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Por Analice Gigliotti, psiquiatra
Comportamento
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Drogas K: saiba o que são e porque elas causam danos tão drásticos

Mais barata e letal, efeito devastador da droga na saúde dos usuários preocupa as autoridades

Por Analice Gigliotti
11 Maio 2023, 11h08

K2, K4, K9 ou K12. Por trás da combinação de letras e números está um dos maiores perigos para a saúde pública hoje, no Brasil e no mundo. As siglas servem para identificar canabinoides sintéticos, também conhecido como maconha sintética, que pertencem a uma classe de drogas denominada novas substâncias psicoativas (NSP). Algumas criadas originalmente para a pesquisa e desenvolvimento de tratamentos de doenças neurológicas, as substâncias acabam tendo sua função desviada ilegalmente e são sintetizadas em laboratório, com uma ligeira mudança em sua estrutura molecular para burlar as agências de controle de drogas. Canabinoides sintéticos são mais potentes que maconha porque eles se ligam com muito mais intensidade e efetividade aos receptores canabinoides, elevando a sua capacidade de entorpecimento em até cem vezes.

De acordo com o Escritório de Drogas e Crime das Nações Unidas (UNODC), mais de mil dessas novas substâncias psicoativas foram encontradas, apenas em 2021. Análise do material de esgotos de 16 países revelou 18 novas substâncias psicoativas com efeitos semelhantes aos de drogas urbanas já conhecidas. Acredita-se que se trata de uma nova estratégia do narcotráfico para driblar as restrições da legislação e se manter fora do alcance da lei. Ainda de acordo com a UNODC, mais de mais de 300 canabinoides sintéticos já foram identificados.

Uma das maiores dificuldades em deter o seu uso está na velocidade com que a substância é capaz de se transmutar em uma nova forma de consumo:quando surgiram, K4 e K9 eram fumados, depois foram encontrados em líquidos para usar nos vapes, em seguida na forma borrifada e, por fim, em comprimidos.

Frequentemente misturado a outras substâncias, os canabinoides sintéticos foram usados inicialmente por adolescentes em festas. No entanto, já começam a ser vistos nas ruas de São Paulo. Em 2022, a Prefeitura da cidade registrou 98 intoxicações pela substância. De janeiro até agora, este número já subiu para 216.

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Em termos de danos, o K9 é o de maior impacto pois, além da intensidade e rapidez do seu efeito, é muito barata, o que lhe rendeu a alcunha de “novo crack”. Na internet circulam vídeos mostrando os usuários como verdadeiros “zumbis”, com a mobilidade prejudicada e falando sozinhos, fruto das alucinações auditivas.

Essa característica aumenta consideravelmente os problemas clínicos e comportamentais. Em termos clínicos, pode haver ocorrências de infartos, convulsões e morte por overdose, por exemplo. Quanto aos impactos comportamentais, o prejuízo acadêmico é considerável e o risco de quadros psicóticos e ansiosos também.

Ao contrario do que se possa imaginar, canabinoides sintéticos não são maconha, tampouco se assemelham ao canabidiol. Portanto, médicos e profissionais de saúde precisam, mais do que nunca, estar atentos a estas ocorrências para que possam investigar o uso das substâncias K. Ainda não há um antídoto para a intoxicação por essas substâncias. O único tratamento possível é o suporte clínico geral.

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Em virtude das inúmeras modificações nas substâncias para burlar agências reguladoras, atualmente qualquer canabinoide sintético é considerado ilegal pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).

Enquanto as autoridades brasileiras ainda não conseguem dominar a expansão do uso de crack e é assombrada pelo aparecimento do fentanil, surge mais uma fonte de preocupação com uma ameaça concreta à saúde dos usuários de drogas.

Analice Gigliotti é Mestre em Psiquiatria pela Unifesp; professora da PUC-Rio; chefe do setor de Dependências Químicas e Comportamentais da Santa Casa do Rio de Janeiro e diretora do Espaço Clif de Psiquiatria e Dependência Química.

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