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Manual de Sobrevivência no século XXI

Por Analice Gigliotti, Elizabeth Carneiro e Sabrina Presman Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Psiquiatria
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O nude de Ney Matogrosso: quem tem medo do sexo na terceira idade?

Foto postada pelo artista gerou polêmica porque contrapõe o que a sociedade espera de um homem de 80 anos

Por Analice Gigliotti
Atualizado em 9 set 2021, 12h33 - Publicado em 9 set 2021, 09h32
Foto do cantor Ney Matogrosso.
Ney Matogrosso: artista falou sobre os anos 70, fase mais sexualizada de sua vida (Internet/Reprodução)
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Pense no seu avô. Provavelmente, a imagem que virá à cabeça de muita gente é de um velhinho, cabelos ralos (se não careca), andando com dificuldade, talvez apoiado por uma bengala, óculos de lentes grossas apoiado sobre o nariz. Essa visão é a antítese de Ney Matogrosso. Criativo, inteligente, sexy, honrado, Ney acaba de chegar aos 80 anos, dando um show de forma física e mental, com a cabeça antenada no presente. Eis que toda a vitalidade do cantor se confirmou mais uma vez quando ele postou semana passada uma foto de seu pênis ereto. “Queria mandar por WhatsApp, mas apertei o botão errado e publiquei por engano”, explicou Ney a VEJA.

A imagem íntima foi apagada em poucos minutos, mas foi tempo suficiente para alguns de seus mais de 850 mil seguidores printarem a imagem e ela circular à vontade. Como dizem por aí, Ney “quebrou” a internet: só se falou dele e do seu nude. Mas por que a nudez de Ney Matogrosso causou tanto furor?

Ney sempre provocou o status quo. Ele sabe disso e, artista inquieto que é, gosta de ocupar esse lugar. Ney incomoda os caretas desde que surgiu, no grupo Secos & Molhados, com o corpo praticamente desnudo, coberto por apenas uma tanga e algumas penas, o rosto pintado e a voz fina e cristalina.

Porém, desta vez, a surpresa se deu por envolver um pênis ereto. “Até tu, Ney?”, devem ter pensado alguns. O nome disso é etarismo: preconceito baseado na idade. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), uma em cada duas pessoas relata já ter cometido discriminação por idade. E se esse preconceito existe na família e no mercado de trabalho, ele é ainda mais forte no que concerne ao sexo. É como se depois de uma certa idade, ele se tornasse um tabu.

No livro “Sexo no cotidiano”, que acaba de ser lançado, a psiquiatra Carmita Abdo, uma das maiores especialistas do país sobre a sexualidade do brasileiro, destaca que a crença de que as pessoas mais velhas não têm vida sexual é um dos mitos da sociedade moderna. Segundo Carmita, os idosos não só transam, como gostam de fazer sexo. “Conheço tanta gente com mais de 70 anos de idade com boa saúde mental, que pratica esporte e mantém uma alimentação equilibrada, com vida sexual melhor do que muitos jovens com vida desregrada”, declarou, por ocasião do lançamento de seu livro. Em um momento em que as pesquisas apontam que o tesão morreu entre os mais jovens não é pouca coisa.

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De acordo com Carmita, esse comportamento acontece porque o sexo não é uma ação isolada, ele depende da condição geral de saúde. E talvez esteja aí a chave para entender o incômodo com a nudez de Ney Matogrosso. Saudável, regrado, avesso a cigarro e álcool, a boa forma física e sexual de Ney é um reflexo do seu estilo de vida. E arrisco dizer que tal percepção pode ser estendida aos demais artistas dessa geração: Caetano, Gil, Paulinho da Viola, todos homens em ótima forma, física e mental.

Recentemente, tive o privilégio de participar de uma live com Ney Matogrosso sobre “Preconceito e Saúde Mental”, na página da Espaço Clif. Generoso, articulado, libertário, não há ninguém que combine menos com qualquer preconceito que Ney Matogrosso, seja por idade, gênero ou sexo. Sem levantar bandeiras, apenas sendo o artista gigantesco que é, Ney tem o dom de, com elegância, jogar para escanteio o conservadorismo tosco e trazer ao centro da sociedade questões essenciais. Viva Ney Matogrosso, seus 80 anos e sua virilidade! Um Homem com H. E como é…

Analice Gigliotti é Mestre em Psiquiatria pela Unifesp; professora da Escola Médica de Pós-Graduação da PUC-Rio; chefe do setor de Dependências Químicas e Comportamentais da Santa Casa do Rio de Janeiro e diretora do Espaço Clif de Psiquiatria e Dependência Química.

 

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