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Quarentena, comportamento e verão: a história que um corpo conta

A pandemia mudou mesmo a relação do carioca com o corpo?

Por Marcelle Fernandes*
14 jan 2021, 11h00
A imagem mostra a sombra de uma pessoa em frente ao mar, de ponta-cabeça, fazendo posição de ioga
Pandemia: a relação com o corpo mudou? (Dana Tentis/Pixabay/Reprodução)
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Todo ano é a mesma coisa no Rio de Janeiro: chega o verão e, com ele, além dos 40 graus e das chuvas torrenciais, chegam também as questões estéticas, preocupações com dietas e exercícios físicos. Mas este ano, com a mudança de hábitos devido ao isolamento social que estamos enfrentando, será que novos comportamentos também são observados na relação dos cariocas com seus corpos? A pandemia arrefeceu ou intensificou a preocupação com a utópica forma perfeita do verão?

Mesmo diante de tantas mudanças, os moradores do Rio ainda buscam o enquadramento estético imediato para o verão, explica o professor de educação física Philip Lawrence Barros Smith. “Praticamente todos os alunos buscam redução de gordura corporal e aumento de massa muscular, visando o período de férias, praia e carnaval. Geralmente as mulheres procuram mais a redução de gordura corporal enquanto homens procuram os dois”.

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A nutricionista especializada em comportamento alimentar Thamiris Jacob conta que se assusta com a autocobrança das pessoas em relação à alimentação neste período de quarentena. Ela enfatiza que não deve haver uma grande permissividade, porém compreende o momento atípico, a perda de muitos entes queridos, o isolamento e a necessidade de se reinventar – o que torna a comida mais presente, e isso é uma forma de regulação. Como profissional, ela orienta os seus pacientes nesse sentido e mostra que a comida pode ser uma aliada, não necessariamente uma vilã. Alimentos recreativos aliados a uma alimentação saudável é ótimo e faz muito bem, afirma.

“Como profissional de nutrição, eu me assusto muito vendo como as pessoas se cobram demais em relação à alimentação neste período de quarentena. Não acho que seja algo como ‘só porque está acontecendo isso, eu simplesmente posso ser permissivo e comer o que eu quiser’. Não, não é isso. Mas, realmente, o fato é que estamos em um momento que nunca vivemos, muitas pessoas morreram, ficamos isolados, não tinha o que fazer, só ficamos em casa. Então, nós precisamos nos reinventar, ou seja, é óbvio que a comida estaria mais presente e seria uma forma de regular”, diz Thamiris, ressaltando que muita gente se sente culpada pelo ganho de peso, sobretudo no verão, e precisa de apoio psicológico para entender o que está acontecendo.

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Lorena Oda, estudante de 22 anos, conta que engordou na quarentena e conseguiu manter por um período de tempo a boa relação com o próprio corpo, porém as inseguranças afloram, caso ela se encontre com outras pessoas.

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“Por questões pessoais, em maio e abril eu engordei muito, mas, mesmo assim, a minha relação com o meu corpo estava razoavelmente boa. Eu vejo o meu corpo de uma maneira boa, só que o ruim vem com o que eu acho que os outros pensam. Então, com o isolamento social, independentemente se eu engordo ou se emagreço, eu me sinto melhor estando em casa sozinha do que na rua”.

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Em relação aos procedimentos estéticos, algumas mulheres começaram a enxergar de modo diferente as mudanças do próprio corpo. A estudante de 20 anos Isabelle Portela conta que parou de alisar o cabelo e começou a hidratá-lo em casa, o que acabou sendo benéfico, porque compreendeu que prefere seu cabelo natural. Se fosse fazer algo a partir de agora, apenas pintaria. Mas certas inseguranças permanecem:

“Parei de pintar e alisar o cabelo para hidratar em casa, e isso acabou sendo bom porque entendi que prefiro o meu cabelo ondulado. Mas tem a autoestima… Se estou com o cabelo bonito eu já fico 90% ok. Se o cabelo não está feito, isso me afeta bastante”.

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Marcelle Fernandes*, estudante de comunicação, sob supervisão dos professores da universidade e revisão de Veja Rio

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