Gastronomia, por Bruno Calixto
A força do vegetal e a estreia no Rio na dianteira do 50 Best
Ao longo de dez anos, o Lasai nos aproximou ainda mais de verduras, legumes e tubérculos à mesa. Imprimiu no salão um glossário de nomes desconhecidos, que, com o passar do tempo, foram ganhando outros sabores e sentidos: araruta, mel de mombucão e de uruçu-amarela, mostarda kyoto, cracker de folha desidratada, folhas, ervas, copa lombo de porco Moura, pinhão, cogumelos, caqui, acerola, coco, semente de girassol, rabanete, melancia, aveia, noz pecan, couve-flor, robalo, alho-poró, ora-pro-nóbis e batata yacon — uma história vibrante da comida que começa na Horta Lasai, no Vale das Videiras, e termina em prêmio. A casa, capitaneada por Rafa Costa e Silva, tomou a dianteira entre os brasileiros no Latin America’s 50 Best Restaurants, ocupando o 7º lugar, desbancando São Paulo pela primeira vez da melhor posição nacional. A lista foi anunciada em cerimônia no Museu Histórico Nacional na última terça (26), quando a Argentina se consagrou a grande campeã, com a casa de carnes Don Julio na posição.
“Às vezes, o segredo está na forma como os elementos se harmonizam e criam um conjunto que encanta os olhos e o espírito. Não precisa ser complexo, atende até, no máximo, dez pessoas por noite, por cerca de R$ 2 mil, a experiência completa com as taxas.
Com duas estrelas Michelin e também listado entre os 100 melhores do mundo pelo 50 Best, o restaurante de Rafa Costa e Silva carrega muitas chancelas, mas a maior, sem dúvida, é a qualidade. O menu degustação de 15 pratos apresenta produtos sazonais, em sua maioria orgânicos e frutos do mar frescos locais.
Agora some tudo isso à presença vibrante da sommelier Maíra Freire (Michelin) oferecendo uma seleção com curadoria de vinhos naturais de pequenos produtores, incluindo raridades que surpreendem.
No mais, só o mais do mesmo, nada diferente; ninguém do Nordeste, da Amazônia, de Minas, do Cerrado… Uma lástima para um Brasil de dimensões continentais e pretensões globais.
Um prêmio para olhar para dentro.
Viva a Colômbia!!! A força da cozinha latina, o restaurante El Chato, do chef Alvaro Clavijo, de Bogotá, ficou em 3º no Latin America’s 50 Best Restaurants 2024, deixando para trás a posição 33. Entre Argentina e Colômbia, tem o Peru, com Maido em 2º.
Para Rosa Moraes, presidente do Latin America’s 50 Best Restaurants, o mais interessante da lista é que o 50 Best pôs a América Latina no “Spotlight”.
“Antes, a gente era muito eurocêntrico, sabe? Não se falava de cozinha latino-americana. Imagina que, no ano passado, quem ganhou o primeiro lugar do mundo foi um peruano, o Central. Então, eu acho que o mais interessante do 50 Best, claro que é ranquear, mas o que verdadeiramente importa são as pessoas entenderem a América Latina, realizarem turismo gastronômico na América Latina.”
Só do Brasil, são nove estabelecimentos no ranking:
Lasai 7º
A Casa do Porco 15º
Tuju 16º
Evvai 20º
Oteque 21º
Nelita 26º
Metzi 27º
Mani 35º
Kotori 50º
Algumas notas do 50 Best, por trás dos bastidores:
O Latin America’s 50 Best Restaurants teve sua primeira edição em 2013, marcando o maior encontro anual de chefs, restaurateurs, mídia e VIPs da indústria alimentícia.
São mais de 300 especialistas do setor de restaurantes de toda a América Latina, destacando a ampla diversidade e a riqueza profunda do panorama culinário do continente.
O sistema de votação é supervisionado por uma empresa global de auditoria, a Deloitte.
Desde 2022, os 50 Melhores Restaurantes da América Latina também ganharam uma extensão da lista, de 51º a 100º.
Tendo alcançado a posição nº 1 no The World’s 50 Best Restaurants 2023, o peruano Central é inelegível.