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Heróis da resistência: um passeio pelos bares e restaurantes históricos do Rio

A trajetória de endereços emblemáticos como o Bar Luiz, no Centro, o Nova Capela, na Lapa, e o centenário Amarelinho da Cinelândia

Por Redação
Atualizado em 18 Maio 2021, 18h40 - Publicado em 18 Maio 2021, 18h35

Não tem sido fácil resistir a esses tempos bicudos. Prova disso é que a pandemia ceifou praticamente um terço dos estabelecimentos cariocas, segundo dados do SindRio. Muitos deles icônicos para a cidade, como o Mosteiro, a Casa Villarino (que será reaberta), dentre outros. Torna-se portanto um alívio ver de pé aqueles que resistem à crise e todos os percalços pandêmicos tentando sobreviver – ainda que para isso deem uma pausa para retomar o fôlego quando as coisas melhorarem.

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São heróis da resistência como o Amarelinho, inaugurado em 1921, por ora temporariamente fechado (aguardando a situação da pandemia dar uma normalizada), e outros bares e restaurantes emblemáticos, como o Bar Luiz, no Centro, e o Nova Capela, na Lapa. O Rio é a cidade brasileira com o maior número de endereços centenários em atividade. A seguir, um pouco da história de algumas dessas casas, verdadeiros patrimônios, repletas de história.

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Amarelinho

O bar foi fundado em 1921, na Cinelândia, que, à época, por abrigar teatros e cinemas frequentados pela elite carioca, era considerada a “Broadway brasileira”. Conta-se que o nome se deu em função da cor das paredes da casa. Nome por trás da empreitada, o espanhol José Lorenzo Lemos tornou-se sócio na década de 1970 e foi peça-chave para reerguer o reduto. Naquela época, o badalado entorno não vivia uma boa fase, em função do fechamento dos espaços culturais por conta das obras do metrô. Mas o caos logo passou e o Amarelinho da Cinelândia voltou a reviver os ares dourados do passado. Nas mesas do bar foram discutidos temas como Semana de Arte Moderna e início da Era Vargas, para se ter ideia. O endereço recebia ainda frequentadores ilustres, como Vinicius de Moraes, Oscar Niemeyer, Mário de Andrade e grandes artistas do Cassino da Urca. Atualmente, o lugar de cozinha modesta, com influência das culinárias portuguesa e brasileira, está temporariamente fechado, aguardando a situação da pandemia normalizar. Praça Floriano, 55, B, Centro.

Amarelinha
Amarelinho: cem anos em 2021 (Flavio Veloso/Divulgação)

Armazém Senado

Em funcionamento desde 1907, o estabelecimento, a um quarteirão de distância da Rua do Lavradio, adquiriu, em 2011, o status de Patrimônio Cultural da cidade após ter sido tombado pela Prefeitura do Rio. Misto de armazém e boteco, o lugar, instalado na Avenida Gomes Freire, preserva prateleiras de madeira e balcão coberto de mármore de Carrara. Já não vende mais produtos a granel, mas tem lá café e outros itens embalados, além de ofertas de cerveja e boas cachaças. As rodas de samba locais tornaram-se famosas. Foi lá, inclusive, no interior do salão do sobrado de pé-direito alto, que o prefeito Eduardo Paes foi visto sem máscara – e pediu desculpa. Para petiscar: frios, sanduíches, azeitonas e outros beliscos expostos no balcão. Avenida Gomes Freire, 256, Lapa. 

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 Armazém São Thiago

Localizado num antigo armazém, construído em 1919, em Santa Teresa, o endereço foi fundado pelo espanhol Jesus Pose Garcia, que o batizou em homenagem a Santiago de Compostela, cidade próxima a sua terra natal. Tratava-se de um armazém de secos e molhados sofisticado que vendia grande variedade de produtos, a exemplo de azeites, vinhos, licores, frutas enlatadas, ostras, lagosta, bacalhau, entre outros. Na década de 70, com a expansão dos supermercados e já sob a batuta do sobrinho-neto do fundador, Seu Gomez, o reduto tornou-se um bar. E conserva tal apelido até hoje (José Gomez Cantorna faleceu em 2016). Preserva boa parte do mobiliário do século passado, com direito a balcão com tampo de mármore, máquinas registradoras, balança e geladeira de madeira em funcionamento. Salgadinhos, petiscos, bacalhau, chope gelado fazem a alegria da fiel clientela. Rua Áurea, 26, Santa Teresa.

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Armazém São Thiago: conhecido como Bar do Gomez (Marina Herriges/Riotur/Divulgação)

Bar Brasil

Inaugurado em 1907, o salão com pé-direito de três metros sofreu uma repaginada durante a pandemia. Aprimorou a iluminação, reformou os banheiros, mas ainda ostenta a chopeira com 66 metros de serpentina, uma relíquia, além da geladeira de madeira. Os clássicos petiscos alemães também estão lá, firmes e fortes. Que tal fazer uma visitinha ou pedir o delivery? Avenida Mem de Sá, 90, Lapa.

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Bar Luiz

Aberto em janeiro de 1887, quando o Brasil era governado pelo imperador D. Pedro II, o bar concentra episódios emblemáticos. Um deles resultou na mudança para o atual nome. Foi assim: o compositor Ary Barroso evitou que ele fosse depredado por um grupo de estudantes do Pedro II: coube ao compositor de Aquarela do Brasil explicar que o Bar do Adolph era assim chamado em homenagem ao antigo dono, e não tinha nada a ver com outro Adolph (Hitler), que, na época, espalhava o horror na II Guerra Mundial. Diante das dificuldades, quase fechou as portas nos últimos tempos, o que gerou comoção geral. No salão, o chope, bem tirado, ainda recebe elogios. Para comer, muitas delícias da Alemanha, como salsichas, bife à milanesa de porco com salada de batata, eisbein (joelho de porco)… Rua da Carioca, 39, Centro.

Bar Luiz
Bar Luiz: especialidades da Alemanha (Redação Veja rio/Divulgação)

Café Lamas

Em 1974, com 102 anos de funcionamento, o estabelecimento teve de mudar do ponto onde surgiu, ao lado Cine São Luiz, em abril de 1874, por conta das obras do metrô. O sobrenome do fundador (Francisco Tomé dos Santos Lamas) deu origem ao nome do negócio, o mais antigo na ativa do país. Ficou conhecido por abrir durante 24 horas por muito tempo. Na primeira encarnação, a casa só baixou as portas durante a Revolta da Vacina, em 1904, e no dia do suicídio de Getúlio Vargas, cinquenta anos depois. Entre seus frequentadores ilustres consta o ex-presidente, que consumia chá com torradas antes de seguir para o Palácio do Catete. Até hoje, serve porções fartas e conhecidas, como o filé à oswaldo aranha e pastéis, entre outros. Rua Marquês de Abrantes, 18, A, Flamengo.

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Casa Paladino

Desde 1906, o misto de armazém e bar na Rua Uruguaiana, que ainda funciona como secos e molhados, preserva mobiliário de madeira e vistosas cristaleiras. Entre os comes e bebes de sucesso por lá estão as omeletes (a de camarão é disputadíssima), o sanduíche triplo: de provolone, ovo e presunto no pão francês e o chope, claro. Rua Uruguaiana, 224/226, Centro.

Nova Capela

Aberto em 1903, o pioneiro na Lapa mudou de endereço dentro do bairro, devido ao processo de urbanização, mas há mais de meio século permanece no mesmo ponto, na Mem de Sá. Porto seguro da boemia carioca, foi frequentado por políticos e artistas. Reza a lenda de que o Dr. Oswaldo Aranha (advogado, político e diplomata brasileiro) pedia sempre um filé com lascas de alho fritas quando estava lá, criando assim o famoso filé batizado com seu nome. Seu carro-chefe é o cabrito assado combinado com chope gelado, mas tem ainda bolinho de bacalhau e muitas outras delícias. Avenida Mem de Sá, 96, Centro.

1º lugar (22% dos votantes)
Cabrito do Nova Capela: clássico (Redação Veja rio/Divulgação)

Rio Minho

Fundado em 1884 por um português, o restaurante passou pelas mãos de outros dois patrícios até ser assumido por Ramon Isaac. Por lá passaram clientes como Antonio Houaiss (1915-1999), ministro Pedro Leão Veloso (1887-1947), ambos eternizados em fotos penduradas nas paredes, onde está também a imagem do embaixador José Sette Câmara (1920-2002). Conta-se que Veloso teria criado uma sopa assemelhada à receita que degustara em Marselha, a bouillabaisse. Com peixe, lula e camarão, o prato entrou para o menu, e para a história, como a sopa leão veloso. Faz sucesso também a casquinha de cavaquinha. Rua do Ouvidor, 10, Centro. 

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