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Por Cristiana Beltrão, restauratrice e pesquisadora de gastronomia e alimentação
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As listas dos melhores restaurantes… e eu

Listas, para que tê-las? Eu digo.

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Atualizado em 19 nov 2022, 19h47 - Publicado em 19 nov 2022, 17h06

É sempre assim: basta sair uma lista dos “melhores”, sejam do Rio, de Portugal ou do Mundo e uma chuva de mensagens acontece nos meus Whatsapp, Facebook, Instagram ou Twitter…

“Mas que lista maluca!”

“Tal restaurante entre os dez primeiros? Que absurdo!”

“Aquilo lá é o fim! Ganhou na categoria?”

“AQUELE, melhor que o outro?!? Pfff!!!!”

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“Como assim tal lugar nem entrou? É o melhor!”

Esta semana, com a lista “World’s 50 Best Latin America” e as dos melhores restaurantes pela Veja, não foi diferente. Tampouco é minha resposta; a mesma desde que escrevi pela primeira vez sobre este assunto, há mais de dez anos. 

Sou sempre crítica em relação a qualquer crítica. Opiniões são de cunho pessoal e respeitamos aquelas que vêm de pessoas que admiramos. No mais, viva as diferenças.

É impossível que uma lista composta por pessoas de lugares e referências distintas sejam exatamente iguais às nossas. Além do quê, existe o inevitável fator “gente que não liga”. 

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Certa vez, recebi uma ligação desesperada de um jurado que morava na Zona Sul do Rio de Janeiro e tinha que votar para um jornal, naquele exato momento, num restaurante que ficasse para lá da Barra da Tijuca. “Cris, você que roda muito… me diz aí em quem eu voto e por quê?”. Achei chato. É o famoso “é raro, mas acontece muito…’. Sinceramente? Não se pode culpar a organização pela postura de um jurado preguiçoso.

Nos últimos anos, dada a profissionalização da gastronomia, a escolha dos membros do júri das diversas publicações que se ocupam de rankings como esses melhorou muitíssimo.

Houve tempo em que se achava que ter membros técnicos (jornalistas especializados, cozinheiros profissionais ou donos de restaurantes) era bobagem. É claro que artistas, cantores ou empresários de sucesso podem ser grande conhecedores de gastronomia (sempre!), mas a ideia não era exatamente essa, e sim achar alguém que pudesse gerar mais projeção para o veículo, o que obviamente levava a escolhas pífias, para o desespero das casas que faziam um bom trabalho. 

Um jurado ideal, além de rodar bastante, não pode ter preconceitos de bairro ou cidade. Também tem que comer de tudo, em qualquer faixa de preço e não pode ter cozinha de predileção, senão corremos o risco de terminar com uma lista que é uma vasta seleção de restaurantes italianos ao redor do mundo. Não come frutos do mar? Ah! Que tal votar naquele restaurante que está todo ano está entre os melhores? Vegano? Eca! Em quem o povo costuma votar nesse quesito, mesmo? 

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“É raro, mas acontece muito”. 

O guia Michelin, por exemplo, encerrou as avaliações de restaurantes no Brasil, em julho passado. Houve quem vibrasse com isso. “Nunca achei os prêmios deles justos!”. Como acontece com qualquer guia, tinha suas distorções e uma inclinação (menos por imposição da organização e mais por jurados querendo agradar) para lugares com preparações francófilas ou de chefs franceses nos guias fora da França. 

Acho bom que a publicação tenha parado? Não, de forma alguma. 

O que me preocupa não são os guias. É a obediência cega às notas, listas e rankings, mas isso só fala da maturidade de cada um e do ambiente cultural em que vivemos. O que me incomoda é o eudeusamento de jurados e críticos porque (ainda que neguemos) buscamos o consenso, conforto e “aceitação” na opinião de terceiros, a despeito do nosso gosto pessoal.

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Escaldada que sou, não viajo sem várias referências, cruzando todas as informações possíveis, sejam as revistas locais, blogueiros ou sites especializados como o impecável ‘Viaje na Viagem’ de Ricardo Freire, que chama gente de todo canto para escrever do que sabe. Com certeza, vamos errar menos…

Listas não são mandamentos escritos em pedra, mas uma direção. Já experimentou visitar uma cidade sem lista alguma? É um horror! Tive vários restaurantes divinos que descobri através de concierges, mas me decepcionei com outros tantos (recomendados também por eles), graças a algumas parcerias. Depende da seriedade do hotel e da leitura que o concierge faz do cliente, sempre (será que ela gosta de comida? de ambiente? tanto faz?).

Afinal, o que é bom, de verdade?

Bom é tudo aquilo que nos arrebata, e aí podemos falar de uma infinidade de restaurantes “menores” ou “cheios de defeitos” que nos encantaram por estarmos com a companhia certa ou por aparecerem na hora certa. É assim para qualquer um de nós, inclusive para aqueles sujeitos que votam nas listas, por mais isentos que tentem ser.

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A quem serve o consenso dos críticos? A ninguém. 

Só posso dizer, conhecendo os bastidores, que a coisa está mil vezes melhor do que já foi. Além do mais, listas são grandes catalisadoras do turismo. Se você não concorda com o resultado, pense que há turistas que visitam sua cidade, deixam seu dinheiro e permitem que se empregue muita gente, graças a elas. 

Listas, para que tê-las? Para que possamos rodar o mundo falando mal delas. 

[Na foto, um prato do Mirazur, restaurante que visitei em 2013, muito antes de ganhar várias estrelas e prêmios. Até hoje, um dos melhores do MEU mundo]

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