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Na biografia de Arthur Sendas, décadas de histórias do Rio e do varejo

Empresário montou rede regional com 83 lojas no estado, chegando à segunda maior do Brasil; ele visitava filiais e conhecia funcionários pelo nome

Por Paula Autran
11 abr 2022, 08h16

Ao dar seu sobrenome ao pequeno armazém em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, que em 1960 originou aquela que por décadas foi a maior rede de supermercados do estado, alternando-se entre o segundo e o terceiro lugar no ranking das grandes do país, Arthur Sendas fez do Rio uma extensão de sua casa. Nasciam as Casas Sendas, uma marca que chegou a estar em 83 lojas, onde nunca faltaram água gelada e cafezinho grátis – algumas serviam mais de 20 quilos de café, moído na hora, diariamente. Almoçando com os funcionários, que passava a conhecer pelo nome; visitando as filiais com frequência; conversando com clientes e colhendo percepções, Seu Arthur, como era chamado, inovou o setor de serviços, tornando-se uma figura carismática e admirada.

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Torcedor fanático do Vasco e devoto ardoroso de São Judas Tadeu, este empresário que tinha a cara do Rio tanto quanto tentou imprimir aqui a sua cara acaba de ganhar uma biografia. Escrito pela jornalista Luciana Medeiros e com prefácio do ex-ministro da Fazenda e embaixador Marcílio Marques Moreira, “Arthur Sendas, uma história de pioneirismo e inovação” conta não apenas sua história, mas a da cidade, a do varejo e a da economia do Brasil, até sua trágica morte, em 2008: aos 73 anos, ele foi baleado na cabeça em seu apartamento, no Leblon, por um motorista da família. Herdada por Arthur Sendas Filho, a rede teve 50% de seu capital comprados pelo Grupo Pão de Açúcar em 2003. Sete anos depois, o grupo decidiu extinguir a marca até o fim de 2011. A maioria das lojas Sendas foi rebatizada de Extra. Algumas destas hoje estão se tornando filiais dos atacadistas Assaí.

Arthur Sendas fez grandes investimentos no Rio, e se dedicou especialmente a São João de Meriti, onde comprou imóveis e terras para construir lojas importantes, na contramão da tendência de alugar espaços. Na Baixada Fluminense, instalou a Sendolândia, o clube de lazer dos funcionários. E investiu no Shopping Grande Rio quando este tipo de centro comercial era privilégio da Barra da Tijuca e das classes A e B. Tinha o sonho de construir um condomínio na região, e contratou o arquiteto que fez Nova Ipanema e Novo Leblon para replicar o modelo, o que não chegou a sair do papel. “Isso acabou se revelando uma grande estratégia, porque esses locais foram transformados em galpões hoje alugados para gigantes do e-commerce, bem no meio da Via Dutra, com acesso direto à Linha Vermelha, ao aeroporto e  ao porto. Um patrimônio imobiliário estratégico para o estado”, avalia Luciana, que reuniu mais de 50 depoimentos para o livro, a ser lançado nesta terça (12).

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Embora tenha estudado só até a 5ª série, Arthur Sendas via além dos números nos negócios. Líder da Associação Comercial do Rio de Janeiro e da Associação Brasileira de Supermercados, o empresário foi pioneiro nas práticas de solidariedade e inclusão, tendo inventado, por exemplo, a figura dos “marrequinhos”, jovens aprendizes da periferia que tinham na Sendas a chance para seu primeiro emprego. Morou no Alto da Boa Vista e, quando um temporal isolou a área, chegou a contratar tratores e helicópteros para abrir caminho e levar feridos para os hospitais.

E ai de quem duvidasse que alguém vendia mais barato. Um exemplo estava nos estandes de discos e fitas cassete que havia nas Casas Sendas desde os anos 1960. Luciana conta que os LPs podiam ser comprados ali a preços até 30% mais baixos do que nas lojas especializadas, que muitas vezes preferiam comprá-los lá em vez de nas gravadoras, para ter mais lucro ao revender. “A Sendas era a maior compradora de discos do estado. Por isso era muito prestigiada pelos artistas, que iam dar show e fazer tarde de autógrafo na Sendolândia e nas inaugurações de filiais”, diz a autora, que dá como exemplo o caso dos Carpenters. Em 1981, a dupla de irmãos veio ao Rio para lançar seu último disco, Made in America. “Não havia shows previstos na agenda. Mas Karen e Richard, que venderam 14 milhões de cópias, acabaram se apresentando no Shopping Sendas, à beira da Via Dutra, num show surpresa em pleno estacionamento, para dezenas de passantes espantadíssimos”, conta a autora. Os dois cantaram sucessos usando playbacks instrumentais.

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“Seu Arthur  se preocupava em valorizar a Baixada Fluminense o tempo todo”, enfatiza Luciana, sobre este empresário que se tornou símbolo de uma época do Rio.

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