Sin City: a Dama Fatal impressiona pela fotografia
Atmosfera sombria não salva roteiro sem o vigor e o impacto da fita original
A atmosfera da cidade segue sombria, como num antigo filme noir. Os personagens, corruptos incorrigíveis, continuam sedentos por vingança. Nada mudou também no visual desses contos dark, tingidos num preto e branco digital que faz arder os olhos. São numerosas as semelhanças entre Sin City: a Dama Fatal e o ótimo Sin City: a Cidade do Pecado, de 2005. Um abismo criativo, contudo, distancia os dois longas, dirigidos por Robert Rodriguez e pelo autor de quadrinhos Frank Miller. Se o original usou avanços tecnológicos a serviço da ideia de encenar radicalmente uma HQ para adultos, o novo capítulo abandona esse vigor provocativo e investe num repeteco dos mais desbotados. Falta, acima de tudo, um roteiro capaz de dar forma cinematográfica às ousadias do universo de Miller, um expert em tramas movidas por maldade, violência e (alguma) culpa. Embora a embalagem, agora turbinada pelo 3D, deixe o espectador boquiaberto, não há truque gráfico capaz de animar histórias tão frouxas. Nos primeiros dos quatro segmentos, narrados em idas e vindas à maneira de Quentin Tarantino, o truculento Marv (Mickey Rourke) se dá conta de que está cada vez mais desmemoriado enquanto enfrenta uma gangue de arruaceiros. O enredo se torna um pouquinho mais palpitante com a entrada em cena de Johnny (Joseph Gordon Levitt), um apostador empenhado em enriquecer do dia para a noite… até cair no erro de desafiar um senador poderoso (Powers Boothe). Também condenado à desgraça, o detetive Dwight (Josh Brolin) será atraído para a teia da femme fatale Ava Lord (Eva Green), ameaçada pelo marido, um empresário sem escrúpulos. No jogo de bandidos e oportunistas, sobra até para a cantora Lady Gaga, perdidinha em uma ponta dispensável. ✪✪ Sin City: a Dama Fatal, de Frank Miller e Robert Rodriguez (Sin City: a Dame to Kill For, EUA, 2014, 102min). 18 anos. Estreou em 25/9/2014.