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Está em carentena? Como surgiram as gírias nascidas durante a pandemia

'Quarentreino', 'Covidiota' e 'Cloroquiner' são alguns dos termos que surgiram na toada do novo coronavírus. Mas até quando eles ficarão no vocabulário?

Por Marcela Capobianco
Atualizado em 17 jul 2020, 21h33 - Publicado em 17 jul 2020, 06h00

Em abril, o Dicionário Oxford, um dos mais importantes do planeta, precisou fazer uma atualização extraordinária. Incluiu em sua lista de verbetes o termo “Covid-19”. Na publicação on-line, ele é descrito como “um tipo de coronavírus que foi relatado pela primeira vez em 2019 e se tornou uma pandemia”.

Desde então, o vírus não só se espalhou por cinco continentes como trouxe com ele um dialeto próprio, recheado de termos técnicos e também de vocábulos criativos.

Importado do inglês, “covidiota”, por exemplo, passou a designar as pessoas que não levavam a sério o isolamento social e, ainda por cima, saíram estocando mantimentos e papel higiênico no início do surto epidêmico.

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“A língua é viva, funciona como um reflexo da história. Todo episódio marcante traz consigo um vocabulário, e a pandemia é um exemplo disso”, explica Evanildo Bechara, ocupante da cadeira de número 33 da Academia Brasileira de Letras.

Evanildo Bechara, imortal da ABL: “Momentos históricos trazem novos vocabúlos” (Guilherme Gonçalves/Divulgação)

As redes sociais são palco de embates frequentes entre os quarenteners e os cloroquiners – os primeiros designam literalmente quem aderiu à recomendação de ficar em casa e os últimos, fãs do tratamento com a desprestigiada hidroxicloroquina, mas, na prática, são designações disfarçadas da velha e nada boa rixa entre esquerda e direita.

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Para quem cultivou a alma fitness mesmo trancafiado em casa, nasceu o “quarentreino” – só no Instagram há mais de 140 000 fotos publicadas com essa hashtag, indicando treinos realizados durante a pandemia.

“Fica até difícil de dar conta de tantos neologismos, mas esse é um reflexo da rapidez do mundo em que vivemos hoje”, analisa outro imortal da ABL, o poeta Geraldo Carneiro.

Em um de seus poemas, A Coisa Bela, Carneiro afirma que “cada língua escolhe as afeições e imperfeições que lhe compete ser”. No caso do português, após mais de 100 dias de isolamento social, uma das competências recaiu sobre a palavra “carentena”, amplamente usada pelos solteiros carentes de afeto.

O termo, inclusive, serviu de inspiração para uma série do canal pago Warner, Carenteners, que estreou em 30 de junho.

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Em meio às gírias e expressões do momento, que brotam da necessidade de os grupos tentarem criar um código, geralmente em tom jocoso, surgiu ainda um “confinastê”, primo torto da saudação hindu namastê, adotada pela turma do paz e amor no mundo virtual.

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De tanto sucesso, os vocábulos já ilustraram alguns posts do Instagram Greengo Dictionary, do designer Matheus Diniz, que faz sucesso ao traduzir a seus 1,2 milhão de seguidores o significado de expressões informais do português para o inglês. É o caso do “coronga”, apelido debochado da doença.

Embora o idioma da pandemia esteja em toda parte, no Rio ele achou terreno fértil – célebre pela informalidade, o carioca é desde sempre exímio criador e disseminador dos jargões populares. No século XIX, os estivadores do porto do Rio tinham um linguajar próprio, que não era compreendido pelo restante da população. Mais tarde, no início do século XX, os malandros do samba cunharam expressões que se popularizaram nas letras de músicas tocadas até hoje nas rodas.

“O Rio foi, por um período de quase 200 anos, a capital do Brasil, e se tornou uma espécie de tambor cultural do país. Tudo o que surgia aqui ganhava as outras regiões”, explica Paulo Rosa, doutor em letras vernáculas, professor da Uerj e membro da Academia Brasileira de Filologia.

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A maioria dos termos de ocasião, porém, tem prazo de validade segundo os estudiosos e acabará enterrada pelas gírias de alguma nova situação excepcional. A língua, tal qual o ser humano, está em constante adaptação, e os termos de agora vão passar, junto com o corona. Corona?

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O bê-á-bá do corona

As expressões que estão na boca do povo — e debaixo das máscaras

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Carentena
Palavra utilizada por solteiros carentes de afeto durante o isolamento social

Cloroquiner
Quem (ainda) acredita que a hidroxicloroquina auxilia no tratamento da doença

Confinastê
Descende da expressão hindu “namastê” e foi adotada pela turma do paz e amor

Coronga
Forma debochada de se referir ao novo coronavírus, que também virou só “corona”

Covidiota
Cidadão que ignorou as regras de isolamento social durante a pandemia de Covid-19

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Quarentener
Aquele que cumpriu as recomendações dos especialistas durante a quarentena

Quarentreino
Termo muito usado pela turma que seguiu se exercitando em casa, mesmo com a pandemia

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