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Sustentabilidade: novo perfil de consumidora carioca chama atenção

Conheça a 'shopper Zona Sul': mulher de classe A e B que mudou os hábitos por causa do meio ambiente e está disposta a pagar mais caro por isso

Por Marcela Capobianco
Atualizado em 15 abr 2020, 10h37 - Publicado em 3 abr 2020, 12h00
Fe Cortez: ativista ambiental personifica a shopper Zona Sul (Divulgação/Divulgação)
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No documentário Trashed — Para Onde Foi o Nosso Lixo?, o magistral Jeremy Irons denuncia o impacto do descarte indiscriminado de resíduos no meio ambiente. Da montanha de lixo em uma praia no Líbano ao vilarejo povoado por crianças deformadas por uma substância química no Vietnã, o ator britânico percorre seis continentes para mostrar cenas que ninguém gostaria de ver. De tão impactantes, as imagens se tornaram um divisor de águas para Fe Cortez, que chegou ao fim da sessão determinada a promover uma radical mudança de hábitos. E seguiu o plano à risca. Felizmente, ela não está sozinha nas providências que tomou para dar uma reviravolta no modo de ir à compras, mesmo em tempos de coronavírus, com todos restringindo as saídas de casa e se adaptando aos pedidos por delivery.

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A empresária e, hoje, ativista ambiental é representante de uma ascendente turma de consumidoras cariocas que, pelos padrões tão bem definidos, já têm até nome: “shoppers Zona Sul”, vocábulo que saltou do universo das pesquisas de mercado para as ruas. São mulheres que já cruzaram a fronteira dos 34 anos, das classes A e B, que pesam concretamente as questões ambientais na hora de escolher um produto e dão sempre preferência aos itens percebidos como “sustentáveis”. Sim, elas têm alto poder de influenciar o pessoal à sua volta – seja durante as atividades do dia a dia, seja na frenética navegação nas redes. “Como muitos dos modismos começam nas classes mais altas para depois se espalhar, estamos observando uma sacudida que pode alcançar muito mais gente”, analisa Karine Karam, pesquisadora de comportamento do consumidor e professora da ESPM.

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As mudanças são feitas de pequenas decisões que, em escala, tomam uma dimensão relevante. A primeira medida de Fe Cortez foi abolir os copos descartáveis. Ela contabilizou: em um ano, poupou 1618 deles (no Brasil, são consumidos 720 milhões de unidades por dia e menos de 2% desse plástico todo é reciclado). Fe ainda fez da bicicleta seu principal meio de transporte e baniu as sacolas plásticas do dia a dia. “Prefiro ir a pequenos armazéns, onde posso levar potes de vidro e saquinhos de pano para comprar a granel. Só aí já economizo uma quantidade boa de plástico”, orgulha-se a produtora, moradora do Jardim Botânico e agora responsável pela plataforma de educação ambiental Menos 1 Lixo.

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O consumo consciente é definido como o ato de pesar, durante o processo de compra, o equilíbrio entre sua satisfação pessoal e os possíveis efeitos ambientais e sociais de sua escolha, além de considerar, como não? O impacto financeiro da decisão. Esbanjar não está com nada. O primeiro passo para adentrar o novo time é planejar, de modo a gastar menos e melhor. Essa turma também entende a importância de reciclar, consertando velhos objetos ou lhes dando novo uso. Um estudo da consultoria Nielsen mostra que 32% dos brasileiros estão interessados em “produtos sustentáveis”, mas ainda veem alguns obstáculos para ir atrás do que querem: quase metade afirma que é difícil encontrar nessas prateleiras artigos confiáveis, para além do marketing das embalagens verdes com estampa de folhinhas. “Há, sim, muitas trocas simples e inteligentes que podemos fazer, como o detergente por sabão de coco e a esponja de cozinha por bucha vegetal”, defende a consultora de sustentabilidade (já existe esse profissional) Daniele Apone, de 36 anos.

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Esse mercado que se abre, e que deve se tornar cada vez maior, já está fazendo negócios se mexerem para reposicionar suas marcas. Para dar um exemplo, após uma década de pesquisas, a Copapa, empresa de Santo Antônio de Pádua, no Noroeste fluminense, resolveu lançar o primeiro papel higiênico nacional 100% sustentável. Tanto a embalagem – feita à base de milho – quanto o rolinho, colado com fécula de mandioca, podem virar adubo quando descartados com a matéria orgânica. Esse tipo de iniciativa às vezes esbarra no preço – produto sustentável custa mais caro. “Para sermos competitivos, reduzimos a margem de lucro e economizamos ao máximo nos custos de produção. Sustentabilidade exige investimentos de todos os lados”, explica o CEO da Copapa, Fernando Pinheiro. Adivinhe onde a boa nova está sendo testada? Nos redutos das shoppers Zona Sul, é claro.

 

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