O monge sul-coreano Haemin Sunim perguntou para os amigos que vivem país o que estava rolando por lá. Eles responderam que o velho papo de “só se vive uma vez” já era. As pessoas já não caem na armadilha imediatista do consumo desenfreado. Mas não, as pessoas na Coreia do Sul não se iluminaram; elas chegaram a essa conclusão porque gastaram mais do que tinham. Agora, vivem a onda de encontrar as pequenas felicidades certeiras, como descreveu o autor japonês (que eu amo) Haruki Murakami.
Eu adoro receber esse tipo de informação. Como sou fascinada pela cultura oriental, vivo um mix de sentimentos que passam desde a esperança de que a gente entre numa onda global de mais lucidez e estado de presença, até o ceticismo de pensar que essa é só uma forma que os sul-coreanos encontraram de preencher o tempo com experiências simples enquanto eles pagam suas dívidas.
De qualquer forma, comer uma fatia de bolo quente, ouvir Paulinho da Viola, tirar um cochilo com a minha doguinha colada no meu coração, dar um mergulho no mar, tomar café da manhã aos domingos com a minha irmã, me deixam plenamente feliz naquele instante. Essas são algumas das minhas pequenas felicidades certeiras. E as suas?
Às vezes, as pessoas pensam que a felicidade só pode ser alcançada num futuro distante ou depois da conquista de um grande objetivo. Ou seja, depois de muitos anos de esforço. Em dezenas de situações, tento mostrar para meus pacientes nas sessões de terapia sonora que pode haver uma quantidade infinita de felicidade fora das convenções padronizadas porque cada indivíduo pode decidir onde encontrar a própria felicidade.
O conceito de Murakami requer presença. A felicidade está facilmente disponível se estivermos dispostos a desacelerar e prestar atenção para apreciar o que está bem diante de nós. Quando a sua mente fica mais tranquila, você vê coisas que ainda não havia notado, tanto dentro de você quanto no mundo.
É claro que se casar com a pessoa que você ama, ter um filho, ser promovido, e tantos outros sonhos que as pessoas compartilham na cultura que elas estão inseridas são fontes importantes de felicidade. Existe um senso de conquista e satisfação aqui. Por outro lado, se pensarmos que apenas esses eventos marcantes trazem a “verdadeira” felicidade, vamos passar a vida correndo atrás deles e logo chegaremos naquele estado que conhecemos bem: exaustão, frustração, expectativa, solidão.
Eu desejo que vocês descubram que a felicidade é feita de texturas e sentidos.
*texto inspirado no livro Quando as coisas não saem como você espera, de Haemin Sunim.