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Humoristas provam, em meio a tanto estresse, o valor de uma boa risada

A rotina transformada pela pandemia é matéria-prima para diversos programas de tevê e atrações que surgiram na internet nos últimos meses

Por Marcela Capobianco
Atualizado em 14 ago 2020, 21h43 - Publicado em 14 ago 2020, 06h00

Sigmund Freud (1856-1939) costumava dizer que o melhor caminho para se livrar das próprias neuroses é rindo delas. As palavras do pai da psicanálise vêm ecoando nestes tempos pandêmicos, momento em que as pessoas estão em busca de um respiro – e ele pode vir na forma de uma gargalhada. Um punhado de novos programas humorísticos está aí para proporcionar esses instantes de graça, encabeçado por uma turma capaz de cavucar matéria-prima na rotina posta do avesso pelo vírus (no ponto certo, sem ser ofensivo).

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Virou piada, por exemplo, apertar o botão do elevador com um palito ou higienizar frutas e verduras dentro da máquina de lavar. “A Covid-19 escancarou a morte na nossa cara. Brincar com ela não é desrespeitá-la, mas, sim, superá-la. O humor se sustenta no inesperado, provocando reflexão. É tudo de que precisamos agora”, enfatiza a psicanalista Maria Maia Brasil.

Isolado em casa com os dois filhos e a mulher, a diretora de TV Joana Jabace, o ator Bruno Mazzeo escreveu e filmou a série Diário de um Confinado, do Globoplay, em dois meses. Em condições normais, um projeto desse porte levaria entre um e dois anos.

“O humor tem uma função muito importante, especialmente em momentos de crise, que é a de colocar o dedo na ferida. Eu me sinto privilegiado por registrar esse período histórico usando essa lente”, diz Mazzeo. Dirigido pela esposa, ele fez do próprio apartamento cenário para as desventuras de Murilo, um solteirão que precisa encarar uma sucessão de situações tragicômicas na quarentena.

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“O humor tem uma função muito importante, especialmente em momentos de crise, que é a de colocar o dedo na ferida. Eu me sinto privilegiado por registrar esse período histórico usando essa lente”, diz Mazzeo. Dirigido pela esposa, ele fez do próprio apartamento cenário para as desventuras de Murilo, um solteirão que precisa encarar uma sucessão de situações tragicômicas na quarentena. “Foi como fazer cinema de guerrilha. No fim do dia tínhamos que desmontar e guardar os equipamentos para as crianças não confundirem com os brinquedos”, conta o ator.

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As limitações impostas pelo isolamento acabaram por estimular a procura por soluções criativas. Marcelo Adnet foi um dos que acionaram com sucesso o botão do improviso nos episódios diários do Sinta-se em Casa, do Globoplay (também exibido no Encontro com Fátima Bernardes, na TV aberta). Uma colher de sorvete serve de microfone, assim como uma árvore se transforma na Floresta Amazônica. Romarinho, o gato de estimação de Adnet, faz participações esporádicas.

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“As equipes de criação e produção foram ágeis, desenvolvendo formatos possíveis de se realizar remotamente. O time de tecnologia vem sendo peça fundamental para viabilizar o trabalho”, afirma o diretor de dramaturgia da Globo, Silvio de Abreu.

Cada um no Seu Quadrado: novos formatos ganharam impulso com a pandemia (Globoplay/Divulgação)

Somados os programas de Adnet e Mazzeo a outros, como Sterblitch Não Tem um Talk Show e Cada um no Seu Quadrado, o Globoplay registrou, entre março e junho deste ano, o triplo da audiência na categoria humor do mesmo período em 2019.

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No Multishow, a subida foi de 30%, levando o canal a investir em mais conteúdo do gênero. A corrida agora é para conseguir retomar, no fim de agosto, as filmagens do sucesso Vai que Cola, que terá manequins no auditório, e do Lady Night. O talk-show de Tatá Werneck funcionará com plateia virtual e convidados como Luciano Huck e Xuxa terão de manter distanciamento da apresentadora, que promete contornar tudo de modo que os espectadores não sintam falta do “calor e dos beijos das outras temporadas”.

Tatá Werneck: desafio é gravar o Lady Night sem tocar nos convidados (Raquel Espirito Santo/Divulgação)

Em home office (e home studio) desde março, o grupo Porta dos Fundos – com treze atores, cada qual na sua casa – viu a audiência disparar mesmo com desafios logísticos do tipo operar equipamentos de filmagem por conta própria. Foram 850 milhões de visualizações entre janeiro e junho, somando YouTube e redes sociais, enquanto a recém-criada conta no TikTok já passou de 1,2 milhão de seguidores.

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“Os hábitos estabelecidos na quarentena compõem material infinito para piadas, e as pessoas se reconhecem no ato nas situações que mostramos”, comenta o CEO do grupo, Christian Rôças. Entre os lançamentos dos últimos meses estão os quadros Quarentena com Dona Helena, a avó que cai em todas as fake news de WhatsApp, e Trabalhando em Casa, que faz troça das reuniões corporativas por videoconferência.

Neste momento em que a produção cultural ainda pena com as consequências do vírus, as redes têm sido uma alavanca e tanto. O ator Pedroca Monteiro começou 2020 cheio de trabalho, com peça, programa e show – até que tudo parou. “Eu acordava e começava a gravar vídeos sem pretensão nenhuma, numa tentativa de me alegrar. Quando passei a postá-los e receber um monte de comentários, senti que tinha criado uma conexão com as pessoas”, relata Monteiro.

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Os diferentes tipos concebidos se entrelaçam nas tramas e abriram caminho para uma mininovela. Os capítulos, publicados no perfil do ator, são acompanhados por milhares de fãs, alguns estrelados, como Selton Mello, Maria Ribeiro e Reynaldo Gianecchini.

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A linguagem do humor pode ser boa aliada ainda na hora de conscientizar a população dos riscos da pandemia. Segundo o físico americano Brian Greene, conhecido por transmitir noções científicas de modo leve (participou inclusive de um episódio da série The Big Bang Theory, rindo de si mesmo), o humor pode ser combustível para o cérebro humano compreender melhor certas informações que, à primeira vista, parecem difíceis de absorver.

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Com um vídeo no YouTube, no canal de humor Embrulha pra Viagem, Marcelo Laham viralizou com a Live do Corona, em que o ator se fantasia de “coronavírus” e agradece o apoio do governo brasileiro. O esquete já teve mais de 300 000 visualizações. Como se vê, o humor não se deixa abater.

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