Por Marcelo Copello
Massandra: este vinho tem tanta história quanto idade. Trata-se do melhor e mais raro vinho jamais feito na Rússia. Tudo começou no final do século XIX com Mikhail Vorontsov, um Conde apaixonado por vinhos, mais rico que o próprio Tsar. Ele resolveu importar mudas de toda a Europa e emular todos os tipos de vinhos possíveis em vinhedos na Criméia, próximo à cidade de Massandra.
O resultado entusiasmou ao Tsar Nicholas II, que encorajado por Vorontov construiu uma fabulosa sua própria vinícola em 1894 com o objetivo de fazer os vinhos para abastecer seu palácio de verão, chamado de Livadia, próximo à Yalta. Escavado na montanha, esta famosa adega, hoje uma atração turística, resistiu a um grande terremoto em 1920, às guerras mundiais e à revolução Russa. O túnel de 150 metros guarda cerca de 1 milhão de garrafas (a mais antiga é de 1775). A coleção só sobreviveu à Lenin e os bolcheviques pois o túnel foi emparedado durante a revolução, ocultado o tesouro. Redescoberta em 1920, a adega foi preservada por Stalin, até que, com a invasão nazista em 1941 as garrafas foram removidas para a Georgia, só retornando após a guerra para a famosa conferência de Yalta, que reuniu Stalin, Roosevelt e Churchill em 1945.
O conceito da empresa era criar todo o tipo de vinho que o Tsar pudesse precisar, para seu consumo e para os eventos sociais e religiosos do palácio, desde vinho de missa, passando por tintos e brancos até chegar aos de sobremesa, que são os melhores Massandra. Estes fortificados são lendários e foram produzidos em diversos estilos: Porto, Madeira, Jerez, Tokaji, Marsala etc. A vinícola ainda produz, mas as mais cobiçadas são as safras antigas, algumas do tempo do Tsar.
Reza a lenda que a cada ano 10 mil garrafas eram estocadas como reserva pessoal do Tsar. Hoje parcelas do que resta desta coleção, conhecida como “The Massandra Collection”, são eventualmente vendida em leilões por pequenas fortunas.
Em dezembro de 2004 a Sothebys de Londres colocou à venda 400 lotes de 150 tipos de Massandra antigos, com um valor total de meio milhão de libras!
Tive o privilégio do provar dois Massandras desta coleção.
Massandra White Muscat 1939
Cor âmbar amarronzada, levemente turvo (veja foto). Aromas intenso e complexo, que se desenvolveu muito na taça, com notas de flores, geleia de laranja, baunilha, mel, chocolate branco, figos secos, caramelo, chá. Paladar muito doce, mas com frescor incrível, um vinho de grande estrutura, com doçura, acidez e álcool em perfeita harmonia.
Nota: 95 pontos
Massandra Livadia Red Port 1936
Fortificado, do tipo porto, elaborado com Cabernet Sauvignon, tinha cor âmbar um pouco turva. Os aromas eram etéreos e vincados, marcados por mel, damasco, laranja e tangerina confit, com toques de iodo, madeira e especiarias. Paladar doce, com boa acidez, longo e untuoso. Lembrou-me mais um Madeira antigo ou um soberbo Moscatel de Setúbal, que um Porto.
Nota: 95 pontos
Massandra Tokaji Al-Danil 1929
Um vinho com quase 90 anos de idade, fortificado, tinha muitas borras, era marrom na cor e muito denso, quase oleoso. Aromas de grande complexidade, terrosos, defumados, chocolate, shoyu, mel, chá preto, caramelo, resinas. Paladar cremoso, com 16% de álcool, doce e extremamente longo.
Nota: 97 pontos
Estes vovôs, apesar da idade avançada, continuam emocionando e merecem aplausos!