Dias de outono. 44 anos. Existe mesmo um sentido no mundo em que vivemos. Um ritmo. Uma orientação. De leste a oeste, do amanhecer ao anoitecer, da nascente ao mar. Mas também sei que existe algo invisível que impele a nossa vida rumo ao inesperado. Eu lido bem com as metamorfoses, a explosão, o kairós, o acontecimento. Talvez por isso, muitas pessoas me procuram; elas acreditam que eu sempre encontro o que dizer. Aprendi desde cedo que a cena muda.
O mistério e a crise me atraem – elas me parecem boas para pensar. A crise contém a possibilidade de uma outra vida, de um outro mundo. O mistério me convida a conexão em sonho com aqueles que conhecem os problemas de ser humano. Eles sabem que nada acontece por acaso, e que as trajetórias de vida se cruzam sempre por motivos bastante precisos.
Muitas vezes recorro aos amigos que falam comigo pela linguagem dos astros e dos mitos, das ressonâncias e das correspondências. Afinal, aquilo que está no fundo do corpo do outro será para sempre inacessível a você. Quem pode dizer o que uma pessoa traz em si, o que ela sente? Quem é capaz de elaborar os motivos que a levam a se mover no mundo?
Sugiro que você aprenda a escutar a fera. No início é estranho, mas logo você atrai pessoas que também entendem os seus problemas de fera. Não conheço outro caminho para que o bicho de dentro se recomponha e recupere seus direitos, se apodere de sua potência.
Vá para dentro. Observe quando alguma coisa acontece. Quando alguma coisa se aproxima e se abate sobre você. Não tenha medo. Não é um embate, é uma dança. O mais bonito dessa jornada é que tudo é permitido quando renascemos das próprias cinzas. Então aproveite. Ria às gargalhadas e aprenda a se mover com o seu bicho.
Desejo que você um dia compreenda que haverá uma única história, polifônica, que você tece junto com a sua fera, sobre tudo aquilo que te atravessa e te constitui.