“Inacreditável”: as reações contra a possível venda do Palácio Capanema
Entidades de arquitetos e urbanistas, ABL e políticos se manifestaram sobre a intenção do governo federal de vender a joia à iniciativa privada
Marco da arquitetura modernista, o palácio Gustavo Capanema, na Avenida Graça Aranha, no Centro, foi construído entre 1936 e 1945.
O projeto misturou os talentos de brasileiros como Lúcio Costa e Oscar Niemeyer e teve também a mão do suíço Charles-Édouard Jeanneret-Gris, ou Le Corbusier. Diferente de tudo o que se via até então, o prédio, de catorze andares, não toca o chão: a base repousa sobre pilastras.
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Outros grandes charmes do edifício são a área no térreo destinada ao paisagismo e os jardins de Burle Marx no terraço.
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Foi com muita indignação que órgãos ligados à arquitetura, urbanismo, intelectuais, artistas e herdeiros dos arquitetos que participaram do projeto receberam a notícia de que a antiga sede do Ministério da Educação e Cultura poderá ser vendido à iniciativa privada.
A joia da arquitetura carioca ainda não integra a lista de imóveis que o governo federal pretende se desfazer porque vem passando por obras de restauração. No entanto, a Secretaria Especial de Desestatização do Ministério da Economia admite que o Capanema está apto a receber ofertas.
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“Diante da notícia veiculada ontem sobre a iminência de que o Palácio Gustavo Capanema seja posto à venda por meio de sua inclusão em um ‘feirão de imóveis’, a Academia Brasileira de Letras vem tornar público seu repúdio a essa ideia estapafúrdia e revoltante”, afirma a nota oficial enviada à imprensa pela ABL no último sábado (14).
Na sexta (13), o Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) e o Instituto de Arquitetos do Brasil no Rio (IAB-RJ), em parceria com outras oito associações se manifestaram através de uma nota contundente. “Quanto vale um prédio concebido, projetado e construído para ser um símbolo da cultura nacional? O edifício sobre pilotis pousa elegantemente na esplanada com jardins de Roberto Burle Marx e a escultura Juventude de Bruno Giorgio. No térreo, revestido com painéis de azulejos de Candido Portinari, encontram-se as obras de Prometeu e o Abutre de Jacques Lipchitz. Por tudo isso, a sede do ministério passou a ser denominada, na década de 1970, Palácio Cultura. O MEC não pode ser vendido porque ele é Patrimônio do povo brasileiro”, aponta um trecho do manifesto.
Uma das filhas de Lucio Costa, Maria Elisa Costa, divulgou uma carta intitulada Inacreditável. Ela diz que a possível venda do edifício seria “um atestado de ignorância que o Brasil não merece”.
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O deputado federal Marcelo Calero (Cidadania) afirmou que parte do Congresso não vai aceitar a tentativa de venda do palácio. “O Capanema é um marco civilizatório do nosso país, como arquitetura e política pública. Um patrimônio em uso por diversos órgãos. Um dos símbolos do modernismo brasileiro e da nossa produção cultural”, escreveu no Twitter.
Já Marcelo Freixo (PSB), também deputado federal, aponta que a possível venda do edifício seria ilegal. “A legislação proíbe a venda de imóveis tombados que pertencem à União. Esse é o caso do Palácio Capanema. Logo a proposta de venda do imóvel feita pelo governo é ilegal e nós estamos acionando a Justiça para impedi-la”, postou na rede social.
Atualmente, o icônico prédio tem uma biblioteca pública e uma sala para shows e peças de teatro, além de guardar parte do acervo da Biblioteca Nacional e abrigar superintendências de órgãos culturais, com a Funarte.