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Blog da atriz Fernanda Torres
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Estranhos

Os filhos de um conhecido meu eram muito ligados a um colega de escola. A camaradagem era tanta que o pai do menino deu de telefonar para esse meu amigo, achando que, dali, também nasceria uma amizade. A empatia não era recíproca. A insistência enervou o pai dos guris a tal ponto que, um dia, […]

Por fernanda
Atualizado em 25 fev 2017, 17h57 - Publicado em 7 ago 2015, 22h09

Ilustracao

Os filhos de um conhecido meu eram muito ligados a um colega de escola. A camaradagem era tanta que o pai do menino deu de telefonar para esse meu amigo, achando que, dali, também nasceria uma amizade.

A empatia não era recíproca.

A insistência enervou o pai dos guris a tal ponto que, um dia, o homem preferiu ser curto e grosso. “Eu não sou seu amigo”, explicou ele ao sujeito. “O fato de os nossos filhos se darem bem não significa que o mesmo vá se repetir conosco.” E desligou com um tchau, muito obrigado.

A relação com os pais dos colegas de escola dos filhos é delicada. Eu me tornei quase parente de alguns e mantive uma distância afetuosa de outros. A moral das famílias, os hábitos, as crenças, tudo difere. Alguns são junkies, outros orgânicos; existem pais atléticos, permissivos, compulsivos, felizes, protetores, ranzinzas, histéricos. Você acha que serve de exemplo até descobrir que a sua casa é tão ideal e falha quanto a de qualquer mortal.

Um bebê é a continuação dos pais, mas o menino é do mundo. A escola obriga pequenos e grandes a conviver com a realidade paralela.

Na formatura do meu mais velho, foi comovente olhar para aqueles moleques que eu conheci de fralda, todos com a barba apontando, e abraçar as mães que, como eu, testemunharam a metamorfose. Era amor temperado com constrangimento íntimo. Não é todo dia que a gente chora no ombro de quem mal conhece.

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Os pais da escola do meu pequeno organizaram um WhatsApp para se comunicar. O aplicativo se mostrou muito eficaz na socialização das famílias. Trocamos fotos, tiramos dúvidas, marcamos passeios e, de vez em quando, discordamos de leve.

Graças à tecnologia, eu me livrei do embaraço de ligar para a casa de estranhos nas manhãs sagradas de sábado e domingo para perguntar da agenda dos de menor. Os que optam pela praia enviam o número do posto; os que vão ao parque, o endereço, e quem quiser, ou puder, aparece.

É muito civilizado.

Tudo ia bem, até meu cônjuge vir com a notícia de que o celular de uma amiga havia sido hackeado graças ao WhatsApp. O aplicativo recebeu bola preta no quesito segurança e foi eleito o cavalo de troia, o queijo suíço do pesadelo de Snowden pelos especialistas.

Dê uma busca em “segurança no WhatsApp”; trata-se de um problema amplamente debatido. Pior: pelo que entendi, não só as conversas, mas também os dados armazenados podem ficar expostos.

Tenho  de combinar um novo pixel de encontro com a turma da escola, mas temo ganhar a pecha de paranoica. Sinais de fumaça, pombo-correio, o velho e-mail, o matusalênico telefone, tenho uma lista de sugestões, mas estou sem jeito de tocar no assunto.

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Não quero quebrar a harmonia da classe. Botar filho na escola é também voltar para ela.

***

Em tempo. Uma correção na última crônica (“Solo”, de 29 de julho). Swimming to Cambodia, com Spalding Gray, foi dirigido por Jonathan Demme. Monster in a Box é do diretor Nick Broomfield. Steven Soderbergh fez o documentário Everything Is Going to Be Fine, também protagonizado pelo ator e escritor.

 

 

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