‘Vou entrar em sinagogas e matar todos’, ameaça hacker em reza virtual
A cerimônia da Associação Religiosa Israelita no domingo (22) homenageava a ex-diretora da Escola Eliezer Max, Dora Fraifeld, falecida na última semana
Em meio ao aumento de casos de antissemitismo no país, em razão da pandemia do novo coronavírus, conforme relatório divulgado pela ONG Safernet em 2020 (apenas em maio do ano passado foram criadas 204 novas páginas de conteúdo neonazista no país), chamou atenção um alarmante episódio ocorrido na noite deste domingo (22) no Rio.
Durante uma homenagem virtual realizada pela tradicional escola judaica Eliezer Max, com câmpus em Laranjeiras e em Ipanema, à ex-diretora Dora Fraifeld, falecida na última semana, hackers com perfis nazistas invadiram o link do evento.
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À ocasião, a instituição fazia uma reza em parceria com a Associação Religiosa Israelita (ARI), localizada em Botafogo, quando os integrantes foram surpreendidos com mensagens de ódio: “vou entrar em sinagogas e matar todos” (veja mais ofensas abaixo), acompanhadas de imagem do ditador alemão Adolf Hitler (1889-1945), da suástica, de soldados alemães e de pessoas fazendo sexo.
“Foi assustador”, resumiu um dos presentes no evento, com transmissão pela ferramenta Google Meet, normalmente usada pela escola, mas que desta vez teve link divulgado pelas redes sociais, o que facilitou o acesso aos invasores.
Apesar do susto inicial, a reunião foi encerrada e outro link foi criado. Em nota, a Eliezer Max afirmou estar tomando providências. “O fato está sendo comunicado à polícia com o apoio da equipe de segurança da FIERJ e da empresa que nos assessora nos assuntos relacionados à utilização das ferramentas Google, visando ampliar sempre as condições de segurança que têm garantido a regularidade de nossas ações nesses últimos anos em que novos recursos tecnológicos têm sido empregados nas aulas, reuniões e eventos escolares”, diz um trecho do comunicado.
Nesta segunda (23) o relator da CPI da Intolerância Religiosa, na Alerj, deputado Átila Nunes (MDB) informou que vai pedir que a Decradi – delegacia especializada nesse tipo de crime – investigue a fundo esse ataque promovido por grupo antissemita. Dados do ISP mostram que o estado do Rio registrou, em média, três casos de intolerância religiosa por dia. Em 2020, foram 1 300 registros ao todo. Nesta terça (24), o vereadores votam, em segunda e última discussão, a criação do Conselho Municipal de Defesa e Promoção da Liberdade Religiosa. O objetivo da proposta de Nunes é ajudar na formulação de políticas públicas para conter o avanço da discriminação religiosa e dar assistência às vítimas.
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À parte a intolerância religiosa, inadmissível e que fere os direitos fundamentais, a queixa acerca do ocorrido torna-se ainda mais necessária em um cenário nacional em que os episódios de antissemitismo estão sete vezes maiores do que o número registrado em 2018, segundo a análise da Safernet, que promove direitos humanos nas redes sociais e monitora sites radicais.
Outra pesquisa da Anti-Defamation League (ADL), em nível global, com 1 000 pessoas entrevistadas no país, apontou que a porcentagem de brasileiros que nutrem algum sentimento antijudaico saltou de 19% em 2019 para 26% no ano passado. Um lamentável panorama que deve ser combalido.
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