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Por Marcelo Copello, jornalista e especialista em vinhos
Marcelo Copello dá dicas sobre vinhos
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E Deus criou a tampa de rosca

Um texto que escrevi há alguns anos enquanto estava longas horas insone dentro de um avião voltando da Austrália

Por Marcelo Copello Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 29 set 2021, 13h15 - Publicado em 28 set 2021, 13h14

“A ambição me leva a ir não só mais longe do que qualquer outro homem antes de mim já foi, mas até tão longe quanto creio ser possível a um homem ir” – Do diário do capitão James Cook*.

A Austrália é um país distante, imenso e pouco habitado. Produz ótimos vinhos e guarda muitos segredos. Fiz uma longa viagem por lá. Visitei todas as regiões importantes no cultivo da vinha, fui a lugares ermos e conversei com os personagens curiosos, além de provar centenas de vinhos.

O que me motivou a esta aventura foi a leitura do diário do Capitão Cook*, da marinha inglesa, que em 1770 descobriu a Austrália. Cook menciona o vinho em vários trechos de seu relato. Segundo ele, o nobre fermentado já era produzido lá muitos séculos antes da chegada dos europeus. De seu convívio com os povos locais, o inglês relatou várias lendas como a de que o aborígene Wino-Wino** teria inventado o vinho. Cook conta também ter provado um vinho quase mágico feito a partir da vinha mais velha do planeta, com 10 mil anos de idade.

Segundo ele “esta planta guarda em sua memória toda a história da humanidade. Seu caule é tão grosso que são necessários 10 homens para abraçá-lo. Suas raízes tão profundas que as ramificações chegam a todos os cantos do planeta, passando pelo centro da terra e trazendo na seiva uma síntese gustativa de todos os terroirs do mundo. Esta magnífica planta frutifica uma única vez a cada século e gera uvas suficientes para a produção de apenas 375ml de vinho, envasado e arrolhado em pequenas garrafas de vidro opaco.”

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Foi atrás desta preciosíssima demi-bouteille que encarei mais de 20 horas de avião rumo a “the land down under”. As palavras de Cook não saíam de minha mente: “Este néctar sagrado tem o poder de dar a vida eterna. Ilumina os pensamentos com grande sabedoria, mas também causa tal estado de êxtase que pode levar-te à loucura. Sua cor profunda guarda um sabor rijo, porém amistoso, e a riqueza dos aromas da terra e de todos seus frutos e especiarias. Saberás quando o encontrou quando ouvirdes música divina ao prová-lo. Bebê-lo é conversar com Deus. Procurar suas raras garrafas uma busca solene e incessante.”

Para encurtar a história e matar sua curiosidade, digo logo: achei a tal garrafa no free shop de Sydney! Custou absurdamente caro, mas parcelei no cartão e não me preocupei, já que teria a vida eterna para pagar.

Com grande emoção saquei a rolha e provei o vinho… que decepção! Estava bouchonné!

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É por isso que a versão australiana da Bíblia diz: “e no 8º dia, Deus criou a screw cap***”.

*Esta obra é pura ficção. James Cook (27 de Outubro, 1728 – 14 de Fevereiro, 1779) realmente escreveu um diário, mas que eu jamais li.

** É comum a repetição de vocábulos nos idiomas aborígenes da Austrália. E também é comum que os australianos em geral, como gíria, encurtem as palavras colocando a terminação “o”, deste modo “president” vira “preso”. Bem que no Brasil poderia virar mesmo…

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***tampa de rosca

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