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Psiquiatra infantil
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O preconceito que ronda as crianças infectadas com Covid-19

Histeria gerada pelos pais ao primeiro sintoma em nada ajuda (e só atrapalha)

Por Fabio Barbirato
Atualizado em 29 abr 2021, 13h10 - Publicado em 29 abr 2021, 10h46

A Covid-19 surgiu há um ano como a doença que atingia violentamente os mais idosos. Com o passar dos meses, a idade das vítimas foi caindo. Hoje, com os mais velhos imunizados, o vírus e suas variantes circulam com força entre quem tem 30 e 60 anos e debilita fortemente os jovens com mais de 20 anos, resistentes às regras de distanciamento, pulando de balada em balada.

No entanto, as crianças não ficaram de fora. Neste um ano de pandemia, mais de 11 mil pacientes de 0 a 10 anos foram internados, sendo que mais de 8 mil delas eram crianças de 0 a 5 anos. Destes, mais de 779 crianças com até 12 anos morreram de Covid-19 no Brasil, de acordo com o DataSUS. Pouco mais de 600 crianças tinham entre 0 e 5 anos e 420 eram bebês com até 1 ano. Apesar de muito triste, já que cada vida importa, são números baixos perto do universo de crianças que existem no Brasil. Segundo o IBGE, temos cerca de 35 milhões de crianças até 12 anos no país, portanto menos de 0,01% foram vítimas de Covid.

Ainda assim, o fato é que se tornou rotineiro ouvir relato de pais preocupados com o estigma que cercam crianças contaminadas com Covid-19, tanto da parte de outros pais como das próprias crianças. Basta alguém informar que o filho está com Covid-19 em um grupo de pais que o reboliço está formado. E o que é mais grave: cheio de preconceitos e desinformação. Diante do apavoramento, pais de coleguinhas adotam medidas claramente desproporcionais, como distanciamento exagerado e isolamento absoluto da criança. O resultado pode ser um grave dano à saúde mental, em um momento em que as crianças já estão privadas de tantas coisas e tão comprometidas psicologicamente.

O estigma que ronda doenças não é uma novidade. Foi assim com a lepra, quando não havia tratamento e os doentes eram excluídos em leprosários. Depois, foi com os primeiros portadores de HIV, quando ainda se pensava que um abraço ou o compartilhamento de talheres pudesse transmitir o que chegou a ser chamado de “câncer gay”. Agora vemos o comportamento se repetir com os contaminados de Covid. A situação é ainda mais perversa quando se trata de uma criança e seu pouco arcabouço emocional para se defender do olhar discriminatório. Basta uma criança não ir mais às aulas por apresentar um dos sintomas de Covid, antes mesmo de qualquer diagnóstico, que se cria uma histeria no grupo de pais, que nada soma e em muito atrapalha. Há muitos lugares onde se pode pegar Covid-19, porém, um dos mais ambientes mais seguros para as crianças é a escola – não apenas pelo aprendizado formal, mas também por seu caráter de convívio social. Tanto é assim que a própria Sociedade Brasileira de Pediatria indicou o retorno às aulas.

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Ninguém é irresponsável. Sabemos dos riscos e dos danos que essa doença terrível causa. As medidas sanitárias são conhecidas de todos: lavar as mãos e usar máscaras reduzem significativamente as chances de contágio. Prevenir é uma coisa, mas excluir socialmente é outra. Exclusão não causa prevenção. Exclusão, fruto da ignorância e do preconceito, causa depressão, isolamento e ansiedade.

Fabio Barbirato é psiquiatra pela ABP/CFM  e responsável pelo Setor de Psiquiatria Infantil do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na Pós Graduação em Medicina e Psicologia da PUC-Rio. É autor dos livros “A mente do seu filho” e “O menino que nunca sorriu & outras histórias”. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).

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