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Por Cristiana Beltrão, restauratrice e pesquisadora de gastronomia e alimentação
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Caem as máscaras

Novos comportamentos e desconfortos na reabertura dos restaurantes

Por Cristiana Beltrão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 17 jul 2020, 07h39 - Publicado em 16 jul 2020, 17h48

Vimos em Paris, Atenas, Londres e também no Rio. A turba equivocada e aglomerada na reabertura dos restaurantes não é privilégio nosso e existe em qualquer capital do mundo. É gente que se acha invencível, é o distraído que segue a manada ou o inconsequente que está há tanto tempo confinado que decidiu se presentear com um dia de roleta russa e insanidade temporária. Para o nosso desespero, o comportamento é tão indesculpável quanto recorrente.

A adaptação não será fácil para nenhum de nós, mas é especialmente delicada para quem tem de interagir com o cliente que não cumpre a regra.

Eu já vi esse filme. Foi assim com a proibição de fumantes dentro de lugares fechados. De um lado, alguém peitava o decreto em meio a baforadas beligerantes. Do outro, recados desaforados eram encaminhados à equipe, junto com pedidos pra mudar de lugar. No meio do caminho, tinha o garçom, tentando garantir a paz.

A máscara é o novo cigarro.

Desde o início da pandemia, aquele planeta explodiu e está sendo reinventado, sabe-se lá por quanto tempo. Agora, é a Terra 2.0 e nossas definições de civilidade foram atualizadas. Tenho conversado com equipes de restaurantes das zonas Norte, Sul e Oeste do Rio e todos se queixam dos mesmos problemas:

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– Mas de quê adianta essa pistola na minha testa? Vou ali em casa e tomo um antitérmico! E mais!!! Posso ser assintomático e esse termômetro medindo minha temperatura não vai resolver coisa nenhuma”, diz um cliente, irritado.

É como dizer que nada adianta a fiscalização eletrônica de velocidade, já que você pode andar a 250km/hora logo adiante. Claro que não adianta, mas minimiza o estrago naquele ponto. É claro que o termômetro em si não resolve, bem como pouco adianta distribuir álcool gel pelas mesas ou respeitar a distância segura, mas tudo junto – ‘vamos combinar’ – ajuda um bocado.

Qualquer país civilizado louvaria todo esforço individual em prol da saúde coletiva, mas nessa migração interplanetária vai ter gente indignada e agressiva, reagindo às mudanças e exaurindo quem quer ajudar.

Até a vacina, e não adianta fantasiar, recepcionistas morrerão de medo de clientes sem máscaras, especialmente os que entram seguros, marchando e sorrindo:

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– Fique tranquilo! Eu já tive Covid!

Ora essa, minha gente!… Infelizmente, a ‘informação privilegiada’ que habita a sua testa não é compartilhada com o resto do restaurante. Além do mais, ninguém lhe conhece. Esse comportamento só serve para estragar a refeição da clientela assustada que desvia o foco para os perdigotos voadores disparados na direção da vítima. E o pobre do funcionário, com malabarismo profissional, só quer garantir o emprego, a saúde e a calma dos clientes, sem precisar gastar saliva explicando o óbvio.

Vale lembrar que garçom também tem medo. Não custa nada colocar sua máscara quando fizer seu pedido. O cuidado será retribuído com um sorriso, e não com três discretos passos para trás.

Circular pelo salão sem máscara (para ir ao banheiro, cumprimentar um amigo, sei lá…), é mais feio que enfiar o dedo no nariz em público. As pessoas estão apreensivas, inseguras. Não interessa se o cliente se acha saudável, se fez um teste pela manhã ou se já está imune. Não se faz.

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Ficamos enjaulados por muito tempo e estamos experimentando nossa liberdade aos poucos, cada um a seu tempo. Os códigos ainda estão sendo costurados, mas naquele antigo mundo ou neste, civilidade não é verbo que se conjuga no singular. É hora de respeitar os medos alheios e cuidarmos uns dos outros.

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