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Quanto custa ser orgânico

Alimentos livres de agrotóxicos são até três vezes mais caros que artigos tradicionais

Por Ernesto Neves
Atualizado em 5 jun 2017, 14h52 - Publicado em 31 ago 2011, 16h04
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  • Frutas, verduras e legumes fresquinhos, saborosos e sem o uso de agrotóxicos. Bolos isentos de gordura saturada e massas feitas com farinha integral. Nos últimos anos, os alimentos orgânicos ganharam destaque nas prateleiras de supermercados e na mesa dos consumidores. O mercado tem um crescimento robusto – cerca de 20% ao ano, e oferece artigos cada vez mais sofisticados, como azeite extravirgem, livres de aditivos químicos. A expansão do consumo, no entanto, esbarra nos preços elevados de tais artigos.

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    No supermercado Pão de Açúcar, o pacote de 1 quilo de arroz paboilizado da marca Qualitá custa R$ 1,79. A mesma quantidade do cereal na versão orgânica da marca Camil sai a R$ 6,10. Uma diferença de 240%. No supermercado Zona Sul, a disparidade também assusta. O bolo de laranja orgânico da marca Rudá é vendido a R$ 9,95. O bolo tradicional, no mesmo sabor, é oferecido a R$ 4,99. Praticamente o dobro. Em simulação de compras feita no Pão de Açúcar, a diferença entre um carrinho preenchido exclusivamente com gêneros orgânicos e outro com artigos similares, mas feitos da maneira tradicional, foi de 300%. No Zona Sul, panorama é o mesmo: o gasto com o carrinho convencional foi de R$ 81,89, e o orgânico, R$ 196,00. Um custo proibitivo para consumidores fora das classes A e B.

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    Produtores e redes de supermercado justificam os preços salgados com uma série de explicações. A diferença começa nas fazendas, que precisam obedecer a regras de manejo e uso sustentável da água e do solo. Além do banimento de defensivos, devem preservar áreas de vegetação nativa em seu torno. Os agricultores também não podem produzir hortaliças fora de sua época normal, o que implicaria no uso de aditivos químicos.

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    Sem o uso de fertilizantes, a planta demora mais tempo para atingir a fase madura. Esse processo faz com que ela fique mais nutritiva e saborosa, mas aumenta os gastos com manutenção da horta. “Com o uso dos fertilizantes, é possível fazer seis colheitas de alface por ano. Numa plantação orgânica, conseguimos apenas quatro”, conta Dick Thompson, dono da empresa Sítio do Moinho. Pioneiro no assunto, o empresário entrou no mercado no início da onda ecológica, em 1989. Hoje, possui uma fazenda com 30 hectares na região serrana e vende 45 tipos de artigos, entre pães, bolos e cereais, em sua loja, no bairro do Leblon.

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    Produzidos em escala muito menor do que os alimentos normais, os gêneros sem agrotóxico precisam ainda de vistoria regular de empresas certificadoras para conseguirem o selo orgânico. Entre as autorizadas pelo governo estão a Ecocert e o Instituo Biodinâmico, que acompanham todas as etapas dos fornecedores até o produto chegar às gôndolas. A quantidade pequena de empresas fiscalizadoras é apontada como outro gargalo.

    Em dezembro de 2010, o Ministério da Agricultura criou regras mais rígidas para o setor e parte das certificadoras não atenderam as exigências mínimas. O empresário gaúcho Roberto Salet, da Ecobio, acredita que o mercado precisa de mais concorrência. “A mesma indústria que processa a comida convencional vende o orgânico. Estão entrando no setor com preços elevados e visando o lucro imediato”. Roberto abastece os supermercados cariocas com cerca de quarenta tipos de alimento, de farinhas a milho para pipoca e trigo. Ele reclama ainda do preço do frete. “Cobram 30% a mais se a entrega for para o Rio. As transportadoras argumentam que passam por áreas violentas, como a Linha Vermelha”.

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    O consumidor tem motivos de sobra para procurar alimentos livres de pesticidas e aditivos químicos. Desde 2008, o Brasil é o país que mais importa agrotóxicos no mundo. Se usados de forma segura e obedecendo a critérios técnicos, podem aumentar a produção sem causar danos à saúde. Mas, o uso parece estar fora de controle e a fiscalização, falha. A importação aumentou 20% em uma década e o país gastou 6,6 bilhões de dólares com a compra de aditivos químicos em 2009. Esse ano, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), decidiu restringir a comercialização de três produtos químicos utilizados no campo. Banido em 75 países, esses pesticidas entraram na lista de agrotóxicos severamente perigosos e seu uso está relacionado a casos de câncer, alterações no sistema imunológico e reprodutivo.

    Os orgânicos certificados se apresentam como uma opção segura e mais nutritiva. “Um brócolis com fertilizante é colhido em 60 dias. Numa fazenda orgânica, demora 90 dias. Esse tempo resulta numa acumulação maior de nutrientes”, afirma a nutricionista Adriana Bassout. As hortaliças também ficam mais saborosas devido ao aumento na concentração de vitaminas e sais minerais. Mas, enquanto os preços continuarem elevados, apenas quem puder pagar pela diferença terá acesso a tais benefícios.

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