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‘Formas diferentes de ostentar’: pesquisadora analisa barracos no Rio e SP

'Aqui, a afronta são corpos de biquíni numa gozolândia ostentatória que incomoda a 'cidadã de bem; lá, é uma cafonália sem fim', escreveu Ivana Bentes

Por Cleo Guimarães
Atualizado em 28 set 2020, 12h30 - Publicado em 28 set 2020, 12h20

Professora e pesquisadora da UFRJ na área de Comunicação e Cultura, Ivana Bentes fez uma análise dos dois barracos que movimentaram as redes sociais no fim de semanaa briga no Leblon que começou quando uma arquiteta se sentiu incomodada com a presença de mulheres de biquíni num carro conversível; e, em São Paulo a carteirada dada por um médico (e irmão de um conhecido empresário) ao ter uma mesa negada no Gero (o restaurante ia fechar em minutos). Leia abaixo o texto publicado por Ivana no Facebook:

Barraco no Leblon: envolvidos podem ter cometido seis crimes

“Barraco Brasil! Eu queria escrever um textão sobre as elites e a classe média alta do nosso Brasil, mas por hora o que mais me impressiona nos dois casos que animaram nosso confinamento (passe o dedo e veja os vídeos) é a diferença entre as formas de ostentação e de exibição dos personagens: os “barracos” do Rio e de São Paulo.

No Gero paulista “azelites” disputam “quem tem mais berço”, quem “tem CRM”, quem é filho de médico, quem tem delegado particular, quem conhece o cara da Polícia Federal, quem tem “educação americana, europeia”, quem vai “pegar a plaquinha da sua Mercedes”.

_ uma cafonália sem fim e delírio de onipotência e de poder econômico, o “sabe com quem você está falando” de ricos e classe média com problemas de ego _ O corinho pelo CRM, CRM, CRM é o auge da cena, além do “bercismo” de todos e o depoimento final. “Eu tenho berçooooooooo” é o grito retrógado de uma elite que acha que está na corte.

Pausa Dramática. A confusão parece ter começado por que “o irmão do dono do Rubaiyat” outro restaurante pra quem ter “berçooooo” faz escândalo ao não ser atendido. O rico e a classe média esperam serviçais ao seu dispor em qualquer situação. Na cena, vale destacar a elegante loura que continua tomando seu vinho, como se nada!

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Corta para o Rio. Aqui, a afronta são os corpos de biquíni numa gozolândia ostentatória que incomoda a “cidadã de bem” que joga uma garrafa de água na desinibida do Leblon.

Eu tenho minhas simpatias pelas moças do conversível, que estariam em um filme de Fellini, “A Doce Vida Pandêmica” . Aliás, absurdo um homem puxar o biquíni da moça no final e os xingamentos misóginos. Fariam o mesmo se fosse um homem de sunga, geralmente com sonzão nas alturas, como vemos frequentemente? Duvido!

Nas duas cenas não se vê ninguém com máscaras! Só os garçons, claro!

O que me interessa é que com a cultura digital a gente vai vendo a cara das “elites” econômicas (“o que comem, onde vivem, como se reproduzem” e como se comportam) e não só as imagens dos pobres que sempre estiveram expostos por todos os meios.

Falta um Fellini , um jornalista, um documentarista pra mostrar que “está cada vez mais down no high-society”, como cantava Elis Regina, fazer a crônica dos ricos do Brasil! As redes sociais servem pra isso!

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Fora isso, viva o Rio ! : ) Porque se for pra ter barraco e baixaria que seja com a popozuda felliniana sambando na cara da sociedade de bem da Dias Ferreira.

P.S. Essa balançada de tetas final da moça do Leblon me conquistou! Depois de séculos de homens balançando suas genitálias! Achei tendência!”

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