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Blog do novelista Manoel Carlos

Chuvas de verão

"Todo ciumento acaba achando mais do que procura". Leia na crônica de Manoel Carlos da semana

Por Manoel Carlos
Atualizado em 4 mar 2018, 16h24 - Publicado em 4 mar 2018, 16h24
 (Léo Martins/Veja Rio)
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“Falar mal das mulheres é costume
De todo amante que não foi feliz.
Um coitado, mordido de ciúme,
Tudo maldiz
E se maldiz.
Pois confesso que nisso se resume
O que fui e o que fiz.”

Assim começa um poema que conheço há muitos anos — mais de sessenta! — e estou citando de cor seus primeiros versos.  Por causa disso, me perdoem por qualquer imprecisão.

Parecem versinhos inocentes de uma história de amor, com “mea-culpa” no final, mas a verdade tem muitas faces e, no caso presente, o que se tem é um amante ferido e contrariado, arrependido, mas que voltará ao ressentimento e ao ciúme assim que seja perdoado. Qualquer pessoa, entre homens e mulheres, pobres ou ricos, já sentiu esse punhal nas costas.

É comum que a mulher continue infeliz, choramingando:

— Ele sempre teve muito ciúme, já fez cenas na frente dos amigos, me agrediu, me perseguiu na rua, mas depois sossegou… me deu a entender que estava curado desse ciúme absurdo, mas…

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Você então argumenta, a título de consolo:

— É uma fase. Daqui a pouco ele se acalma…

Mas existem mulheres que sabem que a coisa não é bem assim.

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— Obrigada por me animar, preciso dessa ajuda dos amigos, mas…

Tal como aparecem nas novelas de TV, as histórias de amor nem sempre caminham da mesma maneira. Muitas acabam na cozinha, o casal fazendo uma comidinha, os dois quase nus. Ou nus. Trocando beijinhos e rindo, entre novas promessas
que já nascem com um pé na cova.

Dos que fazem as pazes, é comum o ciumento jurar ter superado a crise e propor a paz absoluta e definitiva. Aí partem para mais uma cena de amor, com fúria, o caminho já pavimentado, mas… na hora H ele interrompe o final glorioso do ato amoroso e pergunta:

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— Se você contar a verdade, eu juro que… esqueço isso pra sempre! Tudo bem?

Diante dessa pergunta, você vai se odiar por ter acreditado nele mais uma vez. Mas concorda. Também diz que vai dar mais uma chance, mas… a verdade é que dentro do seu coração esse seu marido já começou a morrer — e não é de hoje. Você aprendeu que o amor pode não acabar, mas o desejo… o desejo já era!

E, mentalmente, lutando para não sorrir demais, você vai cantarolar…

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“Podemos ser amigos simplesmente.
Coisas de amor nunca mais.
Ressentimentos passam com o vento,
São coisas do momento,
São chuvas de verão…”

E dando mais uma prova da sua solidariedade, você ainda aconselha:

— Mas cuidado. Todo ciumento acaba achando mais do que procura.

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