Rubens Menin investe €60 milhões no Douro e quer retorno de 20% ao ano
O empresário brasileiro fala sobre sua entrada no mundo do vinho em Portugal, investimentos milionários, enoturismo e lições que só o terroir ensina.

Acompanho a trajetória de Rubens Menin há muitos anos e sempre o admirei como empresário inquieto e visionário. Seu nome já é sinônimo de sucesso em áreas como construção civil, mídia, finanças e até futebol. Mas foi com surpresa — e curiosidade — que vi seu nome surgir no mundo do vinho. Resolvi, então, conversar com ele sobre essa nova paixão, que de hobby virou negócio milionário.
Com investimentos que já somam €60 milhões em Portugal, Menin construiu a Menin Wine Company com a mesma ambição e precisão com que ergueu seus outros impérios. Falamos sobre retorno financeiro, terroir, barricas de altíssimo padrão e o poder do enoturismo. E, claro, também sobre tempo, paciência e prazer — atributos que o vinho, mais do que qualquer outra atividade, ensina a cultivar.
A seguir, compartilho essa entrevista exclusiva e reveladora, com um dos nomes mais influentes do empresariado brasileiro, agora também enófilo profissional.
Marcelo Copello: O senhor construiu sua reputação no setor imobiliário e financeiro. O que o motivou a entrar no mundo do vinho e por que escolheu Portugal como base para esse investimento?
Rubem Menin: Foi numa viagem em 2013 a Portugal. Dei uma passada no Estádio do Dragão, do FC Porto. Descobri que o Douro era um lugar simplesmente espetacular para fazer vinho. Já havia viajado o mundo, mas nada batia a beleza e o potencial desse local. E, olha só, as terras de lá eram muito mais baratas do que o resto da Europa. Foi paixão à primeira vista e uma grande oportunidade de negócio também. A partir daí, começamos a estruturar tudo e iniciamos a operação em 2018.
MC: Qual foi o tamanho do investimento inicial na vinícola portuguesa e qual é o plano de retorno? Trata-se de uma aposta de longo prazo ou há metas específicas de rentabilidade?
RM: O investimento inicial foi de € 30 milhões, hoje já chagou a € 60 milhões. A ideia é ter um ROI de 20% ao ano. O foco está em construir um negócio sólido e sustentável, com crescimento contínuo. E com vinho bom, a margem é excelente. O breakeven está entre 6 e 7 euros por garrafa. Mas desenvolvemos um produto com tanta qualidade que conseguimos vender acima de 20 euros. Portanto a margem é muito boa.
MC: Como empresário brasileiro investindo no exterior, quais foram os principais desafios regulatórios e operacionais enfrentados ao montar uma vinícola em solo europeu?
RM: Tivemos desafios naturais de qualquer novo empreendimento, como compreender a burocracia local, montar uma equipe qualificada e definir os melhores insumos — incluindo as barricas T5, de altíssimo padrão. Só para se ter uma ideia, custam cerca de 2.200 euros (cerca de R$ 14.000 no câmbio atual). Também foi essencial estruturar com cuidado a produção. Mas, acima de tudo, o ponto mais importante foi entender e respeitar o terroir para produzir um vinho de alta qualidade. Entrar nesse mercado com um produto realmente diferenciado nos permite atuar em um segmento premium, com margem saudável e posicionamento sólido.
MC: A recente aquisição da Quinta Bulas representa um marco importante para a Menin Wine Company. Quais são os planos específicos para integrar essa nova propriedade ao portfólio e estratégias existentes?
RM: Essa compra foi um golaço estratégico. A vinícola fica na região do Cima Corgo, no Douro, a mais antiga região vitivinícola regulamentada do mundo. São 53 hectares, com nove de vinhas velhas, o que aumenta nosso total para mais de 200 hectares e mais de 29 de vinhas antigas. É uma compra que vai fortalecer nosso portfólio e ainda traz uma uva rara para o grupo, a Rabigato Moreno, inédita nas nossas propriedades. Além disso, reforça nosso foco na produção de vinhos de qualidade e no enoturismo, que é uma frente importante para a gente. Foi um investimento de 6,5 milhões de euros, que mostra o quanto acreditamos no potencial da região e no crescimento da Menin Wine Company. A nova quinta permitirá um aumento de mais de 30% na capacidade de produção atual de garrafas e vem reforçar o investimento e nosso compromisso na valorização do Douro e na projeção dos vinhos portugueses no mundo.
MC: Enoturismo, marca própria e posicionamento premium: qual é o modelo de negócios da vinícola e quais frentes devem gerar maior receita?
RM: A combinação das três frentes é o que sustenta nosso modelo de negócios e garante potencial real de crescimento. Apostamos firme no vinho premium, focando em qualidade e no terroir. A produção está projetada para cerca de 650 mil garrafas por ano. Entretanto, nosso foco não é volume, mas oferecer um produto de excelência que o consumidor reconhece e valoriza.
Mas o negócio vai além da produção. O enoturismo tem sido uma frente fundamental para a gente. Criamos experiências completas, com degustação e visitas guiadas, que fortalecem o vínculo com o consumidor e ajudam a consolidar nossa marca. Isso também traz receita e valoriza a cultura do vinho e a região onde atuamos. É assim que enxergamos o caminho para crescer de forma sustentável e consistente.
MC: Quais indicadores de desempenho o senhor acompanha para avaliar o sucesso da operação vinícola? E qual é a sua meta de faturamento para os próximos anos?
RM: Nosso foco principal é o ROI, que buscamos manter em torno de 20% ao ano. Também acompanho de perto a margem EBITDA, que está em um patamar bastante elevado, demonstrando que o negócio não só oferece um retorno atrativo, mas também opera com eficiência e sustentabilidade. Com essa base sólida, temos plena confiança no potencial de crescimento e na capacidade de gerar valor de forma consistente ao longo do tempo. Nossa meta de faturamento acompanha esse ritmo de crescimento, com o objetivo de consolidar a Menin Wine Company como uma referência no segmento.
MC: O Grupo Menin atua em setores diversos como construção civil, mídia, finanças e futebol. Há sinergias sendo exploradas entre esses negócios e a vinícola — seja em distribuição, comunicação ou relacionamento com clientes de alto padrão?
RM: É importante destacar que não constituímos um grupo. Eu, como empresário, investi em diferentes setores. Claro que dá para cruzar as coisas. No fim das contas, tudo tem a ver com geração de valor, seja para o acionista, clientes, a sociedade… Seja construindo estádio, banco digital ou vinho, o princípio é o mesmo: fazer bem-feito, com gente boa e muito qualificada no time. E quando dá, um negócio ajuda o outro.
MC: Além do prazer pessoal, que ensinamentos empresariais a experiência com o vinho trouxe ao senhor? Há algo que outros setores podem aprender com esse mercado?
RM: Com certeza. No vinho, como no futebol, você aprende a respeitar o tempo. Não adianta querer apressar a natureza. É preciso paciência, atenção aos detalhes. Aprendi a observar mais, a escutar mais. E, como em qualquer bom negócio, tem que ter paixão.
MC: Para encerrar com leveza: Para brindar um título do Atlético com um grande vinho, qual rótulo escolheria para levantar a taça com o time?
RM: Dona Beatriz de qualquer safra disponível