Vinoteca Por Marcelo Copello, jornalista e especialista em vinhos Marcelo Copello dá dicas sobre vinhos
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Richebourg – o irmão mais rico do Romanée-Conti

Com muita honra participei de uma vertical de 32 safras de Richebourg, entre 1931 e 2007

Por marcelo
Atualizado em 19 abr 2018, 20h00 - Publicado em 19 abr 2018, 20h00
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  • Não se assuste com o título acima. O Romanné-Conti continua sendo o vinho mais caro da Domaine de La Romanée-Conti (DRC) e o vinho de maior prestígio do mundo. Quando perguntado, contudo, sobre como descrever o Richebourg, o prorpeitário da DRC,Aubert de Villaine, usou apenas uma palavra: “riqueza”. Afinal, no quesito opulência e riqueza de aromas e sabores o Richebourg por vezes supera seu irmão maior, o Romanée-Conti. Com muita honra participei de uma vertical de 32 safras de Richebourg, entre 1931 e 2007, conduzida por ninguém menos que Aubert de Villaine e sua esposa Pamela. Deixo aqui registrada a imensa gratidão a quem me proporcionou e comigo compartilhou esta oportunidade única.

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    Captura de Tela 2016-03-01 às 3.01.56 PM

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    Filosofia e história

    A filosifia de Vilaine, sexta geração à frente desta mítica empresa, é ser discreto, quase austero, como um monge e serviço do terroir. Foi seu ancestral Jacques-Marie Duvault-Blochet, que em 1855 comprou o vinhedo Richebourg e anexou-o aos demais vinhedos da família, que hoje produz 7 famosos Grand Crus, todos de produção muito pequena e alto preço: La Romanée-Conti, Le Montrachet, La Tâche, Richebourg, Romanée-Saint-Vivant, Grands-Échézeaux e Échézeaux. Até 1794 estes vinhedos pertenciam a abadia de Citeaux e antes passaram por várias mãos, entre elas as do prícipe de Conti, que acrescentou seu nome ao mais famoso vinhedo do planeta.

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    A AOC Richebourg

    Não é apenas a DRC que produz o Richebourg, ou seja, este vinhedo não é um “monopole”. A Appellation d´Origine Contrôlée (AOC) Richebourg, localizado na região de Vosne-Romanée no coração da Borgonha, imediatamente ao norte do Romanée-Conti, totaliza 8,03 hectares, dos quais a DRC é o maior proprietário com 3,51 hectares. Embora nenhum outro Richebourg se equipare ao da DRC, esta é uma AOC é muito consistente, e todos são ótimos vinhos. Entre os especialistas em Borgonha é consenso que o Richebourg é o mellhor vinhedo não “monopole” da região. Os monopole de Vosne-Romanée são apenas 4: Romanée-Conti, La Romanee, La Tache e La Grand Rue.

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    Em termos de terroir os vinhedos Richebourg estão em uma altitude entre 250 e 310 metros, com solo com um pouco mais de argila (e menos calcário) que seu vizinho Romanee-Conti, o que lhe confere o já decantado toque a mais de riqueza e força.

    Vinhedos da DRC

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    A Domaine trabalha com vinhas de ao menos 40 anos de idade. As uvas das vinhas mais novas tem seus frutos separados e vendidos anonimamente a granel. Os rendimentos são ridiculamente baixos, na casa de 25-30 hectolitros por hectare. Todos vinhedos são tratados como orgânicos desde 1986 e em 1990 iniciaram práticas biodinamicas. Desde 2007 todos os vinhedos da empresa já são biodinâmicos. Um batalhão de pessoas trabalha na colheita, 90 trabalhadores colhem durante 10 dias e  14 pessoas trabalham na mesa de seleção de cachos e de uvas. A colheita é tardia, com o objetivo de obter a maturação perfeita das uvas, e extrair taninos de alta qualidade.

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    Como são feitos os vinhos da DRC

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    No que diz respeito á vinificação, elaboração dos vinhos da DRC é simplérrima. O conceito do enólogo Bernard Noblet e do proprietário Aubert de Vilaine é de serem apenas intermediários entre o solo e o vinho, proporcionando a mais pura expressão do terroir, com o mínimo de intervenção possível. Segundo palavras de Villaine, “não há nada mais difícil do que ser simples”.

    Captura de Tela 2016-03-01 às 3.00.30 PM

    (Aubert de Villaine e sua esposa Pamela na vertical do Richebourg )

    Normalmente usam a maior parte dos engaços (finos caules que formam os cachos). Quanto melhor a safra, menos desengaçam e algumas como 1999 e 2005 usaram 100% de engaços. Os engaços podem trazer notas herbáceas e de amargor, mas trazem distinto aroma florais dos vinhos da DRC. A fermentação ocorre em toneis de madeira e as uvas, que estão a 15oC naturais, começam a fermentar lentamente e podem chegar a 35oC (não há resfriamento após o inicio da fermentação. Tudo segue naturalmente, com leveduras selvagens e pigeage (mistura do mosto com a parte sólida – cascas e engaços) manual duas vezes ao por dia, com 17-21 dias de maceração.

    Em alguns raros anos fazem chaptalização (adição de açúcar ao mosto) e nomelmante usam cerca de 10% é vinho de prensa. Depois da débourbage (decantação) os vinhos fazem a fermentação malolática em barricas com as borras finas em barrica 100% novas de carvalho. As madeiras usadas são das florestas de Tronçais e Bertranges, selecionadas pela DRC e secas sob supervisão da Domaine por 3-4 anos. Depois as barricas são feitas por François Frères especialmente para a DRC. Algumas barricas são compradas diretamente da Taransaud. Os vinhos amadurecem em barricas por cerca de 18 meses e nunca são filtrados no engarrafamento.

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    O Richebourg da DRC

    Elaborado 100% com uvas Pinot Noir e com produção entre 12-14 mil garrafas ao ano, o Richebourg DRC no Brasil está disponível na Expand por R$ 3.950,00 – safra 2007, ou R$ 4.890,00 – safra 2008. Safras mais antigas e raras podem alcançar altas cifras em leilões.

    Dos vinhos da DRC o Richebourg é mais masculino, como já dito, com  mais obviamente opulento, suntuoso e exótico, e um dos mais longevos – viril quando jovem, precisa de ao menos uma década para atingir a complexidade e evolui muito bem por várias décadas, como a prova a seguir nos comprova.

    Degustação e emoção

    A prova foi composta de 32 safras, entre 1931 e 2007 (com 1 safras em garrafas magnum, 1953 e as demais com duas garrafas de cada vinho). Quando falamos de caldos desta idade não falammos mais de safras e sim de garafas, já que após mais de 80 anos, como no caso da safra de 1931, cada garrafa traz sua história. Alguns resultados comprovam esta teoria, já que a famosa safra de 1959 foi de longe superada pela teoricamente inferior 1955.

    É dificil descrever a emoção de uma prova como esta, cobrindo 8 décadas de um dos maiores vinhos de todos os tempos, em especial pela presença do personagem que escreve a história, Aubert de Villaine. É inesquecível, entrou para meu currículo não apenas profissional, mas de vida. O sorriso não ia de orelha a olha, mas da ponta do pé ao último fio de cabelo. Publicarei aqui os vinhos com as 11 maiores notas em ordem decrescente de safra, facilitando a leitura. Consulte a tabela com todas as safras e notas.

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    DESTAQUES


    2007

    Rubi muito claro, ainda jovem e frutado, perfil doce no nariz, com forte acento mineral e pleno de especiarias exóticas. Paladar, como todo Richebourg conjuga a leveza da Borgonha com uma estrutura sólida de taninos e acidez, bastante seco com taninos finíssimos bem presentes, ainda uma criança.

    Nota: 96 pontos

    2005

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    Cor jovial, aroma com frescor mineral, potente e elegante, Paladar estruturado por taninos extremamente finos e em grande equilibrio. Um Richebourg muito bem proporcionado e para longuíssima guarda.

    Nota: 97 pontos

    1989

    Que finesse! Que complexidade! Cor Granada, com aromas delicadamente florais e minerais, com noytas de terra molhada e frutas secas, cerejas, paladar encorpado, bastante seco, com taninos presentes, meio de boca gordo, vivo, em um ótimo momento, entrando em seu auge. Nota:pontos

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    1983

    Exuberante.Lembra um Porto velho no nariz, com muitos cogumelos, musgo, especiarias. Paladar largo no meio de boca, rico no nariz e boca,  pronto e em seu auge, delicioso.

    Nota: 97 pontos

    1979

    Alaranjado claro, muito expressivo, falando alto, com notas de musgo, frutas doces, especiarias exóticas, nota vegetal. Paladar largo, macio, boa acidez, aberto em seu auge, delicioso.

    Nota: 97 pontos

    1971

    Ao mesmo tempo bastante evoluido e com muito frescor. Elegante, mineral, finíssimo no nariz e boca, paladar ainda bem vivo, com taninos finos e vivos, boa acidez. Longo, sedutor, multi-dimensional, solar, Perfeito!

    Nota: 100 pontos

    1961

    Primeira garrafa aberta esta va defeituosa, a segunda um esplendor próximo a perfeição, um vinho maduro mas com vida pela frente, demosntrando extremo equilibrio, força e elegância. Nota: 99 pontos

    1955

    Alaranjado claro. Elegante e delicado Perfumado e expressivo. Floral e com muitas especiarias. Paldar macio, muito longo, exuberante.

    Nota: 98 pontos

    1943

    Cor já quase marrom. Nariz encantador, floral, ainda com notas de frutas primárias, mas emolduradas por resinas, mel, couro, madeiras, especiarias,defumados. Paladar perfeito, comoventemente macio, untuoso e delicioso, muito longo com toque de amargor no final.

    Dá vontade de beber de golão. Segundo comentários feitos durante a degustação por Aubert de Villaine, este foi um vinho feito pelas mulheres já que os homens estavam na guerra.

    Nota: 100 pontos

    1937

    Cor marrom claro, totalmente etéreo, muito expressivo, com notas animais de caldo de carne,  couro, aromas terrosos como musgo, notas salgadas, fundo de copo de passas. Paladar amplo e muito macio, untuoso e extremamente longo.

    Nota: 96 pontos

    1931

    Quase um Porto. Muito evoluido, complexo com muitas especiarias e aromas de doçura, mel, caramelo, melaço. Paladar denso, untuoso, quase cremoso, suculento, muito longo e com amargor no fim de boca. Uma viagem no tempo, emocionante.

    Nota: 98 pontos

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