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Asilo é passado: cariocas 60+ contam com opções de residência 5 estrelas

Avanço da população idosa no Rio desperta mercado voltado para moradias cheias de confortos e atividades, como cinema, salão de beleza e cozinha terapêutica

Por Paula Autran
17 Maio 2024, 06h00
As instalações do Cora Residencial, na Barra: há três meses lar do aposentado Bernardino Coelho Pontes, de 98 anos
As instalações do Cora Residencial, na Barra: há três meses lar do aposentado Bernardino Coelho Pontes, de 98 anos (Fotos Cora Residencial Premium - Península/Divulgação; Daniela Dacorso/Divulgação)
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Se os 40 são os novos 30, os 50 os novos 40, e assim sucessivamente, aqueles números aos quais se convencionou chamar de “terceira idade” já não são mais os mesmos. Aliás, este é um vocábulo posto em desuso pela ideia de que a passagem do tempo descortina uma etapa rica, na qual a idade já não é um valor absoluto como antes, com um batalhão de brasileiros se mantendo ativo e jovem de espírito. Vivendo mais e melhor, a população que cruzou a faixa dos 60 se expande no Rio, um dos três estados com o maior contingente idoso, de acordo com o último Censo do IBGE. Esse grupo, que já representa mais de 13% da pirâmide fluminense, gira as engrenagens da economia e desperta a atenção do setor imobiliário, que começa a oferecer soluções a um público que não quer se aposentar da vida. Eles contam com cada vez mais opções de moradia com direito a hotelaria cinco estrelas, cabeleireiro, cinema, aulas de dança, além do acompanhamento de profissionais como fisioterapeutas, psicólogos e enfermeiros. Nada a ver com o antigo modelo de asilo do passado. “Temos visto o surgimento de ambientes que propiciam a criação de grupos sociais, um potente remédio contra a depressão”, diz a neuropsicóloga Helenice Fichman, da PUC-­Rio, estudiosa do assunto.

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A economia prateada, como é conhecida, já ocupa a posição de terceira maior atividade econômica do planeta, movimentando 7,1 trilhões de dólares anualmente à base de um vasto mercado de produtos e serviços. “Na Europa e nos Estados Unidos, há até bairros planejados mirando essa faixa”, lembra o engenheiro Thomaz Assumpção, CEO da Urban Systems, consultoria de inteligência de mercado atenta a modelos de negócios para as construtoras desenvolverem aqui projetos inspirados no que há de mais avançado lá fora na área de senior living. Ele cita o exemplar caso de Barcelona, onde se ergueu uma superquadra em que condomínios para terceira idade convivem com outros, de dois dormitórios, voltados para casais com filhos, além de escola e praça. O obje­tivo é atrair os mais jovens para residir perto dos mais velhos, convivendo com seus pais e parentes num aprazível espaço que propicia encontros com os netos. “Os idosos de hoje buscam áreas de convivência em que possam ter contato com outras gerações”, explica Assumpção, com base em suas próprias pesquisas.

arte Asilo

A maior aposta do mercado imobiliário nesse nicho tradicionalmente conhecido como o dos Institutos de Longa Duração para Idosos (ILPIs) vem se transformando por completo. Hoje, destacam-se estruturas que, além de um bom teto, oferecem uma agenda que estimula a rotina social. Nos últimos cinco anos, os ILPIs saltaram de 473 para 522 no estado, 214 na capital, segundo o Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça da Pessoa Idosa do Ministério Público, que realiza ali inspeções anuais. “A palavra asilo é proibida aqui. Também não chamamos ninguém de paciente: são todos moradores”, esclarece Flávio Wrobel, diretor da W3 Engenharia e sócio da Rede Ser, “um residencial all inclusive com atividades de socialização”, segundo sua própria definição. O endereço, que não guarda semelhanças com as velhas casas de repouso, foi aberto em 2018, na Glória, num antigo hotel retrofitado de 81 apartamentos. Hoje, opera com 95% de ocupação, sendo apenas 30% totalmente dependentes de cuidados especiais. Pagando entre 8 000 e 12 000 reais, a turma que habita o lugar conta com alimentação, serviços de hotelaria e ainda sessões diárias de psicomotricidade e fisioterapia, mais cinema e cabeleireiro. “Estamos à procura de outros pontos na cidade para abrir filiais”, adianta Wrobel.

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Quem vive por lá reserva bons adjetivos à experiência. “Como hotel, é invejável. Tem equipes médicas, de limpeza, recreação. A comida é que é meio afrescalhada”, brinca Bernardino Coelho Pontes, de 98 anos, que há três meses escolheu morar no Cora Residencial Premium, na Península, bairro planejado da Carvalho Hosken na Barra, após um almoço em que o cardápio incluía camarão com chuchu, bastões de baroa e cenoura meia-lua. Contra-almirante reformado e ex-­professor universitário de física, ele trabalhou na Agência de Energia Nuclear em Viena, na Áustria, e ultimamente dividia a casa com uma neta, em Laranjeiras. “Na minha idade, entendi que o que preciso é disso aqui”, avalia ele, que é viúvo e anda entusiasmado com os novos amigos, uma paquera e festas não raro embaladas por música ao vivo. “Até pool party a gente já fez”, lembra a gerente da unidade, Hanny Faria. Na piscina aquecida, há inclusive um mecanismo que permite a cadeirantes entrar na água com segurança. Inaugurado em outubro de 2022, o Cora se espalha por uma ampla área, com cinema, cozinha terapêutica e salão de beleza por preços a partir de 19 000 reais mensais. No calendário, sessões de hidroterapia e hortoterapia fazem a alegria dos residentes.

Prestes a abrir em Copacabana: o Residencial Israelita RJZ terá 68 quartos e mensalidades a partir de 15 000 reais
Prestes a abrir em Copacabana: o Residencial Israelita RJZ terá 68 quartos e mensalidades a partir de 15 000 reais (Fotos Fundo RJZ/Divulgação)

A vitalidade do mercado se revela no conjunto de lançamentos que enveredam nessa direção. No Bairro Peixoto, em Copacabana, o Residencial Israelita RJZ, criado pelo Fundo Patrimonial RJZ, está prestes a abrir as portas em um antigo hotel recém-­retrofitado, o Jacuti, com 68 quartos para noventa pessoas que arcam com mensalidades a partir de 15 000 reais. Neste caso, o lucro da operação será canalizado à filantropia. “A procura tem sido enorme”, comemora Marcelo Klepacz, diretor executivo do fundo, que se originou do patrimônio deixado por Rogério Jonas Zylbersztajn, morto em 2018, que tinha como única herdeira a mãe, Raikel, já com 85 anos. Ela se sensibilizou pela causa ao visitar o Lar Israelita de Jacarepaguá, que vai operar o empreendimento. E o superávit será investido em outros exemplares cariocas do gênero. “Fornecemos todo o conforto e sobretudo boas memórias para quem está nesta fase da vida”, diz Klepacz.

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Há alternativas para socialização, tão essencial à vida longa, por toda a cidade e para todos os bolsos. A Secretaria Municipal do Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida soma oito casas de convivência em bairros como Botafogo, São Conrado, Gávea e Tijuca, que nos dias de semana oferecem aulas gratuitas de ioga, capoeira, artesanato, inglês, teatro e danças. “Focamos no idoso independente que busca um local de encontro”, relata a coordenadora Simone Antonio, citando ainda as academias para a terceira idade nas praças. No estado, a Secretaria Intergeracional de Juventude e Envelhecimento Saudável (cuja existência por si só já é um avanço) toca projetos como o dos Centros de Referência em Atenção à Pessoa Idosa, em fase de implementação, e o 60+Reabilita, com fisioterapia e outras atividades físicas gratuitas. Tudo isso contribui para a meta do envelhecimento saudável, estabelecida pela ONU para a próxima década. Um investimento mais do que necessário. A nova velhice, afinal, veio para ficar.

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