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Como será a volta às aulas nas escolas do Rio após temporada on-line

As escolas se preparam para a retomada presencial cercadas de dúvidas, mas com uma certeza: o sistema por ora será híbrido

Por Carolina Barbosa
Atualizado em 29 jul 2020, 21h44 - Publicado em 17 jul 2020, 06h00
sala de aula vazia
Escola: como será o amanhã? (Léo Lemos/Veja Rio)
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Entre todos os alicerces que a pandemia causada pelo novo coronavírus trepidou, a educação foi um dos que mais sentiram o baque. Especialistas dizem que o sacolejo pode ser bom, por significar fincar os pés em um ensino mais afeito ao século XXI, mas, por ora, aflições e muitas perguntas rondam alunos, pais e professores, enquanto as escolas se organizam para abrir os portões adaptadas à nova realidadea princípio em agosto.

Uma coisa é certa: o sistema no retorno às aulas será híbrido, ou seja, uma parte na escola, a outra em casa, pelo menos até o fim de 2020. Dito assim, pode soar simples, mas é tudo o que isso não é, pois exigirá que todos se amoldem, mais uma vez, a uma rotina bem diferente.

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A quarentena serviu de teste (repentino e compulsório) para a implantação das aulas virtuais, um percurso cheio de obstáculos, em que os envolvidos precisaram aprender – e ainda estão aprendendo – às pressas, por força das circunstâncias. A partir de agora, o esforço será para suavizar as lacunas que se acumularam neste longo período de reclusão.

Quem está na linha de frente viu de tudo na temporada 100% on-line. “No ambiente virtual, a participação da turma é menor. Temos de desenvolver estratégias para prender a atenção dos alunos. Volta e meia eles assistem à aula com vídeo e microfone desligados, o que limita a interação”, conta Maurício Drumond, professor de história da Escola Suíço-Brasileira, na Barra.

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Ali, como em outros colégios, os mestres estão sendo treinados para aproveitar melhor a tecnologia, que, já se sabe, pode se converter em uma eficiente ferramenta em prol do ensino. “O grande desafio vem sendo encontrar uma boa fórmula, para não deixar a aula se tornar uma videoaula comum, senão bastaria assistir ao YouTube”, pondera ele.

Muitas escolas vão corrigindo os rumos conforme a lição está sendo dada. No Colégio Santo Inácio, em Botafogo, por exemplo, houve reavaliações constantes do que funcionava e do que precisava ser aperfeiçoado. “Fizemos adaptações e ampliações de acordo com o feedback de pais e alunos. Uma conclusão é que não basta reproduzir a aula presencial no computador.  É outra linguagem”, avalia o diretor-geral, padre Ponciano Petri, que adotou ferramentas como o Moodle e o Google Meet para a transmissão de conhecimento a 3 600 estudantes.

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Os educadores reconhecem os percalços, mas enfatizam, de outro lado, o avanço naquelas habilidades socioemocionais de que tanto se fala neste século XXI: capacidade de se virar em terreno desconhecido, sem o professor ao lado, e resistência para persistir diante das dificuldades são só algumas delas. “Deixamos de ter  aprendizados mais formais, mas conseguimos conquistar outros que talvez durem uma vida inteira”, ressalta Vinícius Canedo, diretor da rede Mopi.

O sentimento entre os pais oscila: muitos mostram indignação, frustração, mas também um entendimento de que a situação é provisória, vai passar. “Se eu disser que estou achando o máximo e que as crianças estão supermotivadas, não é verdade, mas elas vêm cumprindo as tarefas e, diante de todo o cenário, o importante é manter a cabecinha em funcionamento para não atrofiar”, relativiza a analista financeira Karla Ferraço Torres, 45 anos, mãe de João Pedro, 11, e Guilherme, 9.

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Essa volta às aulas, com a crise sanitária ainda não sanada, envolve uma engrenagem complexa. As preocupações abarcam assistência socioemocional a alunos e professores, reforço do conteúdo não assimilado e um complicado replanejamento do ano letivo. “Faremos avaliações para entender qual é o tamanho do déficit de cada um e preparar programas de estudo personalizados para que as lacunas sejam resolvidas. A retomada deve ser gradual, priorizando o essencial das matérias”, afirma Camilla Bezerra, gerente pedagógica do grupo Eleva Educação, com mais de cinquenta unidades no Rio.

No Mopi, um comitê interno foi formado por pais, alunos e funcionários e uma consultoria da Rede D’Or, contratada, a fim de garantir medidas de segurança que a cartilha antivírus exige: distanciamento social, sim, aglomerados, não, além de muita higiene. “É fundamental chancelar esses procedimentos para tranquilizarmos os pais que decidam mandar os filhos para a escola”, diz o diretor Canedo.

O Mopi estuda estabelecer o modelo criado em Israel pelo prestigiado Instituto Weizmann. Intitulado 10-4, prevê que os estudantes tenham quatro dias de atividade presencial e dez em casa, além de turmas divididas em três grupos, em nome do distanciamento social.

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As duas pontas do ciclo escolar ó alfabetização e o temido 3º ano do ensino médio ó são especialmente sensíveis. Choveram relatos de pais superatribulados na tentativa de equilibrar trabalho remoto com a ajuda a filhos pequenos, que, compreensivelmente, nem ligar o laptop sabiam. Há um alívio coletivo em relação à ideia de que os alunos retornarão às suas carteiras – mesmo que no esquema híbrido. “Esse sistema é uma questão de sobrevivência neste momento, uma superferramenta auxiliar, mas nada substitui o olho no olho da interação do presencial”, observa a diretora Verinha Affonseca, da Escola Nova.

Com a atenção para os jovens que logo, logo enfrentarão o Enem, a Escola Parque, na Gávea e na Barra, planeja deixar à disposição dos estudantes um grupo com professores de todas as matérias a partir de fevereiro. O objetivo é revisar (virtualmente) o conteúdo e garantir reforço extra até os últimos momentos do tão aguardado exame. “Não podemos abandonar esses alunos”, diz o diretor administrativo Aldo Saraiva.

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À primeira vista, o ingresso no ensino on-line assustou – e não poderia ser diferente, visto que aconteceu de forma abrupta e nada planejada -, mas ele abre uma extraordinária oportunidade para o velho modelo de escola ceder espaço a outro mais afinado com as demandas atuais. “Fazia tempos que discutíamos a necessidade de aliar a tecnologia aos estudos, o que era sempre adiado. A crise foi um choque de realidade e, acredito, um divisor de águas”, afirma Andrea Ramal, doutora em educação pela PUC-Rio e autora do livro Educação no Brasil — Um Panorama do Ensino na Atualidade.

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Andrea Ramal, doutora em educação: “A pandemia é um divisor de águas” (Ricardo Wolf/Divulgação)

“Certamente precisamos ir além da educação como o mundo conhece hoje”, pontua o educador americano Marc Prensky, formado pela Universidade Harvard. Se bem empregada, a tecnologia pode proporcionar ao aluno aprender a seu próprio tempo e de modo personalizado. “Conseguir assimilar conhecimento de maneira independente é essencial em um mundo que muda tão rapidamente, é tão volátil e incerto”, enfatiza Fernando Reimers, professor de prática em educação internacional da Ford Foundation, também da Harvard. Cabe às escolas fazer frente ao imenso desafio que se apresenta.

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Pensi, em Copacabana: nada de brinquedos nesta primeira etapa (Pensi/Divulgação)

Admirável mundo novo

O que muda no retorno dos alunos à escola

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Uso restrito de espaços. Brinquedotecas, parquinhos e laboratórios permanecerão fechados nesta primeira fase em escolas do grupo Eleva Educação, como o Pensi

Maior distanciamento entre as carteiras. No Mopi, os estudantes também terão assentos nominais

Aferição de temperatura na porta. Alunos, professores e funcionários só poderão entrar na Escola Nova depois dessa medição

Recreio intercalado. Cada série do Santo Inácio terá um horário diferente para o recesso no pátio

As turmas serão reduzidas para evitar aglomerações. O máximo será de oito alunos por sala na educação infantil e até quinze no ensino médio na Escola Parque

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Escola Parque: salas infantis terão no máximo oito alunos (Léo Lemos/Veja Rio)

 

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