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Por Analice Gigliotti, psiquiatra
Comportamento
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Carnaval em abril e o adiamento da felicidade

Nova data da festa de Momo é simbólica metáfora de um hábito: enxergar a felicidade em outro tempo que não o presente

Por Analice Gigliotti
Atualizado em 25 jan 2022, 13h14 - Publicado em 24 jan 2022, 18h22

Depois de muito suspense, de muito “vai, não vai”, as prefeituras do Rio e de São Paulo bateram o martelo: nada de Carnaval em fevereiro. As curvas de contaminação da variante ômicron ainda se mostram ascendentes, logo o mais prudente é adiar o Reinado de Momo em quase dois meses, para o feriado de Tiradentes, em abril.

Até poucas semanas atrás era grande a expectativa popular com o verão de 2022 e, em especial, com o Carnaval. Depois de um ano de espera, com o cancelamento da festa em 2021, quando sequer tínhamos vacinado a população, a sensação era de expectativa adiada. “Em 2022 vamos à forra”, diziam. E a festa foi cancelada mais uma vez.

Surpreendentemente, foi boa a aceitação da postergação da farra. A essa altura do campeonato, há uma consciência (quase) generalizada de que o bom senso é evitar aglomerações. Se a nova variante mata menos, especialmente entre os vacinados, ela contamina velozmente e em grande quantidade. A maior prova disso é que não há quem não conheça alguém que não esteja doente neste momento.

Mas, afinal, por que tanta ansiedade com o Carnaval? Que estado de ânimo ele promove que mexe tão visceralmente com o nosso povo? Na essência do Carnaval está o escapismo autorizado, uma espécie de “estar de altos” da vida num passe de mágica. “A gente trabalha o ano inteiro/ Por um momento de sonho/ Pra fazer a fantasia/ De rei ou de pirata ou jardineira/ Pra tudo se acabar na quarta-feira”, como escreveu Vinicius de Moraes na música “A Felicidade”. E acaba mesmo. E os outros 360 dias do ano? Apenas sobreviver até o próximo Carnaval?

Isso acontece porque, consciente ou inconscientemente, estamos resignados à ideia de enxergar a felicidade em outro tempo: ou o melhor já foi vivido no passado ou ainda está por vir no futuro. E, no entanto, a verdade é que o passado já foi, o futuro não se sabe se chegará. São poucas as pessoas que entendem que o melhor é o agora justamente porque ele é o que há de mais concreto – embora seja justamente o presente com todas as suas frustrações, desafios e problemas, mas também suas alegrias, surpresas e encantamentos – que as pessoas mais evitam.

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Será que os quase dois anos reféns do coronavírus e seu impacto violento em nossas vidas não há de nos ter ensinado a urgência de valorizar e viver o tempo presente em toda a sua intensidade?

Coincidentemente, na semana em que o Carnaval foi adiado no Brasil, morreu o monge zen-budista Thich Nhat Hanh, aos 95 anos. O guru teve uma vida cheia de significado como ativista contra guerras e na cruzada para despertar consciências, que encantou nomes como Martin Luther King, Barack Obama, Dalai Lama e Oprah Winfrey. Thich Nhat Hanh também era referência na prática do mindfulness, que prega a atenção plena no presente, o agora como único caminho para a felicidade concreta.

Inspirada nele, lanço aqui, humildemente, o desafio de, em 2022, firmar um pacto com a busca constante pela Felicidade (olha ela aí de novo, com letra maiúscula e tudo, assim como nos versos do Poetinha). Não é ingenuidade, é postura diante da vida. Esteja aberto e acolha os imprevistos – sejam eles bons ou ruins.  Se o Carnaval já foi parar em abril… por que não? Só depende de você.

Analice Gigliotti é Mestre em Psiquiatria pela Unifesp; professora da PUC-Rio; chefe do setor de Dependências Químicas e Comportamentais da Santa Casa do Rio de Janeiro e diretora do Espaço Clif de Psiquiatria e Dependência Química.

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