Fabiano Serfaty

Por Fabiano M. Serfaty, clínico-geral e endocrinologista, MD, MSc e PhD. Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Saúde, Prevenção, Tratamento, Qualidade de vida, Bem-estar, Tecnologia, Inovação médica e inteligência artificial com base em evidências científicas.
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Conheça a alergia à carne vermelha: Síndrome Alfa-Gal

Síndrome Alfa-Gal é uma alergia à carne vermelha, induzida por picadas de carrapatos.

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Atualizado em 23 out 2024, 20h07 - Publicado em 23 out 2024, 19h08
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  • O que é a Síndrome Alfa-Gal?

    A Síndrome Alfa-Gal (AGS), também conhecida como alergia à carne de mamíferos, é uma condição alérgica induzida por carrapatos, desencadeada pela exposição à molécula de açúcar galactose-α-1,3-galactose (alfa-gal). Esse açúcar, presente em praticamente todos os mamíferos, exceto em humanos e alguns primatas, provoca uma resposta imunológica em indivíduos sensibilizados após uma picada de carrapato.

    Os produtos derivados de mamíferos, como carne (bovina, suína, cordeiro), laticínios, gelatina e até certos medicamentos e produtos médicos podem conter alfa-gal, o que os torna potenciais gatilhos para reações alérgicas em pessoas afetadas. Isso inclui também produtos de cuidados pessoais, como loções e maquiagens, e medicamentos, como a heparina, um anticoagulante comum.

    As reações alérgicas à alfa-gal podem ser fatais e variam em intensidade e tempo de manifestação. Algumas podem ser imediatas, como as que ocorrem após a administração de medicamentos injetáveis, enquanto outras tendem a ser mais tardias, manifestando-se de 2 a 10 horas após o consumo de carne de mamíferos, o que é característico dessa síndrome.

    Esses detalhes tornam a Síndrome Alfa-Gal uma condição particularmente desafiadora de diagnosticar e tratar, exigindo vigilância tanto dos pacientes quanto dos profissionais de saúde.

    No Brasil, essa condição é subdiagnosticada, mas os números crescem à medida que médicos e pesquisadores compreendem melhor seu mecanismo e suas consequências.

    Como a Síndrome Alfa-Gal é Transmitida?

    A síndrome foi inicialmente associada ao carrapato Lone Star, encontrado nos Estados Unidos, mas outras espécies de carrapatos em diferentes partes do mundo, incluindo o Brasil, também podem transmitir a molécula alfa-gal. Quando um carrapato infectado pica uma pessoa, ele injeta a substância diretamente no corpo, desencadeando a sensibilização ao alfa-gal. Isso explica por que alguns indivíduos desenvolvem alergia à carne vermelha e outros produtos de origem mamífera após serem picados.

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    Quais são os Sintomas da Síndrome Alfa-Gal?

    Diferentemente de outras alergias alimentares, os sintomas da Síndrome Alfa-Gal podem demorar até seis horas para se manifestar, o que muitas vezes impede o reconhecimento imediato da causa. Os sintomas incluem:

    • Urticária e coceira;
    • Inchaço nos lábios, língua, garganta e pálpebras;
    • Dificuldade para respirar e chiado no peito;
    • Dor abdominal, náusea, vômito e diarreia;
    • Anafilaxia, uma reação alérgica grave que pode ser fatal se não tratada.

    Essa característica tardia e imprevisível das reações é um dos maiores desafios para o diagnóstico.

    Como é Feito o Diagnóstico da Síndrome Alfa-Gal?

    O diagnóstico da Síndrome Alfa-Gal exige uma avaliação clínica detalhada, com foco na história médica do paciente, especialmente se houve exposição recente a carrapatos e a ingestão de carne de mamíferos. Para confirmar a presença da alergia, um exame de sangue é realizado para detectar anticorpos IgE específicos para alfa-gal.

    É importante que médicos estejam cientes da síndrome, uma vez que muitos pacientes podem não relacionar seus sintomas à ingestão de carne, dada a manifestação retardada da alergia.

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    Tratamento e prevenção: Como gerenciar a Síndrome Alfa-Gal?

    O principal tratamento para a Síndrome Alfa-Gal é a exclusão completa de carne vermelha e derivados da dieta. Isso inclui carne de boi, porco, cordeiro e produtos como leite e queijo. Em casos de reações graves, o tratamento de emergência envolve o uso de epinefrina para evitar complicações fatais.

    Além disso, é essencial prevenir novas picadas de carrapatos, já que a exposição contínua pode piorar a sensibilização. As principais medidas preventivas incluem:

    • Usar roupas de proteção e repelentes de carrapatos ao entrar em áreas rurais e florestais;
    • Inspecionar o corpo regularmente em busca de carrapatos após passar tempo ao ar livre;
    • Remover rapidamente carrapatos encontrados na pele com pinças de ponta fina.

    Prevalência e casos no Brasil

    Nos Estados Unidos, mais de 110 000 casos de Síndrome Alfa-Gal foram registrados entre 2010 e 2022. No Brasil, embora os números ainda sejam desconhecidos, a presença de carrapatos em várias regiões sugere que muitos casos podem estar passando despercebidos. O diagnóstico precoce é crucial para evitar complicações graves e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

    Como a Síndrome Alfa-Gal afeta a vida do paciente?

    Além das restrições alimentares, pacientes diagnosticados com Síndrome Alfa-Gal devem evitar certos medicamentos e produtos de origem mamífera, como anticoagulantes à base de heparina, alguns medicamentos para o tratamento do câncer e até válvulas cardíacas de origem animal. Isso torna o manejo da síndrome uma tarefa complexa, exigindo acompanhamento médico contínuo e rigoroso.

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    O Futuro da pesquisa e conscientização

    À medida que a Síndrome Alfa-Gal ganha reconhecimento global, o número de diagnósticos tende a aumentar. No Brasil, é importante que a comunidade médica fique atenta a essa condição, especialmente em pacientes com histórico de picadas de carrapato e reações alérgicas inexplicadas após o consumo de carne vermelha.

    Com o avanço das pesquisas sobre a interação entre carrapatos e o sistema imunológico, espera-se que novas abordagens de diagnóstico e tratamento sejam desenvolvidas, proporcionando maior alívio e controle para os pacientes.

    A Síndrome Alfa-Gal representa um novo desafio para a medicina moderna. A ligação entre picadas de carrapatos e a alergia à carne vermelha pode parecer surpreendente, mas sua compreensão é fundamental para o diagnóstico e manejo eficazes dessa condição. Pacientes e médicos devem estar cientes dos sintomas e das formas de prevenção, garantindo um diagnóstico precoce e evitando complicações graves.

    Se houver suspeita de Síndrome Alfa-Gal, é fundamental buscar orientação médica adequada para realizar os exames corretos e receber o tratamento adequado, garantindo o controle eficaz dos sintomas e a prevenção de reações graves.

    Fontes:

    1. Commins SP, Satinover SM, Hosen J, et al. Delayed anaphylaxis, angioedema, or urticaria after consumption of red meat in patients with IgE antibodies specific for galactose-alpha-1,3-galactose. J Allergy Clin Immunol. 2009;123(2):426-433.
    2. Galili U, Clark MR, Shohet SB, Buehler J, Macher BA. Evolutionary relationship between the natural anti-Gal antibody and the Gal alpha 1—-3Gal epitope in primates. Proc Natl Acad Sci U S A. 1987;84(5):1369-1373.
    3. Commins SP. Diagnosis & management of alpha-gal syndrome: lessons from 2,500 patients. Expert Rev Clin Immunol. 2020;16(7):667-677.
    4. https://alphagalinformation.org/

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