Quarentena: aplicativos para malhação em casa se multiplicam
As diversas opções de serviços para quem quer se exercitar em casa disputam usuários e despertam os sedentários
Jane Fonda, quem diria, acabou no TikTok. Ativista e empresária, a atriz de 82 anos, que deu visibilidade à ginástica na década de 80 e nunca a abandonou, se tornou adepta da rede social de vídeos rápidos que arrebata a turma jovem. Mudou o meio, certamente (antes ela aparecia na boa e velha TV), mas a proposta de Jane continua coerente com a de lá atrás: ensinar exercícios físicos que as pessoas podem fazer sem sair do conforto do lar – o que vem bem a calhar com as necessidades atuais. A malhação digital está tão em alta que um estudo da consultoria especializada App Annie mostrou que o número de downloads dos aplicativos nas categorias saúde e fitness saltou, após o início do isolamento, de 1,2 milhão para 4,4 milhões por semana no Brasil.
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“Foi a alternativa que encontrei quando as academias fecharam. Faço minhas atividades na varanda e já reparei que meus vizinhos também estão se exercitando na frente do celular”, conta a nutróloga Patrícia Moll que, como outros tantos cariocas, não esmoreceu na temporada de reclusão. Neste momento, os aplicativos brigam entre si para conquistar lugar na rotina de quem não quer se dobrar à inércia. Um dos mais usados no mundo, o Nike Training Club, com mais de 10 milhões de downloads e disponível em dezesseis idiomas, oferece 185 opções de atividades. A procura pelo app multiplicou-se por dez nas últimas semanas. Entre os atrativos, oferece treinamento dado a grandes esportistas – a série de abdômen do jogador de futebol Cristiano Ronaldo está entre as mais baixadas. Criado pela rede carioca de academias Bodytech, o aplicativo BTFit, normalmente pago, suspendeu a cobrança de mensalidades e ultrapassou a marca de 4 milhões de downloads.
Mais de 1 000 vídeos gravados em estúdio compõem o acervo da plataforma, que tem como diferencial um algoritmo capaz de gerar um programa sob medida para o objetivo de cada um, seja emagrecer, seja ganhar força muscular. Há material bastante específico e de nome autoexplicativo: Agora vai, Barriga Chapada, Bumbum na Nuca, e segue por aí. “Tivemos picos de 10 000 pessoas usando a plataforma ao mesmo tempo”, contabiliza Bruno Franco, CEO do BTFit.
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Outra alternativa que vem despontando no ascendente universo de exercícios on-line é a das onipresentes lives (qual o quarentenado que não viu pelo menos uma?), em que personal trainers dão sua aula em tempo real. Com Bruno Gagliasso, Grazi Massafera e Ingrid Guimarães entre seus clientes, Chico Salgado transformou o treino de alunos famosos, todos em suas respectivas casas, em transmissões ao vivo. As séries com Bruna Marquezine e Angélica alcançaram 160000 e 180000 visualizações no Instagram, respectivamente, mas ninguém superou a poderosa Anitta. A gravação com a cantora registra mais de 250000 exibições. O formato, via redes sociais, foi abraçado pelo lutador de MMA Rogério Minotouro. Sua rede de academias Team Nogueira produz filmes diários de malhação e criou um serviço de aulas via internet. “Temos conteúdo para crianças e adultos, homens e mulheres. Queremos ser a Netflix da malhação”, ambiciona Minotouro.
Os médicos reforçam que praticar exercícios é essencial não só para manter a boa forma e o condicionamento físico mas também para deixar a imunidade alta e contribuir para baixar o stress e elevar a liberação de endorfina, substância responsável pela sensação de prazer – mais do que bem-vinda em tempos de tanta privação. Seguir com o treino em casa envolve desafios. O primeiro é vencer a inevitável preguiça de romper com o marasmo. Depois é fazer disso uma rotina, sem colegas ao lado nem estímulos externos. Quando se trata de plataformas digitais, especialistas recomendam ficar atento a questões de segurança e privacidade. O treino por conta própria, sem o monitoramento de um profissional, requer certos cuidados. “É importante respeitar os limites do corpo. Não adianta tentar buscar um treino de alto impacto se você está sedentário há anos. Tenho pacientes que já se machucaram em casa, principalmente com exercícios com corda e em escadas”, relata Sérgio Maurício, da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia.
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Alternativa cômoda para tempos de isolamento, a malhação digital demonstra força para avançar no Brasil. Só em março, alcançou faturamento de cerca de 12 milhões de reais. O número de brasileiros que praticam atividades físicas ainda é considerado baixo – estima-se que apenas 39% da população se exercite regularmente, praticando os 150 minutos de atividades semanais recomendadas pela OMS – e é justamente aí, sobre essa massa de gente inerte, que dá para crescer. Os aplicativos, que proporcionam malhação a qualquer hora e de qualquer lugar, surgem como uma opção para os sedentários, muitos nessa condição por não encontrar uma brecha para ir à academia. Que este momento tão delicado de reclusão deixe como legado uma turma de novos adeptos da vida ativa.
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Faça aquecimento. Ele permite ao corpo se preparar para o esforço que está por vir. Estudos mostram que o fluxo sanguíneo nos músculos pode saltar de 15% para até 95% durante a atividade física.
Escolha bem seu treino.
Para evitar lesões, opte por uma atividade condizente com seu condicionamento físico. Uma maneira de controlar isso é seguindo aulas de um mesmo aplicativo ou professor e ir subindo a intensidade na sequência sugerida.
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Respeite seus limites. Ao menor sinal de sobrecarga no corpo, o melhor a fazer é escolher outro exercício. Ninguém vai querer arranjar uma contusão agora.
Balanceie a malhação. Alternar séries mais leves com mais intensas é o jeito mais seguro de melhorar a forma física no isolamento do lar.
Alongue-se. Cinco a dez minutos de alongamento depois de terminada a série relaxam e ajudam a baixar o nível de stress. Vale até música ambiente para tentar se desconecta.
Atenção às dores. Quando elas são generalizadas pelo corpo, isso é normal e esperado. Mas incômodos pontuais podem ser sinais de algo errado, que deve ser observado.
Nunca esqueça o coração. Pessoas com problemas cardiovasculares só podem realizar atividade física vigorosa depois de ter passado por avaliação médica, mas também não devem ficar paradas. A caminhada é uma boa alternativa para essa turma.