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Por Analice Gigliotti, Elizabeth Carneiro e Sabrina Presman
Psiquiatria
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Os vencedores do Prêmio Nobel e o corte de verbas da ciência no Brasil

Premiação sueca confirma que educação, ciência e tecnologia são caminhos insubstituíveis para o desenvolvimento de sociedades

Por Analice Gigliotti
Atualizado em 15 out 2021, 12h58 - Publicado em 15 out 2021, 08h58

A Academia Sueca acaba de divulgar os vencedores do Prêmio Nobel de 2021. Coincidência ou não, todos os laureados de áreas científicas este ano tem pelo menos um vencedor que trabalha em universidades americanas. Trata-se de uma consequência inequívoca dos altos investimentos dos Estados Unidos, um país onde valoriza-se a pesquisa acadêmica e há pleno respeito aos profissionais da ciência. Não se trata de um privilégio exclusivamente americano. Em junho passado, Sarah Gilbert, cientista britânica que liderou as pesquisas da vacina da AstraZeneca contra a Covid-19 foi aplaudida de pé na quadra de Wimbledon, por longos minutos, e roubou o protagonismo do tenista Djokovic.

Todo o reconhecimento e prestígio que cientistas gozam no exterior soou ainda mais distante na última semana: o governo do Brasil, apoiado pelo Congresso, cortou 600 milhões de reais da pasta da Ciência e Tecnologia, que seriam usados para bolsa de estudo e apoio às pesquisas. Revoltado, Marcos Pontes, o ministro e ex-astronauta que não consegue decolar a própria pasta, falou à imprensa sobre a frustração e a dificuldade de trabalhar com quase 90% a menos do orçamento, cujo dinheiro foi transferido para áreas de outros sete ministérios. E quem ousaria dizer que ele não tem razão?

Órgãos e fundações ligadas à pesquisa, à tecnologia e à ciência se manifestaram contra o corte de verbas, que praticamente extingue o orçamento deste ano para as áreas. A medida prejudica o desenvolvimento do país e impede iniciativas de pesquisa de instituições de referência, como o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).

Verdade seja dita: a pasta da Ciência e Tecnologia nunca contou com grande prestígio de governos no Brasil, independente da orientação política ou ideológica. Há décadas, cientistas alertam para todo tipo de percalço: da falta de estrutura física de trabalho à dificuldade de importação de insumos. O minguado orçamento da pasta jamais despertou o interesse das autoridades e sempre funcionou como um apêndice em políticas públicas. O resultado é conhecido como “fuga de cérebros”: alguns dos nossos mais reconhecidos cientistas e profissionais de tecnologia que se veem obrigados a procurar melhor campo de trabalho no exterior.

Porém, o constrangimento agora é maior porque a pandemia acaba de nos dar uma prova global e coletiva do poder de uma ciência de ponta, colocando no mercado uma vacina em menos de um ano e que garantiu a sobrevivência de milhões de pessoas. Que os governos não percebam neste fato um estímulo decisivo para um aumento de verbas é frustrante – como brasileira e profissional de saúde.

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A pesquisa de David Card, Guido Imbens e Joshua Angrist, vencedores do Prêmio Nobel de Ciências Econômicas em 2021, concluiu que um ano a mais de estudo representa um acréscimo de 9% ao salário. Uma prova (premiada!) de que educação, ciência e tecnologia são caminhos insubstituíveis para o desenvolvimento de sociedades.

Analice Gigliotti é Mestre em Psiquiatria pela Unifesp; professora da PUC-Rio; chefe do setor de Dependências Químicas e Comportamentais da Santa Casa do Rio de Janeiro e diretora do Espaço Clif de Psiquiatria e Dependência Química.

 

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