Ascensão do surfe brasileiro se reflete nas praias cariocas

Ouro de Ítalo Ferreira estimulou um ingresso crescente de alunos e alunas nas escolinhas

Por Felipe Azevedo, Gabriel da Cruz e Rodrigo Lemgruber*
22 dez 2021, 11h39
Foto mostra menina surfando
Surfe feminino: uma das frentes que registrou crescimento (Jerônimo Telles/Divulgação)
Continua após publicidade

A estreia olímpica do surfe, neste ano em Tóquio, reforçou a onda brasileira na modalidade, com o ouro de Ítalo Ferreira. Depois vieram tricampeonato Mundial de Gabriel Medina e, recentemente, a vitória de Lucas Chumbo no Mundial de ondas gigantes, em Nazaré, Portugal. A projeção e o prestígio impulsionados por esses e outros feitos de brasileiros e brasileiras sobre as ondas – proeminência chamada de brasilian storm – afoga de vez preconceitos e desperta um interesse crescente pelo esporte outrora marginalizado. A maré alta do surfe se reflete nas praias cariocas e nos negócios em torno das manobras aquáticas. 

+ Futsal feminino aposta na expansão da base para crescer

Façanhas como a de Ítalo, primeiro campeão olímpico desse esporte, aumentam ainda mais a popularidade do surfe no Rio. Escolinhas têm recebido uma quantidade crescente de alunos e alunas, com um avanço estimado de 30% depois dos Jogos, enquanto o mercado explora o surfe como estilo de vida. 

De prática marginalizada nos anos 1960 e 1970 a orgulho brasileiro, o surfe se tornou uma febre carioca. O surfista Sérgio Coutinho vivenciou essa transformação. Para ela, a popularização decorre de dois processos em especial: a profissionalização da modalidade e a formação de ídolos nacionais no surfe masculino e feminino. Estímulos ao volume cada vez maior de crianças interessadas a domar as ondas. 

Foto mostra crianças surfando
Surfe: cada vez mais crianças se interessam pela modalidade (Jerônimo Telles/Divulgação)

“Nos anos 60 e 70, surfava-se por amor. Nos anos 80, tudo começou, com mais campeonatos profissionais e mais patrocínio. Isso se ampliou na década de 90, com o Circuito Mundial bombando. Agora temos uma nova guinada, com os sucessivos títulos brasileiros, principalmente o ouro olímpico de Ítalo Ferreira”, observa Coutinho. Ele completa:

Continua após a publicidade

“Quem começa hoje, já começa com os ídolos na cabeça, pensando em títulos. Na minha época, tínhamos ídolos, ou mitos, não porque ganhavam campeonatos, mas porque surfavam muito. O nosso sonho era apenas surfar nos melhores picos do planeta”. 

Compartilhe essa matéria via:

Diante da ascensão brasileira nos últimos anos, com o crescimento também do surfe feminino, o sonho de títulos e medalhas embala a quantidade crescente de iniciantes. Dono da Escola de Surf Cyclone, na Barra, Michel Lahud constata um ingresso maior de calouros nas ondas depois da conquista olímpica, em julho:

“O surfe nas olimpíadas mudou o cenário nas escolas de surfe. Aqui tivemos um crescimento de 30% na procura por aulas. Acredito que isso ocorra por conta dos brasileiros que estão despontando no surf mundial”. 

Continua após a publicidade
Foto mostra pessoas na aula de surfe na Praia da Barra
Escolinha Cyclone: teve boom de inscrições após os Jogos Olímpicos (./Divulgação)

Além de novos praticantes, o sucesso do Brasil em Mundiais e na Olimpíada reacendeu um amor que andava adormecido em cariocas como estudante Lucas Silva, de 19 anos. Morador de Ipanema, ele voltou a surfar estimulado pela medalha de Ítalo: 

“Eu costumava surfar todo fim de semana com meu pai, no Arpoador. Mas, com o Enem e início na faculdade, o esporte ficou em segundo plano. Era difícil ir para a praia com tanta coisa para fazer e tanta pressão nos estudos. Aquela emoção de ver o Brasil no topo do surfe olímpico me trouxe essa paixão de volta, e tornei a surfar”, conta Lucas. “Lembro até hoje da narração épica do final da bateria e do Ítalo saindo carregado da água. Hoje em dia, acordo mais cedo nos fins de semana para garantir um tempo me divertindo com meu nas ondas”, relata. 

+ Bares de Botafogo comemoram retomada da vida noturna

Continua após a publicidade

O surfe feminino também ganhou força após os Jogos. A chegada de Tatiana Weston-Webb às oitavas de final da competição olímpica reforçou o estímulo à adesão e à valorização da prática por mulheres. 

O cenário é observado nas praias do Rio, com um número maior de garotas sobre as pranchas. Na escolinha de surfe Jerônimo Telles, por exemplo, o número de meninas supera o de meninos.

“Isso representa uma libertação. Essa geração está muito mais empoderada. Antigamente determinava-se que o bodyboard era para o público feminino e o surfe, para o masculino. Agora não. Tudo é para todos. Liberdade de escolhas e máximo respeito”, comemora Telles.

+ Para receber VEJA RIO em casa, clique aqui

Continua após a publicidade

Ele reconhece, contudo, que o amadurecimento social, profissional e esportivo do surfe ainda não erradicou totalmente discriminações crônicas. Mas pondera que os preconceitos recuaram e “não se proliferam, porque o astral é irado: afasta as energias ruins”.

* Felipe Azevedo, Gabriel da Cruz e Rodrigo Lemgruber, estudantes de jornalismo da PUC-Rio, sob supervisão de professores da universidade e revisão final de Veja Rio.

Publicidade

Essa é uma matéria fechada para assinantes.
Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

Semana Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

Impressa + Digital no App
Impressa + Digital
Impressa + Digital no App

Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.

Assinando Veja você recebe mensalmente Veja Rio* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
*Para assinantes da cidade de Rio de Janeiro

a partir de 35,60/mês

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.