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Chico Buarque, Ney Matogrosso e outros nomes da música revelam histórias de censura em livro

Mordaça, de João Pimentel e Zé McGill, traz depoimentos sobre proibições dos militares na ditadura e tem lançamento terça (14) na Travessa do Leblon

Por Kamille Viola
Atualizado em 13 dez 2021, 17h42 - Publicado em 13 dez 2021, 17h21

Em 18 de dezembro de 1968, cinco dias após o decreto do Ato Institucional Número Cinco, Chico Buarque ainda estava na cama com Marieta Severo, com quem era casado, quando um grupo de policiais armados apareceu em sua casa. Foi levado para o Departamento de Ordem Política e Social (Dops) e, de lá, para um quartel do exército, onde, em um interrogatório, um militar fazia as vezes de “policial bom” e o outro, de “policial mau”. O episódio é um dos contados no livro Mordaça — Histórias de Música e Censura em Tempos Autoritários (Sonora Editora), que João Pimentel e Zé McGill lançam nesta terça (14), às 19h, na Livraria da Travessa do Shopping Leblon.

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São ao todo 29 depoimentos, de nomes como Alceu Valença, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Ney Matogrosso, entre outros. Na publicação, Chico lembrou músicas suas que foram censuradas, além do período de exílio que passou em Roma, entre 1969 e 1970. Ao voltar, compôs Apesar de Você, que se tornou um dos hinos contra a ditadura militar no Brasil.  O compacto logo alcançou 100 mil cópias vendidas. A censura havia liberado a faixa sem se dar conta de que não era uma canção de amor, e sim sobre a ditatura. Mas um jornal carioca publicou que o “você” era o então presidente, Emílio Médici. Os militares, então, invadiram a fábrica da gravadora Philips e recolheram e destruíram todas as cópias do disco. Felizmente, a matriz da gravação não foi encontrada por eles.

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O cantor e compositor contou que, depois que a música foi proibida, passou a ter problemas, já que os militares se sentiam enganados por ele, que havia driblado a censura. “Virou uma coisa pessoal. Fui chamado para aqueles interrogatórios e, olha, se foram cinquenta vezes, não é exagero meu. Um dos principais motivos era Apesar de Você. Os militares me perguntavam: ‘O que você pretendia com essa letra?’. Era uma espécie de vingancinha, já que aquilo foi como se eu tivesse burlado o esquema deles”, explica o cantor e compositor no livro.

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Ney Matogrosso lembrou de quando foi preso no fim dos anos 60, no Rio, por “vadiagem”, e que a ditadura chegou a designar uma censora para acompanhar todos os shows do Secos & Molhados durante a curta carreira do grupo, que tinha Ney como vocalista. A banda teve diversas canções censuradas, entre elas uma versão musicada do poema Vou-me Embora pra Pasárgada, de Manuel Bandeira.

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Compositor rarefeito, Ney incomodava por seus figurinos e postura no palco, já que jamais escondeu sua orientação sexual. Os censores implicavam até com o olhar do artista, que mirava a plateia e a câmera de frente. Ele também teve capas de álbuns de sua carreira solo censuradas e chegou a ser impedido de se apresentar em Brasília por dois anos. “Era uma paranoia total! Então, a gente mandava as músicas e não sabia se elas poderiam voltar com o carimbo de ‘vetada'”, recorda o cantor.

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Livraria da Travessa. Shopping Leblon. Avenida Afrânio de Melo Franco, 290, loja 205 A, Leblon. Ter. (14), 19h.

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