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Empreendendorismo: por que devemos valorizar negócios tocados por mulheres

Cansadas da desigualdade de gênero no trabalho formal, elas foram à luta e já respondem por um terço dos donos de negócios no Rio

Por Luiza Maia
Atualizado em 9 mar 2021, 19h23 - Publicado em 9 mar 2021, 19h00

Lugar da mulher é onde ela quiser. E, a julgar por um estudo divulgado pelo Sebrae, pelo menos no que diz respeito ao trabalho, elas querem estar à frente de seus próprios negócios – e vêm conseguindo. O levantamento foi feito com dados do IBGE e mostra que 8,6 milhões de mulheres estão à frente de sua própria iniciativa no país. Isto representa um terço (33,6%) dos donos de negócio no Brasil.

No Rio, o panorama é parecido: entre 1,9 milhão de empreendedores, 37% (cerca de 722 000) são negócios formados por mulheres e 33% desses são formalizados. O levantamento aponta que entre as empreendedoras do estado, mais da metade (52%) tem até 44 anos, 34% possui ensino superior e em relação ao faturamento e a maior parte ainda ainda possui um rendimento de até um salário mínimo (59%).

O ponto de partida delas no empreendendorismo varia: algumas, porque estão cansadas da desigualdade de gênero e da disparidade salarial no mercado de trabalho formal, outras se lançam do zero, para encontrarem novas formas de atingirem suas metas. Os desafios do trabalho solo abrem as portas para que mulheres se unam a outros grupos diversos de apoio. Desde o inicio elas perceberam que, com ajuda mútua, todas crescem. 

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“Esse enorme potencial feminino é atravessado por muitos desafios, como a alta informalidade de empresas em setores de menor valor agregado. Como consequência temos mais da metade faturando até um salário mínimo. São empreendedoras por necessidade que, por fatores como falta de suporte nas tarefas domésticas, estão menos tempo à frente de seus negócios e acabam auferindo um faturamento menor do que os empreendedores homens”, explica Carla Teixeira Panisset, coordenadora da Comunidade Sebrae Rio.

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Além de líderes de seus empreendimentos, elas representam a maioria entre os chefes de domicílio (52%), ou seja, são figuras principais no sustento da casa e geralmente as responsáveis pela criação dos filhos – por isso enfrentam múltiplas jornadas.

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“Como mãe solo, me facilita trabalhar em casa e estar mais perto do meu filho. Mas as funções domésticas muitas vezes se sobrepõem e é necessária muita disciplina para isso não engolir o lado profissional”, afirma a artista visual Dani Ramalho, dona da marca DaRa. Formada na área de comunicação, desde 2004 ela investe em seu trabalho autoral, produzindo de arte urbana a peças decorativas artesanais e sustentáveis.

Mulher segurando decoração
Dani Ramalho: a artista conta que no início do seu negócio ela até mesma ia para as areias de Ipanema vender suas peças (Divulgação/Divulgação)

Apesar de ter um negócio por conta própria, como grande parte das empreendedoras no país, Dani conta com uma rede maior que abraça outras produtoras independentes para divulgar o seu trabalho, a feira O Mercado. Com o objetivo de promover um comércio justo e local, impulsionando os pequenos negócios, a iniciativa foi criada em 2010 e até 2019 realizou 63 edições com mais de 2 000 marcas.

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Em 2020, a feira ganhou um espaço físico que reúne 30 produtores, a Casa O Mercado, localizada na charmosa Vila do Largo, no bairro Largo do Machado, zona central do Rio. “Temos uma equipe totalmente feminina e 98% das marcas expositoras são lideradas por elas. Nunca focamos apenas nas mulheres, mas acabamos abraçando aquelas que criam seus negócios como alternativa para criar os filhos, além de ter maior reconhecimento, uma renda decente, e trabalhar num meio mais acolhedor”, diz Clarissa Muniz, idealizadora d’O Mercado junto a Je Muniz, ambas também criadoras de suas marcas autorais.

Duas mulheres posam na foto, uma sentada com braços cruzados e outra em pé
Je e Clarissa Muniz: ambas filhas de costureiras e com sobrenome em comum, as empreendedoras são responsáveis da curadoria à criação de conteúdo d’O Mercado (Divulgação/Divulgação)

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A carioca Daphne, dona da Aurora e expositora da plataforma, conta que além de readaptar a forma de vender sua produção, ela precisou antes repensar a sua marca como um todo. Apaixonada pelos blocos de rua do Rio, a jovem de 26 anos criava peças de roupa coloridas e alegres para o carnaval, mas precisou mudar o foco quando percebeu que não haveria folia em 2021. “Não é fácil mudar completamente o rumo das coisas. Mas agindo sempre de forma muito aberta com as clientes, elas entendem nossos desafios e vêm junto, inclusive comprando virtualmente”, afirma.

Cinco meninas usando biquini estão sentadas à beira da piscina
Daphne: a jovem formada em moda sempre criou suas próprias fantasias de carnaval, o que a motivou a produzir peças para outras pessoas (Divulgação/Divulgação)

Divulgar os produtos por meio de uma vitrine virtual também foi uma das formas pela qual outra rede de apoio a mulheres empreendedoras, a Colmeia de Mulheres, apostou durante a quarentena após o cancelamento das feiras presenciais, que só retornaram no final de 2020. O coletivo, que surgiu em 2015 a partir de um grupo do facebook, foi criado para unir empreendedoras de uma forma colaborativa, solidária e focada na sustentabilidade, com a realização mensal de uma feira na Praça Luiz de Camões, no bairro da Glória.

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“Esse período foi o momento de nós dizermos umas pras outras o quanto o nosso trabalho importa e incentivar a continuidade da produção, mesmo com um ritmo menor e com mais dificuldades. E ver mulheres seguindo em frente com seus trabalhos deu uma grande motivação pra mim”, diz a artesã Lyvia Leite, que produz adereços com elementos naturais para sua marca Acanirim e participa do coletivo desde 2019.

Barracas de feira
Feira Colmeia de Mulheres: trazendo diversas expositoras, o evento de ecoempreendedorismo feminino busca promover a sustentabilidade e a economia solidária (Maíra Suarez Fotografia/Divulgação)

O apoio a empreendedoras na pandemia foi e ainda é um esforço para que muitas não se prejudiquem ainda mais com a crise, afinal, os números apontaram uma queda de 1,3 milhão no número de mulheres donas de seus negócios em relação a 2019. Os laços que muitas empreendedoras cariocas criam em parceria são uma motivação não só para enfrentar os desafios, como para motivar novos objetivos profissionais, como afirma Roberta Damasco, que faz peças de crochê para a Natural de Damasco desde 2018.

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Na pandemia, ela encontrou apoio em um público feminino também interessado em aprender o crochê, e assim desenvolveu o Workshop de CrochêTerapia, onde soma também seu trabalho como contadora de histórias. “Esse trabalho me deu fôlego na quarentena para expandir a marca, que hoje conta com um quiosque de vendas em parceria com artesãs onde eu moro, na Ilha do Governador. Como mulher e mãe solo, na sororidade feminina eu encontro apoio e descubro infinitas possibilidades”, diz.

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Neste cenário, as mulheres e suas iniciativas, além de encontrarem apoio em outras empreendedoras, conseguem atrair um público que preza por produtos com uma mão de obra e uma ética justa e sustentável. A estilista Marcella Chagas, 24 anos, conta que tem dado preferência ao consumo de pequenos produtores, principalmente mulheres e mães solos, e que essa escolha se intensificou com a pandemia. “Não só pelo apoio às vendas, como também pela facilidade na comunicação e nas entregas que as pequenas empresas conseguem oferecer. Este ano será a segunda páscoa que eu vou consumir chocolate de uma empreendedora local e eu acredito na importância de incentivar a economia local a girar”, afirma.

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