Ecologia na garupa: ONG reúne motociclistas engajados na causa ambiental
Minidocumentário elaborado por estudantes da PUC-Rio apresenta ambientalismo sobre rodas da União Brasileira de Ecologistas e Motociclistas (Ubem)
Dezembro de 2021. Marcela Cotrim, Clara Alexandre e Luana Vicentina, estudantes de jornalismo da PUC-Rio, tinham que encontrar uma pauta para realizar um documentário para o Laboratório de Telejornalismo do curso de Jornalismo. A pauta inédita sobre o trabalho da União Brasileira de Ecologistas e Motociclistas (Ubem) — organização sem fins lucrativos, responsável por agrupar motociclistas preocupados com as causas ambientais — foi sugerida pelo grupo de alunas e resultou no minidocumentário, intitulado com o mesmo nome da ONG, que tem como protagonista o fundador dela: Fernando Fraga Ferreira, o Tinguá.
Um motociclista “ecológico” desfila pelas ruas de Nova Iguaçu, sobre três rodas e muitos adereços simbólicos, lutando pela preservação do meio ambiente. A cena, digna da ficção cinematográfica, é o ponto de partida do documentário. Filho de serralheiro, ex-garimpeiro e, hoje, um ativista ambiental, a figura multifacetada de Tinguá conduz a produção, que deveria — fato assim revelado pelas idealizadoras —, antes de tudo, focar em um personagem.
O “herói motorizado” rompe, através de suas falas e gestos, preconceitos e estereótipos acerca tanto dos defensores do meio ambiente, quanto dos integrantes de motoclubes. Ele preside há 21 anos a Ubem e revela, ao longo do documentário, que associar o motociclismo à preservação da natureza foi um gesto estratégico. Cooperação, palavra-chave no universo daqueles que caminham sobre rodas, representa o elo de ligação entre grupos que, culturalmente, não pareciam dialogar.
Tinguá elucidou a capacidade dos motociclistas de mobilizar e impactar pessoas em proporções elevadas, o que confere uma visibilidade preponderante ao ativismo ambiental. Segundo ele, nem todos os motociclistas participam ativamente das ações promovidas pela ONG, mas atraem muitos “curiosos”, somente pelo fato de estarem nos eventos.
Sua motocicleta, um triciclo bastante estilizado e abastecido com gás natural, é vista em detalhes nas imagens captadas pelo trio de alunas e tem cada um de seus símbolos revelados através da narração de Marcela Cotrim. A vasta imaginação de Tinguá é exposta no teclado de computador antigo, que representa o risco dos jovens se viciarem na internet; em uma serra elétrica enferrujada, exprimindo o desmatamento; ou até mesmo uma cruz vazia, que fala de sua fé. Além de ter confeccionado uma árvore de CD ‘s, que se tornou símbolo da Ubem, no bairro de Tinguá, Nova Iguaçu.
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O trabalho de educação ambiental, definido pelas documentaristas como “nada convencional”, entretanto, não se resume ao campo imagético e simbólico, presente na motocicleta ou no monumento. A Ubem promove ações de distribuição de cartazes, replantio, reciclagem de óleo, manutenção de placas de preservação ambiental e cobrança junto às instituições governamentais.
Situada na baixada fluminense e com outras sedes espalhadas pelo interior do estado do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, a ONG liderada por Tinguá não poupa esforços em adotar caminhos diferentes do usual. Em mais de duas décadas, desde sua fundação, nenhuma conta bancária foi aberta em nome da organização, que vive da caridade e discrição de seus integrantes — motivo de orgulho para o fundador —, e da mensalidade paga pelos integrantes do motoclube, que agitam os encontros realizados.
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Em roteiro e edição de Luana Vicentina, narração de Marcela Cotrim, imagens de Luana, Marcela e Clara Alexandre e uma trilha sonora repleta de rock ‘s, que integram o dia a dia dos personagens; a produção “Ubem” entrega, por cerca de 10 minutos, uma obra dedicada a retratar a organização de “preservação ambiental sobre rodas” e a figura excêntrica e cativante de seu idealizador, Fernando Tinguá.
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*Henrique Silva e Gabriel Lima, estudantes de jornalismo da PUC-Rio, sob supervisão de professores da universidade e revisão final de Veja Rio.