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Por Alexandre Carauta, jornalista e professor da PUC-Rio
Pelos caminhos entre esporte, bem-estar e cidadania
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Exercícios regulares fortalecem o bem-estar mental feminino

Pesquisadores americanos e britânicos também constatam, porém, que mulheres desistem de se exercitar por fatores como falta de tempo e insegurança

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Atualizado em 14 mar 2024, 22h52 - Publicado em 14 mar 2024, 22h28

Os exercícios regulares pavimentam a vida saudável. Meia hora por dia já ajuda a prevenir, por exemplo, obesidade, diabetes, câncer e depressão, atesta a Organização Mundial da Saúde.

Mulheres sentem-se 50% mais felizes, 48% mais confiantes e 67% menos estressadas, quando se exercitam regularmente. Assim constata o estudo global Move her mind, encomendado pela Asics e conduzido, ano passado, por cientistas do Instituto de Pesquisa em Medicina do Esporte, vinculado à Universidade de Kentucky, nos Estados Unidos, e da King’s College, de Londres.

Apesar dos benefícios ao bem-estar mental, a pesquisa constata que mais da metade das mulheres ensaia abandonar o hábito esportivo. Alegam falta de tempo, baixa autoestima, insegurança.

“Muitas vezes esses obstáculos são resolvidos com ajustes nos treinos, para torná-los mais criativos, estimulantes e alinhados à família e ao trabalho”, observa a diretora de Marketing da Asics América Latina, Constanza Novillo, também uma corredora hábil em conciliar os treinamentos com as rotinas profissional e doméstica. Ela indica, num papo por vídeo, como as mulheres podem superar percalços práticos, ambientais e emocionais para se manterem fiéis ao esporte e à saúde.

Constanza Novillo
Constanza Novillo, diretora da Asics (Fotop/Divulgação)

Quais os principais benefícios do exercício regular à saúde mental das mulheres identificados pela pesquisa?

Nunca foi tão relevante praticar atividade física para a saúde mental, até por tudo o que passamos na pandemia. Observa-se uma relação estreita entre este hábito e o bem-estar feminino.  Mulheres que se exercitam regularmente sentem-se mais felizes, confiantes, concentradas, e com mais energia.

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Apesar dos comprovados benefícios, a pesquisa constata que muitas abandonam o hábito esportivo. Que obstáculos as fazem desistir?

Três tipos de barreiras ameaçam a regularidade esportiva. Observamos barreiras práticas, predominantemente associadas à falta de tempo. Barreiras emocionais, ligadas a uma baixa autoconfiança: muitas mulheres não se sentem suficientemente preparadas para uma rotina atlética. E barreiras ambientais, relacionadas à percepção de insegurança e intimidação no ambiente da prática esportiva.

A barreira ambiental mostra-se mais acentuada no Brasil, não é?

Verdade. Enquanto a média global de desistência devido a ambientes intimidadores é de 43%, no Brasil o percentual sobe para 52%. É necessário conjugar esforços públicos e privados para garantir às mulheres ambientes seguros, acolhedores, agradáveis, de maneira que o esporte proporcione bem-estar mental e físico.

Que intimidação afasta mais as mulheres dos exercícios?

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O medo de sofrer assédio no ambiente em que treinam ou se exercitam é uma das maiores preocupações femininas. Recursos de geolocalização e a prática esportiva em grupo reduzem esse risco.

O que mais pode ser feito para tornar os ambientes esportivos seguros e aprazíveis às mulheres?

Isso exige, como eu disse, esforços conjugados entre o poder público e a iniciativa privada, especialmente de marcas da indústria esportiva. Por exemplo, no Asics House, trabalhamos em conjunto com os profissionais que cuidam da segurança do parque Bruno Covas, em São Paulo, para assegurar experiências acolhedoras a esportistas de diferentes tipos e condicionamentos. Sentir-se segura e confiante é primordial para a mulher sustentar o hábito esportivo.

Vocês planejam estender esse espaço a outras cidades do país, inclusive o Rio?

Sim, o espaço vai ganhar uma versão itinerante neste ano.

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Como atenuar também as barreiras práticas e emocionais?

Para solucionar a falta de tempo, uma das principais causas de desistência relatadas por mulheres, é preciso ajustar a rotina esportiva às rotinas profissional, familiar, social. Ou seja, gerenciar o tempo, com criatividade e inteligência, para tornar o hábito esportivo viável, gratificante, e assim construir a longevidade saudável.

Por exemplo?

No caso da corrida de rua, por exemplo, pode-se trocar o longão (treino longo) tradicional de sábado por um treino em dia de semana, por uma caminhada no horário do almoço, de acordo com cada realidade, e com a ajuda da família.

Aliás, o estudo confirma a importância da família e dos amigos para cultivar a prática esportiva…

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Isso é muito importante. Um exemplo pessoal: puxei meu filho de 13 anos para correr ao meu lado no sábado, num treino livre, que ele podia fazer. O objetivo era conectá-lo com a rotina de treino e comigo. Deu muito certo. Hoje um estimula o outro. Ele já até correu uma prova de cinco quilômetros no início do ano.

A aceitação familiar revela-se fundamental para as mulheres manterem a prática esportiva?

Sim, ajuda muito, até para superar os preconceitos que ainda rondam a prática esportiva feminina, seus anseios, suas particularidades, seus desafios.  A pesquisa constata que só 34% dos homens reconhecem a falta de tempo como uma barreira para o exercício feminino, embora 74% das mulheres apontem o obstáculo. É preciso que os parceiros compreendam que não se trata de algo egoísta. Pelo contrário, o hábito esportivo agrega valor à vida conjugal, familiar. À medida que a família se envolve mais, esse benefício fica mais nítido e o tempo das mulheres para o exercício passa a ser visto com naturalidade.

O peso da falta de tempo na desistência feminina indica que mulheres ainda acumulam uma sobrecarga nas jornadas profissional e doméstica, tanto que, segundo a pesquisa, muitas atribuem o abandono esportivo à maternidade…  

Pois é, os afazeres domésticos ainda concentrados nas mulheres também representam uma dificuldade para se exercitarem. A solução depende, a longo prazo, de mudanças socioculturais. Em termos práticos, seriam bem-vindos avanços como a ampliação de espaços para as mães deixarem os filhos pequenos enquanto treinam.

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Voltando à importância dos laços primários ao exercício feminino, o estudo revela uma influência significativa das amigas…

Mais de um terço das mulheres relata que suas amigas são as principais influenciadoras de exercícios, acima de celebridades. Mulheres se inspiram em mulheres. Nos encontros e grupos organizados pela Asics, como o Lume Club (coletivo global de corredoras), percebemos o poder da comunidade como um estímulo e uma inspiração à prática esportiva. Às vezes, é quase uma terapia coletiva.

Como dizem, a corrida é o mais coletivo dos esportes individuais…

Exato. O espírito coletivo, cooperativo, e a sociabilização estimulam o hábito esportivo. Ajudam a deixá-lo prazeroso. Melhoram a autoestima de quem se exercita.

Que outras estratégias contribuem para erradicar ou reduzir as barreiras emocionais, ligadas à baixa autoconfiança?

Dentro do nosso segmento, trabalhamos para minimizar a angústia de mulheres bombardeadas por padrões de beleza e por cobranças de performance irreais. É muito importante apoiar, na prática, a diversidade e a inclusão, quebrando estereótipos. Para tornar a iniciação e o hábito esportivos acolhedores, acessíveis, estimulantes, é necessário libertá-los de cobranças estereotipadas, adequando-os ao padrão de cada mulher, aos estágios esportivos e objetivos individuais. Isso passa, entre outros amadurecimentos, por redefinir a noção de movimento e de exercício físico, como é feito no Asics for Run.

Como adequar o exercício aos objetivos e estágios de cada mulher?

Os suportes de profissionais especializados e de ambientes estruturados para troca de experiências entre as esportistas facilitam tanto a iniciação quanto a manutenção do hábito de se exercitar. Também fazem a diferença estímulos alinhados a uma evolução esportiva gradual, com metas progressivas. Por isso, organizamos treinões e outros incentivos à participação em provas nacionais e internacionais. Essas iniciativas encorajam as mulheres a seguirem correndo, a se superarem, sob a perspectiva do bem-estar, da saúde. A minha meta agora, por exemplo, é correr meia-maratona.

___________

Alexandre Carauta é jornalista e professor da PUC-Rio, integrante do corpo docente da pós em Direito Desportivo da PUC-Rio. Doutor em Comunicação, mestre em Gestão Empresarial, pós-graduado em Administração Esportiva, formado também em Educação FísicaOrganizador do livro “Comunicação estratégica no esporte”.

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