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Eldorado

Sempre gostei de Brasília. E olha que, como todo carioca, guardo mágoas da cidade que roubou do Rio o status de capital. Desde criança, quando acompanhava meus pais nas turnês de teatro, sou acometida de assombro quando cruzo o Eixo Monumental. A contraluz do imenso céu do Planalto Central delineando a catedral, os palácios e […]

Por Daniela Pessoa Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 25 fev 2017, 17h28 - Publicado em 18 jun 2016, 01h00

Leo Martins

Sempre gostei de Brasília. E olha que, como todo carioca, guardo mágoas da cidade que roubou do Rio o status de capital.

Desde criança, quando acompanhava meus pais nas turnês de teatro, sou acometida de assombro quando cruzo o Eixo Monumental. A contraluz do imenso céu do Planalto Central delineando a catedral, os palácios e o tão familiar Congresso Nacional. Ao vivo, o prédio guarda algo de insólito e sobrenatural; é menor do que a imaginação espera, mas grande o suficiente para causar espanto.

E é bonito, é bonito e é bonito.

Mal dá para acreditar que os discos perfeitos do Senado e da Câmara fervam como fervem por dentro. A suavidade de fora contrasta com a violência do interior; é o avesso do avesso.

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Juscelino endividou o país para erguer a nova sede da União. Mesmo admirando o traçado de Niemeyer, Paulo Mendes da Rocha considera um engano histórico a construção da capital. Mas não adianta chorar, Brasília está lá, concreta, crescida a ponto de provocar engarrafamentos.

Pouco depois do impeachment de Collor de Mello, numa visita a trabalho, fui almoçar na casa de um amigo, no Lago Norte. Na volta, por curiosidade, passei com os colegas na frente da Casa da Dinda. Não entramos, mas do terreno baldio, vizinho ao muro da residência, foi possível admirar o perfil da Esplanada do outro lado do espelho d’água. Imaginei o delírio de poder do ex-presidente diante da visão do Eldorado. A falta de prédios altos, ou morros, destaca os edifícios contra o fundo azul e eles espelham o sol, brilhantes, como num filme de ficção científica. É difícil não desejar Brasília, e muito mais duro abrir mão de presidi-la.

“O Brasil é o país do futuro. Sempre”, já dizia Millôr Fernandes. A cidade está lá para provar a máxima, repousada a léguas equidistantes do resto do país, fruto de um ideal ilusório, visionário, inalcançável.

Durante a campanha das Diretas Já, nos anos 80, assisti a um showmício com Jorge Mautner no gramado em frente ao Congresso. O poeta atacou O Tataraneto do Inseto e, com o punho em riste, bradou o refrão: “Canalhas! Arrependei-vos!”. Jamais esqueci.

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Eternos esquemas, conchavos e alianças espúrias tramitam pelos corredores, em meio a congressistas, juristas e técnicos que tentam, através da política, fazer jus ao sonho urbanístico.

Dessa vez, fui visitar a ministra Carmen Lúcia. Seu gabinete no Supremo tem vista para o bosque semeado pelos que ajudaram a formatar a Constituição de 1988; a primeira a pôr o homem à frente do Estado, a reconhecer direitos indígenas, a dar independência ao Ministério Público, fomentando muitas das transformações que testemunhamos hoje.

A delirante Brasília inspira e expira futuro. É sempre bom revê-la, quanto mais em tempos de guerra.

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