por exemplo, já faz diferença. Contém as comorbidades, atesta o Colégio Americano de Medicina Esportiva.

Exercícios regulares representam não só uma vacina contra as principais ameaças à saúde. Desdobram-se na redução de custos com terapias, medicamentos, hospitais.

Menos de um quarto dos brasileiros se exercita com frequência, estima o IBGE. A maioria continua distante dos 150 minutos semanais recomendados pela Organização Mundial da Saúde.

Se mais brasileiros se exercitassem regularmente, o SUS pouparia uma parcela razoável dos quase R$ 2 bilhões anuais consumidos por internações derivadas de doenças crônicas não transmissíveis. Em vez de prevenir incêndios, ainda preferimos apagá-los. Sai caro.

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A economia com tratamentos reforça a importância da democratização esportiva. Não seria exagero somá-la às urgências de alimentação e saneamento – prioridades máximas num país em que 125 milhões convivem com o estio à mesa, 33 milhões passam fome e 35 milhões padecem sem água tratada.

Uma população bem hidratada, bem nutrida e ativa é uma população saudável. Provê-la de tais condições constitui dever estatal apontado no Artigo 5º da nossa Carta Magna.

O esporte precisa virar protagonista de uma política preventiva. Ana Moser pode contribuir para construí-la, a partir de ações coordenadas com a colega da Saúde, Nísia Trindade.

Isso ajudaria a tornar o esporte um hábito ao alcance de todos. Integraria programas federais, estaduais e municipais desenvolvidos para disseminá-lo em escolas, áreas de lazer, praias. A vocação esportiva do Rio o credencia a difusor desta inadiável política pública.

A oportunidade quica. Ana nunca foi de desperdiçar bola levantada.

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Ídolo multicolor

Roberto correspondeu com sobras ao apelido profetizado quando o repórter Aparício Pires, do Jornal dos Sports, percebeu a vocação do garoto de 17 anos para explodir as redes. O gol de estreia no Maraca, 2 a 0 sobre o Santos em 1971, prenunciava os recordes perenes.

Ninguém superaria os 279 marcados em Cariocas e os 190 em Brasileiros, 69 deles em 1981. Muito poucos chegariam perto de um tão espetacular quanto o arrematado de voleio depois da matada no peito e do chapéu no zagueiro botafoguense Osmar. A preciosidade, incansavelmente revista, eternizou aquele domingo de 1974.

Dinamite, lembram as maravilhas do artilheiro, é sinônimo não só de Vasco – da envergadura esportiva, sociocultural, histórica do gigante de São Januário. É sinônimo, sobretudo, do que o futebol tem de melhor. Por isso habita corações de diferentes cores, inclusive rivais.

Levado pelo câncer, aos 68 anos, o maior símbolo vascaíno reluz a universalidade e a simplicidade dos grandes ídolos. O sorriso fácil, contagiante, acolhia indistintamente torcedores, colegas, adversários, jornalistas. Nem nos piores dia dinamitava a gentileza.

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Assim como as pernas goleadoras, sua alma larga batia um bolão.

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Alexandre Carauta é professor da PUC-Rio, doutor em Comunicação, mestre em Gestão Empresarial, pós-graduado em Administração Esportiva, formado também em Educação Física. Organizador do livro “Comunicação estratégica no esporte”.

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