Com restaurantes refinados e chefs premiados, Barra não deve à Zona Sul
No bairro, só em 2024, sete restaurantes de peso foram inaugurados, cinco deles em shoppings, como o Ristorantino e Nolita Roastery
Num domingo de julho, o restaurateur Marcelo Torres, à frente do grupo BestFork, dirigiu do Leblon à Barra, pouco antes das 17 horas, para um típico almoço tardio em família. O destino era o New York City Center, onde o Nolita Roastery, o mais novo empreendimento da holding, ocupa 3 500 metros quadrados, distribuídos entre restaurante, cafeteria, milk bar e até uma fábrica de chocolates. Torres se surpreendeu porque, mesmo àquela hora, havia fila de espera.
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“Por ser uma operação robusta, imaginei que levaria mais tempo para se consolidar. Abrimos em março e já teve sábado em que registramos fluxo de 7 000 pessoas”, conta Marcelo, que vende 1 tonelada de café por mês nas cinco casas que toca no bairro, divididas entre o complexo do BarraShopping e o VillageMall. “Para o morador da Barra, a rua é o corredor do shopping. Abri o Giuseppe Mar e o Nolita Oven em 2018 e logo percebi que, para ter sucesso, era necessário investir em conceitos fortemente estabelecidos. Na Barra, os restaurantes precisam ser um destino”, analisa.
Experimentando uma fase de bonança após o traumático período pandêmico, o setor gastronômico carioca abriu quase 5 000 vagas de trabalho formal no último ano, perdendo apenas para São Paulo, de acordo com o SindRio.
Na Barra, só em 2024, sete restaurantes de peso foram inaugurados, cinco deles em shoppings. “Um dos fatores que pesou na decisão de expandirmos para o Rio foi o poder aquisitivo dos moradores do bairro. Também notamos que mesmo num shopping cheio de restaurantes, como o VillageMall, havia brecha para um italiano de alto requinte”, diz Ricardo Trevisani, sócio-restaurateur do Ristorantino, inaugurado em maio sob investimento de 3 milhões de reais. O interesse do público por vinhos europeus e drinques chamou a atenção do empresário, que por ora não pensa em abrir um ponto na Zona Sul.
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“O público da Barra gosta de conveniência, enquanto os de Ipanema e Leblon prezam por exclusividade”, compara Flavio Sarahyba, vice-presidente do grupo Alife Nino, responsável por incorporar recentemente o grupo Irajá, do carioca Pedro de Artagão, que no último ano abriu unidades de seus Princesa e Rainha no Rio Design Barra.
A presença de casas comandadas por cozinheiros premiados, como o próprio Artagão, além de Rafa Gomes, do Itacoa, Gerônimo Athuel, do Ocyá, Eduardo Nakahara, do Yusha, Raul Ono, do Naga, Guilherme Campos, do Shiso, no hotel Grand Hyatt, e Heaven Delhaye, mostra que se foi o tempo em que apenas a Zona Sul era sinônimo de boa mesa.
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Captando o novo momento, a rede de hotéis Windsor levou para a Barra uma versão de seu bem-sucedido Alloro, que em Copacabana tem a grife do chef italiano Michele Petenzi. “Em cinco meses de operação da Trattoria Alloro, atingimos o equilíbrio entre o número de clientes que são hóspedes e o dos que são moradores da região. Além de comer aqui, eles costumam encomendar os pratos para levar para casa”, pontua Marcos Pereira, gerente de alimentos e bebidas do Windsor na Barra.
A praia também surfa essa onda: até setembro, seis quiosques têm abertura marcada na Avenida do Pepê e na Lúcio Costa, um deles da sorveteria Bacio di Latte, fenômeno em Ipanema. “No calçadão, o público da Zona Oeste é mais diurno que o da Zona Sul, então, na Barra, os negócios voltados para café da manhã e almoço tendem a prosperar”, conta João Marcello Barreto, presidente da Orla Rio. A Barra é uma delícia de bairro.